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Os entraves que dificultam nomeação de Tebet e Marina Silva para ministério de Lula

A pouco mais de uma semana da posse de Lula (PT), a indefinição sobre o papel de dois nomes no futuro governo tem chamado a atenção - Reuters
A pouco mais de uma semana da posse de Lula (PT), a indefinição sobre o papel de dois nomes no futuro governo tem chamado a atenção Imagem: Reuters

Leandro Prazeres - Da BBC News Brasil em Brasília

Da BBC News Brasil, em Brasília

23/12/2022 10h09

Cálculos políticos, necessidade de governabilidade e demanda de partidos são apontados como fatores que travam a indicação das duas para o primeiro escalão do governo.

Em um auditório repleto de políticos, assessores e jornalistas, o presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva (PT) anunciou nesta quinta-feira (22/12), em Brasília, os nomes de 16 novos ministros e ministras da equipe que tomará posse no dia 1º de janeiro de 2023.

Apesar de o anúncio delinear melhor como será a composição do novo governo, o evento chamou atenção, também, por duas ausências marcantes: a deputada federal eleita Marina Silva (Rede-SP) e a senadora e ex-candidata à Presidência Simone Tebet (MDB-MS).

As duas vinham sendo dadas como nomes certos no novo governo graças ao apoio que deram ao então candidato Lula na reta final da campanha presidencial. Entretanto, a pouco mais de uma semana da posse, uma série de fatores vem travando o encaixe das duas no time do presidente eleito.

Especialistas, políticos e ambientalistas ouvidos pela BBC News Brasil avaliam que os principais entraves à nomeação de Marina e Simone Tebet são ligeiramente diferentes, mas têm alguns pontos em comum: estratégia política adotada, necessidade do novo governo obter governabilidade e a influência dos comandos dos partidos que formarão a base do governo.

Nome grande, partido 'pequeno'

A deputada federal Marina Silva declarou seu apoio a Lula em setembro deste ano, antes mesmo do primeiro turno. Entre 2003 e 2008, ela foi ministra de Meio Ambiente dos dois primeiros governos de Lula.

Seu apoio ao petista neste ano foi celebrado por Lula e seus apoiadores e marcou o retorno dela ao grupo de aliados do petista após as eleições de 2014, quando ela disputou a Presidência da República contra Dilma Rousseff (PT) e foi alvo de duras críticas da campanha da ex-presidente.

"Havia a expectativa de que o Lula e a Marina iriam conversar. Nunca deixamos de conversar. Apenas nós nos desencontramos e agora nos encontramos. Nos encontramos para cuidar da política ambiental, mas sobretudo para cuidar desse país", disse Lula em setembro, quando Marina declarou apoio à sua candidatura.

Logo após a vitória do petista no segundo turno sobre Jair Bolsonaro (PL), o nome de Marina passou a ser apontado como uma escolha natural para ocupar, novamente, o Ministério do Meio Ambiente. Havia a expectativa de que Lula anunciasse seu nome para a pasta durante sua ida à 27ª Conferência das Nações Unidas sobre o Clima (COP27), no Egito. Apesar de ter ido ao evento, Marina não foi anunciada como ministra na ocasião.

Os rumores de que ela poderia integrar o time de Lula aumentaram depois que ela passou a integrar o grupo de trabalho da transição de governo especializado na área ambiental. Mesmo assim, seu nome ainda não foi anunciado.

Para o professor de Ciência Política da Universidade de Brasília, Carlos Machado, o principal fator que vem travando a indicação de Marina Silva é a necessidade de o novo governo Lula obter governabilidade no Congresso Nacional.

Uma das formas encontradas para acomodar integrantes da coalizão que apoiou Lula é a indicação de nomes apontados pelos partidos. E neste caso, Marina Silva enfrentaria dificuldades por conta da baixa quantidade de votos que seu partido, a Rede Sustentabilidade, tem a entregar no Congresso. O partido elegeu apenas dois parlamentares: Marina Silva e o deputado federal Tulio Gadelha (PE).

"O problema da Marina não é sua falta de representatividade na área ambiental. É a baixa expressividade do seu partido. O novo governo busca ampliar sua base de apoio no Congresso e a Rede tem poucos votos para entregar", disse Machado.

O professor menciona que o partido já tem outro nome cotado para assumir uma pasta no governo: a deputada federal em fim de mandato Joênia Wapichana (AP). Seu nome vem sendo especulado para assumir o ministério dedicado aos povos originários prometido por Lula.

"O governo tem uma série de demandas para atender. Nesse contexto, fica difícil imaginar que a Rede, por maior que seja a representatividade de Marina, possa vir a ter dois ministérios", disse o professor.

O secretário-executivo da organização não-governamental Observatório do Clima, Márcio Astrini, também avalia que a pequena representação da Rede e a necessidade de o governo contemplar o restante de seus aliados pode estar pesando para a demora em indicar Marina para a pasta.

"Não acho que haja resistências grandes ao nome de Marina. O que existe é que a Rede compõe um mosaico de partidos que deu apoio a Lula, mas tem pouca representatividade no Congresso. Isso pode estar sendo um ponto de discussão da equipe que está ponderando a montagem do governo", disse Astrini.

Tebet: estratégia e distância do MDB

O apoio de Simone Tebet a Lula também foi celebrado quando, logo após o primeiro turno das eleições, ela se posicionou publicamente a favor da candidatura do petista.

No primeiro turno, ela ficou em terceiro lugar e obteve 4,16% dos votos. Seu apoio foi considerado estratégico pelo comando da campanha petista. Logo depois da vitória de Lula no segundo turno, o nome da senadora também passou a ser tido como certo na futura equipe de Lula.

A partir daí, começaram os desencontros entre Tebet e o novo governo. Inicialmente, a pasta apontada como destinada a ela era a da Agricultura. Nos bastidores, porém, foi dito que ela queria o comando do Ministério do Desenvolvimento Social, responsável por programas sociais como o Auxílio Brasil e que o novo governo quer voltar a chamar de Bolsa Família.

Apesar de a pasta ter sido ocupada por nomes pouco expressivos politicamente durante os governos petistas, lideranças do partido dizem, em caráter reservado, que o comando do Bolsa Família é uma vitrine importante demais para deixar nas mãos de alguém de fora do partido, o que excluiria Tebet.

Nesta quinta-feira, Lula anunciou o senador eleito e ex-governador do Piauí Wellington Dias, do PT, para ocupar a pasta.

Para Carlos Machado, a estratégia adotada por Tebet desde a vitória de Lula vem dificultando seu encaixe na equipe.

"Tebet pediu um ministério que é considerado uma vitrine do PT. O partido criou o Ministério do Desenvolvimento Social e ele é visto como muito importante para o partido. Não era algo fácil para o PT entregar", disse o professor.

Machado avalia, também, que pode estar pesando na conta do PT a ideia de que deixar Tebet no comando de um ministério tão importante quanto o do Desenvolvimento Social poderia potencializar as ambições políticas de Tebet, vista como uma candidata natural à sucessão de Lula em 2026. Por outro lado, deixá-la fora do governo abriria espaço para que ela se firmasse como um nome de oposição.

"O dilema não é de fácil solução. Tebet deu apoio e o PT deverá encontrar uma forma de contemplá-la, mas há muitos cálculos políticos a serem feitos", disse o professor.

Ainda segundo Machado, outro fator importante que dificulta a inclusão de Tebet na equipe de Lula é o fato de ela não ser vista como uma indicação do MDB. Apesar de ser filiada ao partido, Tebet se indispôs com lideranças históricas da legenda como o senador Renan Calheiros (AL) para lançar sua candidatura.

Agora, segundo Machado, o partido negocia cargos no ministério do PT, mas Tebet não teria o apoio da legenda.

"Simone atendeu à demanda do PT e deu seu apoio a Lula, mas houve um descolamento de Simone em relação ao comando do MDB. O cálculo é que atendê-la com um ministério não representaria uma demanda do partido", afirmou Carlos Machado.

À BBC News Brasil, o provável líder do governo na Câmara dos Deputados, José Guimarães (PT-CE), ressaltou que a negociação por cargos está sendo feita com base nas demandas dos partidos.

"Tem várias pontas que precisam ser administradas porque esses partidos [...] a nova base está se esboçando. O MDB terá presença na Esplanada. O partido. Não é fulano ou fulana", disse.

Ao fechamento desta reportagem havia especulações de que Simone Tebet se reuniria com Lula na sexta-feira (23/12) quando espera-se que será anunciada a participação dela no novo governo.

Nó entre Marina e Simone

Em meio à indefinição sobre o futuro de Simone Tebet e Marina no governo Lula, soluções vem sendo especuladas nos últimos dias.

Segundo o jornal "O Globo", Simone Tebet teria aceitado um convite para assumir o Ministério do Meio Ambiente, pasta que, em tese, estaria reservada para Marina Silva.

Uma das condições para que Tebet assumisse o posto seria a ida de Marina Silva para o comando de uma autoridade climática com status de ministério que seria criada por Lula.

O arranjo, porém, esbarraria em Marina, que, tem dito a aliados que não gostaria de ocupar a autoridade.

Uma outra solução seria oferecer o Ministério do Planejamento ou das Cidades a Simone Tebet, deixando o caminho livre para Marina Silva ocupar a pasta do Meio Ambiente.

A definição sobre o assunto, porém, deve ocorrer nos próximos dias.

Assessores de Lula informaram que ele manterá reuniões ainda nesta sexta-feira (23/12) com lideranças de diversos partidos para finalizar a montagem do seu ministério.

Das 37 pastas que integrarão o primeiro escalão do governo, 21 nomes já foram anunciados, restando 16 para serem divulgados.

A expectativa é de que mais uma nova leva de ministros e ministras seja anunciada no início da semana que vem, após o feriado do Natal.

- Este texto foi publicado em https://www.bbc.com/portuguese/brasil-64072661