Por que EUA pediram extradição de ex-presidente de Honduras
O governo dos Estados Unidos solicitou na segunda-feira (14/2) a Honduras a extradição do ex-presidente Juan Orlando Hernández, acusado pela Justiça americana de tráfico de drogas.
A notícia foi confirmada pelo vice-presidente hondurenho, Salvador Nasralla, à agência de notícias AP.
Anteriormente, o Ministério das Relações Exteriores de Honduras disse no Twitter que notificou a Suprema Corte de Justiça do país que a Embaixada dos Estados Unidos havia solicitado formalmente a prisão de um político hondurenho para fins de extradição.
O ministério não identificou o político, mas vários meios de comunicação, incluindo a emissora CNN, confirmaram que foi o ex-presidente, que governou o país entre 2014 e 2022.
A Suprema Corte convocou uma sessão de emergência nesta terça-feira (16/2) para nomear um juiz para analisar o pedido.
Imagens da televisão local mostraram um cordão policial e várias pessoas comemorando perto da residência de Hernández na capital, Tegucigalpa, na noite de segunda-feira.
"(Quero) deixar claro a indignação que meu cliente Juan Orlando Hernández está enfrentando", disse o advogado Hermes Ramírez a uma emissora de televisão local, em relação à presença de homens uniformizados perto da residência.
Ramírez disse que o ex-presidente estava em sua residência.
Hernández negou anteriormente as acusações contra ele e garante que durante seu governo lutou contra o narcotráfico.
Na semana passada, os Estados Unidos anunciaram ter sancionado o ex-presidente vetando sua entrada no país.
Juan Orlando Hernández ingressou no Parlamento Centro-Americano (Parlacen) após deixar a presidência, o que, segundo seu advogado, lhe garante imunidade.
O Parlacen concede a seus membros imunidade de processo na América Central, embora essa proteção possa ser removida ou suspensa se solicitada pelo país de origem de um membro.
Figura polêmica
Hernández governou Honduras por oito anos, embora a Constituição do país não permita a reeleição presidencial.
No entanto, uma decisão polêmica do Supremo Tribunal, com maioria oficial, autorizou-o a concorrer a um segundo mandato em 2017.
Depois que o sistema de contagem de votos parou de funcionar, Hernández começou a ganhar vantagem na votação e foi declarado vencedor, provocando protestos em massa que deixaram vários mortos.
Embora o governo dos EUA tenha reconhecido sua vitória, os promotores americanos revelaram mais tarde que abriram uma investigação sobre o presidente Hernández, a quem identificaram como cúmplice no julgamento de seu irmão, condenado à prisão perpétua em 2021.
Uma das testemunhas do caso era um ex-contador de uma fábrica de arroz hondurenha que disse ter visto como o atual presidente recebeu pastas com dinheiro de drogas, com as quais procurou se associar a um laboratório de cocaína e murmurou sobre "a proteção e transferência de drogas".
Quando no julgamento de seu irmão e do hondurenho Geovanny Fuentes surgiram depoimentos que o comprometeram, o então presidente os rejeitou por serem de criminosos que queriam se vingar de suas ações contra o narcotráfico e reduzir suas próprias penas nos Estados Unidos.
"Qualquer narrativa sobre a batalha contra o narcotráfico em Honduras que omite a redução sem precedentes de 95% (dados oficiais dos EUA) que conseguimos, geralmente é apenas um veículo para manchetes dramáticas para promover o falso testemunho dos narcotraficantes que derrotamos", tuitou Hernandez na época.
Relacionamentos complexos
Desde que assumiu o cargo em 2014, o ex-presidente hondurenho, conhecido por suas iniciais JOH, procurou se posicionar como um aliado de Washington em questões de segurança e migração.
Durante anos, os EUA apoiaram o presidente hondurenho, apesar das acusações de corrupção governamental e abusos dos direitos humanos por parte das forças de segurança.
Durante o governo Trump, Washington enviou milhões de dólares em ajuda a Honduras.
Após sua polêmica reeleição, Hernández decidiu não renovar em 2020 o mandato da Missão de Apoio contra a Corrupção e a Impunidade em Honduras, organização criada com o apoio dos Estados Unidos e da Organização dos Estados Americanos (OEA) que investigou dezenas de hondurenhos funcionários do governo.
No entanto, as relações de Hernández com Washington começaram a esfriar com a chegada à Casa Branca do democrata Joe Biden, que promoveu uma agenda de combate à corrupção na América Central.
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