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Senegal: perfil do país na confluência de rotas comerciais e riquezas naturais do oeste africano

14/11/2022 07h05

Saiba por que o então presidente Lula escolheu uma visita ao Senegal para pedir perdão ao povo africano pela escravidão.

Localizado no ponto mais ocidental do continente africano e servido por múltiplas rotas aéreas e marítimas, o Senegal é conhecido como uma "porta de entrada" para a África.

A localização geográfica dotou o Senegal de uma fauna e uma flora exuberantes, em que se destacam dois símbolos nacionais: o leão e a árvore de baobá.

Aspecto mais sombrio da geografia senegalesa, a ilha da Gorée, na costa da capital Dacar, ficou conhecida por ser um ponto importante para o tráfico de pessoas escravizadas entre os séculos 15 e 19, quando também foram exportados marfim e ouro.

Considerado um modelo de democracia na África, o Senegal tem uma tradição de governos estáveis e civis, e inclusive já integrou forças internacionais de paz enviadas à República Democrática do Congo, Libéria e Kosovo.

A região que compreende o atual Senegal fazia parte dos antigos reinos Gana e Djolof. No fim do século 19, o Senegal virou uma colônia francesa, status que persistiu até a independência em 1960. Desde então o país é uma república presidencialista multipartidária.

A constituição de 2001, que entrou em vigor para substituir a de 1963, garante os direitos humanos fundamentais; as liberdades políticas, sindicais e religiosas; e um Estado democrático e secular. Mesmo assim, o país viveu tensões entre os diversos grupos étnicos que coexistem entre si.

Centenas de senegaleses foram mortos em um conflito separatista em Casamança, a região mais a sul do Senegal, quase separada do resto do país pelo minúsculo Estado da Gâmbia.

Ex-colônia portuguesa, as diferenças linguísticas e culturais da região alimentaram o sentimento separatista ainda nos anos 1980. Mas a violência diminuiu depois de um cessar-fogo em 2014. Em agosto de 2022, o governo e os rebeldes assinaram um acordo em que os rebeldes se comprometeram a depor as armas.

A economia senegalesa é predominantemente agrícola e dominada pelo amendoim. Antes da independência, as grandes empresas francesas comercializavam o produto e importavam manufaturados da Europa.

Sob o controle nacional, o país tem buscado expandir as fontes de renda para outros produtos agrícolas, como o algodão, produtos hortícolas e cana-de-açúcar, assim como a produção industrial, especialmente o processamento de alimentos.

A remessa de dinheiro de senegaleses que vivem no exterior é outra fonte importante de receita para as famílias.

FATOS

LÍDER

Presidente: Macky Sall

Ex-aliado do ex-presidente Abdoulaye Wade, que governou o Senegal entre 2000 e 2012, Macky Sall criou o seu próprio partido de oposição em 2008 e derrotou Wade nas eleições de 2012.

Sall fez da busca por uma "paz definitiva" na região de Casamança uma das prioridades do seu segundo mandato. Em 2014, o líder rebelde Salif Sadio declarou um cessar-fogo unilateral, e em 2022 o governo e o rebelde assinaram um acordo de deposição das armas.

Em março de 2016, os senegaleses aprovaram em referendo uma proposta de Sall que reduziu o mandato presidencial de sete para cinco anos. Ele disse que queria que o Senegal desse um exemplo para a África, onde muitos líderes políticos buscam agarrar-se ao poder. A regra, porém, só valerá após o mandato de Sall, que foi renovado em 2019.

MEDIA

O panorama midiático do Senegal é um dos mais livres e diversificados da região. A Constituição garante a liberdade de informação e os abusos contra jornalistas são relativamente pouco frequentes, segundo a organização Repórteres sem Fronteiras.

RELAÇÕES COM O BRASIL

Em 2005, durante uma visita à ilha de Gorée, o então presidente Luiz Inácio Lula da Silva, pediu perdão ao povo africano pela escravidão. Acompanhado do então ministro da Cultura, Gilberto Gil, Lula visitou o "portão do nunca mais", ponto de saída dos navios negreiros.??"Milhões deixaram esse continente por essa 'porta do nunca mais': a porta da morte. Não tenho nenhuma responsabilidade pelo que aconteceu nos séculos 16, 17 e 18. Mas penso que é uma boa política dizer ao povo do Senegal e da África: perdão pelo que fizemos," disse.

A declaração foi um marco na relação dos dois países, que por seu legado colonial compartilham traços culturais e linguísticos comuns. O Brasil já possuía um consulado em solo senegalês no século 19, e a embaixada brasileira na capital da nova república foi criada logo após a sua independência, em 1960. Foi a primeira representação brasileira na África subsaariana.

A cooperação técnica é um dos eixos centrais no relacionamento bilateral. Brasil e Senegal mantêm diálogos e projetos em áreas diversas, como defesa, saúde, produção de alimentos (horticultura, pecuária leiteira, arroz, mandioca e agricultura familiar), maquinário agrícola e biocombustíveis.

Em 2013, o Brasil perdoou 45% da dívida senegalesa, que somava na época US$ 6,5 milhões. A medida liberou recursos para que o país da África Ocidental pudesse investir no seu desenvolvimento e fazer novos negócios com o Brasil.

LINHA DO TEMPO

Datas importantes na história do Senegal:

Século 8 - Região onde fica o atual Senegal faz parte do Reino do Gana.

1677 - França toma a ilha de Gorée da Holanda, dando início a quase 300 anos de ocupação francesa.

1756-63 - Guerra dos Sete Anos: A Grã-Bretanha toma localidades francesas no Senegal e forma a colônia de Senegambia. Anos mais tarde, a França recupera essas terras durante a guerra de independência americana (1775-1883) contra os britânicos.

1960 - Senegal se torna um país independente. A primeira constituição é aprovada em 1963.

2000 - O líder da oposição, Abdoulaye Wade, vence o segundo turno das eleições presidenciais, pondo fim a 40 anos de governo do Partido Socialista.

2002 - Senegal se classifica pela primeira vez para a etapa final da Copa do Mundo da Fifa, disputada simultaneamente na Coreia do Sul e Japão. A seleção senegalesa chegou às quartas-de-final, sendo eliminada pela Turquia, por 1 a 0. No jogo de estreia a seleção do Senegal derrotou o time da França que detinha o título de campeão do mundo.

2004 - Movimento separatista Casamança das Forças Democráticas (MFDC) assina um acordo com o governo com o objetivo de pôr fim à luta separatista iniciada nos anos 1980. A violência continua até 2014, quando o líder rebelde Salif Sadio declara um cessar-fogo unilateral em 2014.

2012 - Macky Sall vence as eleições presidenciais e a sua coligação ganha as eleições parlamentares. Os deputados resolvem abolir o Senado e o cargo de vice-presidente, num esforço para poupar dinheiro para o alívio das cheias. Críticos dizem que o objetivo é enfraquecer a oposição.

2016 - Proposta de reduzir o mandato presidencial de sete anos para cinco é aprovada em referendo. Regra valerá após o mandato de Macky Sall, renovado nas eleições de 2019.