Barragem de Brumadinho: a procura de parentes por desaparecidos em porta de hospital de BH
Familiares dizem não ter notícias de funcionários da Mina Córrego do Feijão, cujas estruturas foram atingidas pela lama após rompimento de barragem.
Helton não tem informações de sua mulher e de sua irmã desde a hora do almoço desta sexta-feira. "Estou ansioso, querendo notícia", ele diz, sem conter as lágrimas.
As duas trabalham na cozinha da Mina Córrego do Feijão, da Vale, no município de Brumadinho, região metropolitana de Belo Horizonte (MG) - o local de trabalho delas desapareceu sob a lama após o rompimento de uma barragem da mina.
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Ao menos nove pessoas morreram e mais de 300 pessoas estão desaparecidas após o rompimento. De acordo com a Defesa Civil do Estado, até o início da noite, 17 pessoas já haviam sido resgatadas com vida.
Supervisor de embarque, Helton Adriano Pereira, de 28 anos, diz que, ao ouvir de uma tia que a lama descia sobre as estruturas da mineradora, ligou imediatamente para a mulher, mas não conseguiu encontrá-la. "O celular estava desligado."
Além de Samara Cristina dos Santos Souza, a irmã de Helton, Carla Borges Pereira, não se comunicou com ele desde então.
Sem notícias e com a rodovia que dá acesso ao local interditada, Helton e o irmão Carlos Roberto Pereira foram para a porta do hospital João XXIII, em Belo Horizonte, para onde as vítimas mais graves da tragédia seriam levadas. Nas mãos, ele carrega as carteiras de identidade das duas: Samara tem 28 anos e Carla, 35.
Medo da barragem
Irmão de Helton, o operador de máquinas Carlos Roberto conta como há três meses Carla disse que a barragem da Vale poderia romper em breve.
"Ela comentou que o Feijão não demorava a estourar. Ela trabalhava na Vale e alguém lá de dentro deve ter falado. Infelizmente, a gente não acreditou", ele disse.
Carlos também trabalha em mineração. "Sei o que é uma barragem", ele continua, emendando que é um lugar de alto risco.
Mais cedo, Marcelo Silva Godoy, de 48 anos, foi ao hospital procurar o irmão Leonardo, de 42, que também trabalha na mineradora.
"Minha esperança é que ele esteja aqui no hospital ou no tal campo de futebol que está ilhado e abrigando os funcionários. Quero acreditar que esse campo seja verdade", diz.
Assim como Helton e Carlos, desde o início da tarde Marcelo insiste nas ligações para o irmão, mas não consegue falar com ele.
Maria da Glória também tenta contato, mas com seu filho, Hebert Vilhena, de 32 anos. Ele é terceirizado e trabalha com tecnologia da informação na mineradora. "Soube que aconteceu a tragédia em Brumadinho e entrei em pânico, porque ele trabalha lá", diz a mãe, enquanto segura o celular com a foto do filho na mão.
O mesmo silêncio fez Francisco Silva ir até o hospital em busca da filha, Amanda, que faz um estágio em engenharia de produção.
"Vim aqui em busca de alguma informação", ele diz.
Francisco conta que a filha gosta de trabalhar na empresa, mas passou a demonstrar certo receio depois de Mariana. Há três anos, em novembro de 2015, outra barragem da empresa em Minas Gerais, na região de Mariana, também se rompeu, matando 19 pessoas.
"Por conta do que aconteceu em Mariana todo mundo fica... tem uma barragem lá, na mineradora, então a gente não deixa de estar preocupado. Eu não tocava no assunto, mas tinha que trabalhar, né."
Precisar trabalhar foi o que levou conhecidos e parentes de Cida, que tem uma lanchonete em Brumadinho, a percorrer os 18 km até o escritório da Vale na mina na manhã desta sexta.
Entre os desaparecidos, ela lista o marido de sua prima, uma amiga da igreja e o irmão de um funcionário.
"Muita gente no meu bairro trabalhava lá", Cida diz. "Muita mesmo."
"Minha prima está em estado de choque. Ninguém consegue notícias."
O que chega até então, Cida conta, são relatou de quem escapou com vida e narrou a parentes o momento em que a lama levou o refeitório da mineradora na hora do almoço.
Sobre os outros, diz, é preciso esperar.
"É triste, mas acho que muita gente está debaixo d'água."
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