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Coronavírus: Argentina inicia operação para expulsar estrangeiros que não cumprem quarentena

Marcia Carmo - De Buenos Aires para a BBC News Brasil

De Buenos Aires para a BBC News Brasil

16/03/2020 19h53

Fontes do Ministério do Interior afirmaram à BBC News Brasil que, até domingo (15), 270 turistas, a maioria europeus, tinham sido 'expulsos' do país sul-americano.

Na tentativa de evitar a propagação do novo coronavírus no país, o governo argentino iniciou uma operação policial especial, batendo à porta dos hotéis no território nacional, para expulsar os turistas estrangeiros que não estejam cumprindo a quarentena de 14 dias depois de chegarem da Europa, dos Estados Unidos, da China e de outros lugares com altos índices de contaminação.

Com a presença de autoridades do Ministério do Interior, da Direção de Migração e da Polícia Federal, são feitas ligações para os quartos dos hóspedes e, caso não estejam cumprindo a quarentena, eles devem deixar o país.

Assessores do Ministério do Interior disseram à BBC News Brasil, nesta segunda-feira (16/03), que até domingo 270 turistas, na maioria europeus, tinham sido "expulsos" da Argentina.

No fim da tarde desta segunda-feira, o governo argentino decidiu passar a exigir a quarentena também para os argentinos que chegam do Brasil e do Chile. O Brasil tinha 234 casos confirmados e o Chile, que como a Argentina anunciou o fechamento de suas fronteiras, 155 casos positivos da doença.

"Os casos aumentaram nos dois países, no Brasil e no Chile, nos últimos dias e por isso foi decidido que os argentinos que chegam destes destinos também passem a fazer quarentena", argumentou um assessor do Ministério do Interior.

Ele acrescentou que essa é uma medida preventiva que vale para os argentinos já que, oficialmente, as fronteiras foram fechadas a partir desta segunda-feira para não argentinos que não tenham residência no país. Os turistas expulsos, segundo o governo, não apresentaram sintomas da doença.

Pacote de medidas

A expulsão dos turistas estrangeiros é uma das medidas "drásticas" que o presidente Alberto Fernández decidiu implementar para tentar frear a escalada do coronavírus na Argentina.

Até esta segunda-feira, a Argentina registrava duas mortes e 56 casos positivos de covid-19, a doença causada pelo novo coronavírus. Fontes da Presidência disseram que Fernández quer evitar a "repetição" do que aconteceu na Espanha e na Itália, onde, entendem, as medidas de restrição de circulação das pessoas "demoraram" a ser tomadas.

Fernández fez uma série de anúncios no domingo, durante entrevista coletiva, apelando à população para que, dentro do possível, fique em suas casas e suspenda reuniões com muitas pessoas, incluindo jogos de futebol.

O presidente determinou ainda o fechamento das fronteiras do país durante quinze dias até 31 de março, o que impedirá, oficialmente, a chegada dos turistas do Brasil e de outros países a partir desta segunda-feira, segundo fontes do governo e das empresas aéreas.

Apesar de os voos continuarem aparecendo nos sites das companhias aéreas, disseram fontes do governo, eles só estão disponíveis para "trazer os argentinos e residentes e não turistas", disseram.

Num comunicado, a Aerolíneas Argentinas recordou ser a única empresa aérea autorizada pelo governo a transportar os argentinos dos países com os maiores índices de covid-19, como Espanha e Itália, por exemplo.

Um representante da Gol afirmou à BBC News Brasil que a companhia aérea está transportando apenas "argentinos e brasileiros que tenham residência na Argentina" após o fechamento das fronteiras do país.

Num tom que foi elogiado por analistas e consumidores argentinos, o presidente prometeu tomar medidas judiciais contra os que desrespeitarem as normas que está implementando.

"Os que não respeitarem a quarentena serão responsabilizados judicialmente", disse Fernández.

As declarações, feitas após reunião com ministros e infectologistas, incluíram as "medidas drásticas", como ele próprio descreveu, para evitar a propagação do vírus, que chamou de "inimigo invisível".

"Temos que minimizar a circulação do vírus. E adiar, o máximo possível, que ele deixe de ser importado e acabe se transformando em local. Se fizermos as coisas direito, os riscos vão diminuir", disse. Ele disse ainda que a saída do país está autorizada, mas a entrada proibida para aqueles que não sejam argentinos ou residentes.

Escalada de preocupação

A Argentina tem adotado medidas de forma crescente contra o novo coronavírus.

Na quinta-feira (12), na sua primeira rede nacional desde que tomou posse em dezembro passado, Fernández anunciou a suspensão dos voos da Europa, dos Estados Unidos, da China, da Coreia do Sul e do Irã. No domingo, além do fechamento das fronteiras, ele anunciou a suspensão das aulas, mas com os colégios abertos para atender aos alunos que dependam da merenda escolar.

Na segunda-feira, foi a vez das medidas serem ampliadas para os argentinos que chegam do Brasil e do Chile. Mas vários argentinos que estão no exterior e não conseguiram embarcar até a meia-noite de domingo deram entrevistas às emissoras locais de televisão pedindo ajuda para retornar ao país. Isso porque, em alguns casos, as companhias aéreas estrangeiras suspenderam os voos após o anúncio do presidente.

A situação de incertezas e o temor do coronavírus provocaram filas de argentinos tentando cancelar suas viagens em frente às agências de turismo e escritórios das companhias aéreas, como os da Latam, no bairro de Palermo, em Buenos Aires.

No fim de semana, viralizou um vídeo mostrando a reação de um argentino, que resistiu com socos e pontapés contra um agente de segurança que tentou obrigá-lo a cumprir a quarentena após chegar dos Estados Unidos. Fernández se referiu indiretamente ao caso, falando em "irresponsáveis" e "loucos".

No caso do governo da cidade, o telefone para ligações gratuitas passou a ser inundado com telefonemas dos que denunciam os que chegaram de viagem e não estão cumprindo a quarentena exigida. Teriam sido mais de 15 mil ligações somente no fim de semana, segundo a imprensa local.

Como em outros países, teatros, museus e casas de espetáculos informaram que fecham suas portas pelo menos até o dia 25 de março.

Ao mesmo tempo, as prateleiras de alguns supermercados apresentavam a falta de determinados produtos, principalmente os de limpeza, como água sanitária, e já não se encontra álcool em gel nas farmácias ou mercados. Mas apesar deste cenário, muitos argentinos tinham decidido trabalhar embarcando em trens lotados logo cedo, nesta segunda-feira.

"Muita gente não pode deixar de trabalhar, vive do que trabalha e ganha diariamente. Como é que faz quem não tem salário? Não pode deixar de trabalhar. O medo não é do coronavirus, mas de perder o trabalho", disse um apresentador da TV América, de Buenos Aires.

Procurados pela BBC News Brasil, o Itamaraty não tinha respondido email perguntado sobre o caso de possíveis brasileiros que tenham sido impedidos de embarcar para a Argentina, após o anúncio do fechamento das fronteiras. Os hotéis Sheraton e Hilton também não responderam sobre os passageiros que teriam sido expulsos de suas instalações por não cumprimento da quarentena.



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