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Naftali Bennett: o ex-aliado de Netanyahu que pode derrubar o primeiro-ministro de Israel

Naftali Bennett ao lado da mulher, Gilat, em foto de 2013; ex-aliado de Netanyahu pode ocupar seu lugar - Getty Images
Naftali Bennett ao lado da mulher, Gilat, em foto de 2013; ex-aliado de Netanyahu pode ocupar seu lugar Imagem: Getty Images

02/06/2021 10h01Atualizada em 02/06/2021 12h06

Por 12 anos, Israel teve uma certeza: Benjamin Netanyahu como primeiro-ministro. Mas um grupo improvável de políticos concordou em tentar formar uma coalizão que pode finalmente derrubá-lo, tornando o milionário de direita Naftali Bennett o próximo líder de Israel.

E assim o primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu, pode finalmente deixar o cargo.

Por 12 anos, ele conseguiu permanecer no poder, esquivando-se das tentativas de destituí-lo e desviando de um julgamento por corrupção.

Mas agora, um grupo improvável de rivais políticos, de ultranacionalistas a islâmicos árabes, se uniram com um objetivo comum: finalmente derrubar o "Rei Bibi", como o primeiro-ministro é conhecido.

Se as negociações forem bem-sucedidas, dois homens se revezarão como primeiro-ministro durante dois anos cada um.

O primeiro a assumir será o ex-aliado de Netanyahu, Naftali Bennett. E então ele será sucedido por seu parceiro de coalizão, Yair Labid.

Até a conclusão desta reportagem, os dois ainda estavam negociando para assegurar uma coalizão.

O prazo termina nesta quarta-feira (2/6).

Isso significa que o voto de confiança para o novo governo seria marcado para a próxima quarta-feira (9/6), o mais tardar.

Caso nenhum acordo final seja alcançado, o presidente do Knesset (Parlamento israelense) poderia informar formalmente o Parlamento sobre o novo governo na segunda-feira (7/6), efetivamente adiando a votação por mais uma semana.

Mas quem é Benett?

Em 2019, Bennett era ministro da Defesa no governo de Netanyahu (à esq) - Getty Images - Getty Images
Em 2019, Bennett era ministro da Defesa no governo de Netanyahu (à esq)
Imagem: Getty Images

Milionário de direita

Quando entrou na política, Naftali Bennett era colega de Benjamin Netanyahu, e até seu protegido.

Ele serviu como conselheiro de Netanyahu, foi seu assessor-sênior e chefe de gabinete. Ele também dirigiu os ministérios de Educação e Defesa em governos recentes de Netanyahu.

Ideologicamente, ele está muito mais próximo do primeiro-ministro do que de seus parceiros na coalizão proposta.

Como Netanyahu, ele é um direitista, "e se orgulha disso", como costuma dizer.

Em algumas questões, ele é considerado ainda mais à direita do que seu ex-chefe, algo com que ele concorda.

Ele disse recentemente ao jornal local Times of Israel: "Sou mais direitista do que Bibi, mas não uso o ódio ou a polarização como uma ferramenta".

De um lado, ele rejeita abertamente a ideia de um Estado palestino independente na Cisjordânia e em Gaza.

"Eu não daria outro centímetro para os árabes", disse ele em 2018. "Temos que abandonar a ideia de que, se dermos a eles mais território, o mundo nos amará."

Yair Lapid (esq) e Naftali Bennett planejam ficar dois anos cada no cargo de premiê - Getty Images - Getty Images
Yair Lapid (esq) e Naftali Bennett planejam ficar dois anos cada no cargo de premiê
Imagem: Getty Images

Ele é um ex-líder do Yesha, o principal movimento de colonos na Cisjordânia, e fez disso uma parte importante de sua plataforma política.

Mas Bennett nem sempre foi um político. Antes de entrar na política no início dos anos 2000, o filho de imigrantes de São Francisco ganhou milhões trabalhando na indústria de tecnologia.

Ele criou uma start-up em 1999 e acabou vendendo sua empresa de software antifraude, Cyota, por US$ 145 milhões (R$ 745 milhões).

Ele agora é o líder de um partido de direita chamado Yamina ("à direita", em hebraico), que, apesar de ficar em quinto lugar e apenas ganhar sete cadeiras nas últimas eleições, se tornou um improvável "fazedor de reis".

Bennett e Bibi: aliados dos rivais

Apesar de sua longa relação de trabalho, Netanyahu e Bennett não são mais aliados.

A dupla teria se desentendido no final dos anos 2000, depois que Naftali Bennett deixou seu cargo de assessor-sênior.

Bennett participou do gabinete de vários governos de Netanyahu - Getty Images - Getty Images
Bennett participou do gabinete de vários governos de Netanyahu
Imagem: Getty Images

Apesar de um racha público, eles continuaram trabalhando juntos em governos posteriores de coalizão. Bennett inclusive ocupou vários cargos de confiança, incluindo, mais recentemente, o Ministério da Defesa.

Esta é a primeira vez que Bennett desafia formalmente seu antigo mentor, e Netanyahu não encarou isso de maneira amistosa.

"Não há uma pessoa no país que teria votado em você, se te conhecesse", disse o primeiro-ministro quando a coalizão foi anunciada.

Não escapa de controvérsias

Fluente em inglês e íntimo da mídia, ele frequentemente aparece em redes de TV estrangeiras, defendendo as ações de Israel.

Mas ele não é estranho a comentários controversos ou rejeita o contraditório.

Yamina, o partido de Bennett, só tem 7 assentos no Parlamento, mas detém a balança de poder - Getty Images - Getty Images
Yamina, o partido de Bennett, só tem 7 assentos no Parlamento, mas detém a balança de poder
Imagem: Getty Images

Em um debate na televisão de seu país, uma vez ele advertiu um membro do parlamento árabe israelense: "Quando você ainda se balançava em árvores, tínhamos um Estado judeu aqui".

Ele também chamou a formação de um Estado palestino de "suicídio" por Israel.

"Mesmo que o mundo nos pressione, não vamos cometer suicídio voluntariamente", disse ele em 2015.

Quem mais está nesta coalizão contra Netanyahu?

Trata-se de um grupo improvável.

Ao lado de Bennett está Yair Lapid, um ex-âncora de um programa popular de notícias da TV e recentemente nomeado chefe da oposição. Ele é a pessoa encarregada de formar uma coalizão governamental.

Lapid é muito mais centrista e, ao contrário de seu parceiro de coalizão, apoia uma solução com dois Estados.

Segundo o acordo proposto, Lapid assumirá o posto de primeiro-ministro após os dois anos de Bennett no poder.

Outro nome notável entre os oito partidos da coalizão é o de Avigdor Lieberman, um polêmico nacionalista de extrema-direita que certa vez sugeriu que membros "desleais" da minoria árabe do país deveriam ser decapitados.

Yair Lapid (esq) e Naftali Bennett planejam ficar dois anos cada no cargo de premiê - Getty Images - Getty Images
Yair Lapid (esq) e Naftali Bennett planejam ficar dois anos cada no cargo de premiê
Imagem: Getty Images

A coalizão também precisaria do apoio indireto do Ra'am, um pequeno partido de islâmicos árabes. Em troca, o partido quer proteção para estilos de vida muçulmanos conservadores e mais financiamento para cidades dominadas por árabes.

Seria o primeiro partido liderado por árabes a participar de um governo de coalizão em Israel.

Então, o que todos esses grupos tão diversos têm em comum? Praticamente nada, exceto um desejo comum de expulsar Netanyahu.

Se destituído, o primeiro-ministro perderia seu emprego. Enquanto o julgamento por suborno, fraude e quebra de confiança, que ele acusa de ter motivação política, ganharia força.

Netanyahu descreve a coalizão como uma ameaça à segurança de Israel, e há muitos motivos para ela falhar.

O objetivo em comum dela é poderoso, entretanto.