7 a 1? Os capítulos marcantes da 'amizade desigual' entre Brasil e EUA
Em mensagem no Twitter, Trump acusou o Brasil de desvalorizar artificialmente o real frente ao dólar e anunciou tarifas sobre aço e alumínio. A medida vem depois de o governo fazer uma série de concessões sem contrapartidas aos EUA, como ampliar a importação de etanol e trigo americanos.
Isenção de visto para turistas americanos, renúncia ao tratamento diferenciado que o Brasil recebia na Organização Mundial de Comércio, aumento da importação de etanol dos EUA e permissão para que o governo americano use a base espacial brasileira em Alcântara.
Essas foram algumas das concessões que o Brasil fez aos Estados Unidos desde que o presidente Jair Bolsonaro tomou posse. São parte do que o presidente brasileiro chama de relação de amizade pessoal com o presidente Donald Trump.
Nesta segunda-feira (02/12), um anúncio de Trump feito pelo Twitter lançou dúvidas sobre se haveria uma amizade "desigual" entre presidentes.
Trump anunciou que vai restaurar tarifas sobre as importações de aço e alumínio do Brasil e da Argentina, diante da desvalorização do real e do peso frente ao dólar, o que pode gerar prejuízos bilionários para exportadores do Brasil.
"Brasil e Argentina têm promovido uma desvalorização de suas moedas, o que não é bom para nossos fazendeiros. Portanto, com efeito imediato, estou restaurando as tarifas sobre todo alumínio e aço enviados aos EUA por esses dois países", escreveu o presidente no Twitter.
Trump ainda defendeu que o Banco Central americano reduza juros, segundo ele, para evitar que países "se aproveitem do dólar" para desvalorizar suas moedas.
"O Banco Central americano também deve agir para que países, e há vários, não se aproveitem mais do nosso dólar forte para desvalorizar mais suas moedas. Isso torna muito difícil para nossa indústria e produtores rurais exportarem seus produtos. Taxas de juros mais baixas e flexibilização", completou Trump no tuíte seguinte.
Mas essa não é a primeira vez que o governo Trump adota decisões que prejudicam diretamente o Brasil, em contraste com o discurso de grande amizade e proximidade entre os dois países.
A BBC News Brasil reúne aqui sete concessões feitas por Brasília e decisões tomadas por Washington vistas como potencialmente prejudiciais ao lado brasileiro, além de uma medida oferecida pelo governo que foi tida como positiva para o Brasil.
#1 Prejuízos para o aço e o alumínio brasileiros
O Brasil é o segundo maior exportador de aço para os Estados Unidos e as vendas para o país de Trump representam um terço das exportações brasileiras do produto. Portanto, a sobretaxa anunciada pelo presidente americano tem potencial para causar sérios problemas ao setor.
O primeiro aumento sobre as tarifas de importação desse produto foi anunciado por Trump em 8 de março de 2018. Na época, o alvo era a China e a medida marcou o início de uma guerra comercial entre os EUA e o gigante asiático.
Pela decisão, foi instituída uma sobretaxa de 25% sobre o alumínio e 10% sobre o aço importados pelos americanos. Após negociações, os EUA decidiram isentar o Brasil dessa cobrança. Com isso, as taxas voltaram a ser de 0,9%, para o aço e 2% para o alumínio.
Agora, conforme o anúncio de Trump, a sobretaxa voltaria a recair sobre os produtos brasileiros. O presidente Bolsonaro foi questionado por jornalistas na manhã desta segunda sobre o que pretende fazer em resposta à medida.
Ele disse que vai "conversar" com o ministro da Economia, Paulo Guedes, e que, se necessário, falará diretamente com o líder da Casa Branca. "Se for o caso, falo com o Trump, tenho canal aberto", declarou.
Para o professor de Relações Internacionais da Fundação Armando Álvares Penteado (FAAP) Carlos Gustavo Poggio, a medida de Trump mostra que é "ingênua" a estratégia brasileira de "jogar todas as suas fichas" na aliança com os EUA.
"Foi uma humilhação pública para a diplomacia brasileira o Trump acusar publicamente o Brasil de desvalorizar a sua moeda desconsiderando todas as concessões unilaterais feitas pelo Brasil", disse à BBC News Brasil.
"Se a relação com Bolsonaro é tão estreita e boa, por que Trump não telefonou para ele para negociar antes de anunciar ao mundo pelo Twitter?", questionou Poggio, que é especialista em relações exteriores dos EUA e da América Latina.
#2 Apoio vago à entrada do Brasil à OCDE
Outra decisão dos EUA que mostra que o Brasil parece não estar entre as prioridades do governo americano diz respeito à OCDE, Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Econômico.
Uma das principais plataformas da política externa do governo Bolsonaro é viabilizar a entrada do Brasil nessa organização formada por algumas das maiores economias do mundo.
Fazer parte desse seleto grupo funcionaria como uma espécie de selo de boas práticas comerciais e tenderia a atrair investimentos.
O apoio dos EUA à entrada do Brasil era considerado crucial, já que o governo americano era reticente à entrada conjunta de vários países na OCDE. Após visita de Bolsonaro a Washington, Trump chegou a dizer que apoiava o pleito brasileiro.
O anúncio foi divulgado pelo governo Bolsonaro como a principal vitória da política externa de alinhamento com os EUA. Mas, em outubro, uma carta do secretário de Estado, Mike Pompeo, deixou claro que o governo americano não está disposto a bancar, pelo menos agora, a entrada do Brasil na organização.
No documento, ele defende abertamente apenas o ingresso de Argentina e Romênia no grupo de 36 países que compõem a OCDE. O Brasil é um dos seis países na fila para entrar na OCDE. Um apoio expresso dos EUA à adesão poderia acelerar o processo, mas isso não ocorreu.
"O apoio de Trump é vago. Os Estados Unidos eram reticentes em ampliar rapidamente a OCDE. Esperava-se que isso fosse quebrado com a relação entre Bolsonaro e Trump, mas não foi. Não houve um apoio concreto", destaca Poggio.
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