Jovens britânicos se sentem traídos com o Brexit
Os britânicos decidiram pela saída da União Europeia (EU), mas a vitória apertada de 51,9% dos eleitores favoráveis ao Brexit mostrou um Reino Unido politicamente dividido.
O resultado do referendo revelou também uma divisão social e de gerações, com os eleitores mais jovens, metropolitanos e de maior escolaridade votando maciçamente pela permanência na UE, segundo análises de institutos de pesquisa e do diário britânico The Guardian.
A idade dos eleitores não é registrada em votações, mas em áreas urbanas, onde a idade média dos eleitores registrados é de no máximo 35 anos de idade, dados eleitorais mostraram um apoio esmagador pela permanência na UE.
Exemplos podem ser tirados dos distritos eleitorais londrinos de Lambeth, Hackney ou Harringey, com idade média entre 31 e 33 anos, onde a votação pela permanência foi acima de 75%. Em Londres, uma petição pedindo que o prefeito da cidade, Sadiq Khan, declare a capital britânica independente do Reino Unido para aderir à UE recebeu mais de 100 mil assinaturas em poucas horas.
Resultados eleitorais semelhantes foram registrados em Oxford e Cambridge, sedes de duas das mais renomadas universidades do mundo. Segundo o The Guardian, eleitores com grau universitário votaram majoritariamente por permanecer na UE - outro indicativo do forte posicionamento dos jovens, já que 40% dos britânicos de 18 até 21 anos possuem formação acadêmica, em comparação com 7% dos cidadãos acima dos 60 anos.
"Estou furiosa", escreveu uma usuária no Twitter, citada pelo The Guardian. "Uma geração que teve tudo dado, educação gratuita, aposentadorias generosas e mobilidade social, votou por tirar o futuro da minha geração."
A indignação de tantos jovens britânicos é reforçada por uma apuração divulgada pelo instituto de pesquisa YouGov antes do referendo. Segundo as estimativas, 64% dos jovens entre 18 e 24 anos queriam o Bremain, enquanto 58% dos cidadãos acima de 65 anos preferiam o Brexit. O YouGov concluiu que aqueles que teriam de viver mais tempo com a decisão tomada no referendo preferem a permanência na UE.
O apresentador de televisão James Corden aproveitou os seus mais de 7 milhões de seguidores e fez campanha a favor da petição por um novo referendo. "Não consigo compreender o que está acontecendo no Reino Unido. Sinto muito pelos jovens britânicos. Temo que vocês foram decepcionados", escreveu no Twitter.
A data escolhida para o referendo também foi criticada, já que este foi realizado num período de férias estudantis e coincidiu com o início da temporada de festivais na Europa. Uma pesquisa feita pelo jornal britânico The Times no festival de Glastonbury (o segundo maior festival de música a céu aberto do mundo) mostrou que 22% dos jovens no festival não votaram, sendo que 65% deles teriam votado pela permanência na UE, somando aproximadamente 15 mil votos.
Ex-prefeito de Londres não vê motivos para alarmismo
Em seu discurso de vitória, o ex-prefeito de Londres e membro da mesma legenda do premiê David Cameron, o Partido Conservador, reconheceu os receios de muitos eleitores jovens, especialmente sobre as restrições à liberdade de mobilidade.
"Quero falar diretamente com as milhões de pessoas que não votaram por este resultado, especialmente os jovens, que podem sentir que esta decisão envolve de alguma forma levantar a ponte levadiça, porque acho que exatamente o oposto é verdadeiro", disse Johnson.
"Não podemos virar as costas à Europa, nós somos parte da Europa. Nossos filhos e nossos netos continuarão a ter um futuro maravilhoso como europeus. É a essência de nosso caso que os jovens neste país poderão olhar para um futuro mais seguro e mais próspero se retomarmos o controle democrático", concluiu o ex-prefeito londrino.
Post no Financial Times se torna viral
Um comentário de um leitor do jornal Financial Times resume bem o sentimento entre boa parte dos jovens no Reino Unido. O leitor, que assinou apenas como Nicholas, citou três "tragédias" com o resultado do referendo.
"Primeiramente, as classes operárias votaram para que todos saíssemos [da UE] porque elas estão economicamente negligenciadas, mas serão elas que, em curto prazo, sofrerão mais com a escassez de empregos e investimentos", diz o comentário, que já foi compartilhados mais de 35 mil vezes.
"Em segundo lugar, a geração mais jovem perdeu o direito de viver e trabalhar em outros 27 países. Nunca saberemos a extensão de oportunidades, amizades, casamentos e experiências perdidas. A liberdade de movimento foi tirada por nossos pais, tios e avôs - um revés para uma geração que já está se afogando nas dívidas de nossos antecessores", escreveu.
"Em terceiro, e talvez mais significativo, agora vivemos numa democracia pós-factual", afirmou. "Alguém pode me dizer a última vez que uma dominante cultura de anti-intelectualismo levou a alguma coisa senão a bigotismo?".
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