O que são os assentamentos israelenses na Cisjordânia, e por que eles estão ali?
Israelenses e palestinos vivem uma semana de expectativa pelo possível anúncio pelo premiê de Israel, Benjamin Netanyahu, de anexações de assentamentos judaicos na Cisjordânia — na prática, convertendo terras palestinas em território israelense.
A maioria dos países considera ilegais esses assentamentos na Cisjordânia, mas o governo israelense se fia sobretudo no apoio do presidente americano, Donald Trump.
A seguir, a BBC explica o que são esses assentamentos, onde eles ficam e como eles conseguiram se expandir apesar da oposição palestina.
Apoio americano
Em novembro de 2019, o secretário de estado de Trump, Mike Pompeo, reverteu a posição diplomática de quatro décadas do país, que passou a considerar que as ocupações na Cisjordânia não são uma violação da lei internacional.
Isso, no entanto, contrasta com o posicionamento da ONU (Organização das Nações Unidas) e da União Europeia, por exemplo, que consideram que essas construções israelenses na Cisjordânia violam a lei internacional.
Com o apoio americano, o Parlamento israelense pretende votar agora pela anexação desses espaços ao território de Israel.
Os palestinos se opõem frontalmente à anexação, que veem como mais um avanço israelense sobre seu já fragmentado território. Para eles, os assentamentos são em terra palestina — território que acreditam ser vital para a consolidação de um estado próprio.
Esses assentamentos têm crescido constantemente desde a Guerra dos Seis Dias, conflito árabe-israelense ocorrido em 1967. Há também assentamentos não oficiais, conhecidos como postos avançados.
Os mapas abaixo mostram isso em imagens: em azul, as comunidades israelenses e, em amarelo, as palestinas.
Atualmente, cerca de 3 milhões de pessoas vivem na pequena área territorial da Cisjordânia, sendo 86% delas palestinas e 14% (ou 427,8 mil pessoas) israelenses. Eles vivem em comunidades em geral separadas entre si.
Uma grande parte dos assentamentos israelenses foi estabelecida nos anos 1970, 80 e 90. Mas, nos últimos 20 anos, a população deles dobrou. Israel lhes oferece serviços, como água, eletricidade e proteção do Exército.
Essas colônias estão dispersas pelo território palestino. E, como muitas são protegidas pelos militares e o acesso a elas é proibido aos palestinos, a política de assentamentos tem como efeito colateral a separação de cidades palestinas umas das outras, dificultando as conexões de transporte e o desenvolvimento de infraestrutura no território da Cisjordânia.
Imagens de satélite mostram como os assentamentos cresceram ao longo do tempo. Em 2004, a colônia de Givat Zeev tinha cerca de 10 mil pessoas. Hoje, são 17 mil, com a construção de novas casas, centros comerciais e sinagogas.
Assentamentos variam muito em tamanho: alguns têm apenas algumas centenas de moradores; em contrapartida, o maior deles, chamado Modi'in Illit, tem 73 mil pessoas. Nos últimos 15 anos, sua população triplicou. O grupo ativista Peace Now, que se opõe aos assentamentos, é que coletou esses dados.
Parte de um plano elaborado pelo governo Trump prevê um congelamento na construção de assentamentos por ao menos quatro anos.
No entanto, mesmo que as construções sejam suspensas, o número de assentados possivelmente continuará a crescer, uma vez que eles têm uma alta taxa de natalidade.
Em média, mulheres israelenses moradoras de assentamentos têm mais de sete filhos cada uma. Isso é mais do dobro da taxa de natalidade média de Israel (3,1 filhos por mulher).
Para efeitos comparativos, a taxa média de natalidade do Brasil é de 1,74 filho por mulher, segundo dados de 2017.
No assentamento de Modi'in Illit, cada moradora tem, em média, 7,59 filhos.
Palestinas, em contrapartida, vivem uma redução na taxa de natalidade (3,2 bebês por mulher), embora ela seja proporcionalmente alta em relação a outras partes do mundo.
No entanto, os efeitos dessa disparidade na composição da população da Cisjordânia ainda levarão uma geração para ser sentido.
Por que alguns israelenses querem morar na Cisjordânia?
Algumas pessoas se mudam para assentamentos porque neles dispõem de moradia mais barata, subsidiada pelo governo israelense.
Há também os que se mudam para viver ali em comunidades estritamente religiosas, que acreditam que Deus lhes deu o dever de assentar na região. Um terço dos assentamentos é ultraortodoxo, com famílias maiores e também mais pobres — e que também buscam melhor qualidade de vida.
Mas algumas comunidades veem o assentamento como uma ideologia — a de que eles teriam o direito de morar ali por acreditar se tratar de um território ancestralmente judaico.
Quem defende a solução de dois Estados?
Cada vez menos pessoas defendem a proposta de dividir a região conflagrada em dois países independentes, segundo a pesquisa Palestinian-Israeli Pulse. Em 2006, 71% dos palestinos e 68% dos israelenses apoiavam a solução de dois estados. Em 2018, essas porcentagens caíram, respectivamente, para 44% e 55%.
Em contraste, em 2018, o apoio para a união de israelenses e palestinos em um só estado era de 36% entre os palestinos, 19% entre os israelenses judeus e 56% entre os israelenses árabes.
Outra má notícia para a solução de dois estados é de que o número de jovens que anseiam por ela é ainda mais baixo. Em Israel, apenas 27% da população de 18 a 24 anos diz defender a coexistência de um estado judaico com um palestino.
Fontes: dados da população de assentamentos foram compilados pela organização Peace Now com base em informações do Escritório Israelense de Estatísticas e do Instituto de Estudos Israelenses de Israel. Os dados de fertilidade vêm dos escritórios de estatísticas de Israel e Palestina. As estimativas sobre a fertilidade nos assentamentos são feitas por Yinon Cohen, professor de estudos israelenses e judaicos na universidade americana de Columbia.
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