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Como o selo "made in Germany" triunfou

Klaus Ulrich (as)

27/03/2017 12h11

Criada no Reino Unido há 125 anos como sinal de alerta a consumidores, marca acabou virando sinônimo de qualidade e hoje é considerada a mais forte do mundo. Triunfo definitivo, porém, só veio depois da Segunda Guerra.Não foram os alemães que inventaram o selo made in Germany. Ele surgiu como parte do British Merchandise Marks Act, que entrou em vigor em 23 de agosto de 1887. A lei determinava que todo produto estrangeiro – potencial rival de um produto britânico – deveria receber uma marca de procedência. Cada nação que quisesse vender seus produtos no Reino Unido teria que marcá-los com o país de origem. Era uma tentativa de fazer com os que consumidores britânicos comprassem o produto nacional."O alvo principal era a Alemanha, já que os alemães eram acusados de copiar os produtos britânicos", explica o historiador Werner Abelshauser, da Universidade de Bielefeld. Entre os produtos afetados pela legislação estavam facas e tesouras feitas em Solingen, que muitas vezes eram vendidas como se fossem britânicas, e máquinas fabricadas na Saxônia.Segundo Abelshauser, a lei tinha dois objetivos: o primeiro era impedir que os consumidores britânicos comprassem imitações baratas da cutelaria made in Sheffield, conhecida pela sua elevada qualidade. O segundo era estigmatizar os produtos da engenharia mecânica alemã, já naqueles tempos superiores em qualidade aos britânicos, ao marcá-los com um selo negativo.O tiro saiu pela culatra. O selo made in Germany acabou virando um sinal de qualidade, já que os fabricantes alemães, confrontados com a situação, trataram de melhorar seus produtos, e consumidores de todo o mundo passaram a ver que eles não eram necessariamente inferiores. Esse foi um dos motivos para o crescimento da economia alemã no fim do século 19 e os primeiros anos do século 20.Hoje, made in Germany é o melhor selo que um produto pode ostentar, segundo um estudo internacional do site de estatísticas Statista. O estudo ouviu 43 mil pessoas em 53 países, que representam 90% da população global. Logo depois da Alemanha aparecem a Suíça e o selo made in EU, da União Europeia. Evolução lenta de uma marcaNo Acordo de Madri sobre o Registro Internacional de Marcas, de 1891, a maioria dos países concordou em banir, de seus produtos, informações falsas sobre a origem. Nenhum produto deveria mais ser vendido com o selo de outro país, e todos se comprometeram a usar seu próprio selo made in.Quando a Primeira Guerra Mundial eclodiu, em 1914, o selo made in Germany recebeu cada vez mais atenção: a identificação passou a ser importante para facilitar o boicote de produtos alemães pelos consumidores britânicos.Mas o triunfo do selo só viria depois da Segunda Guerra Mundial, na época do chamado "milagre alemão". Consumidores de todo o mundo perceberam que a Alemanha, ao contrário dos Estados Unidos, não se voltava para a produção em massa, mas focava em qualidade e em "produção pós-industrial sob medida", como descreve Abelshauser."Até hoje, a indústria alemã é especializada na relação estreita com o consumidor. Ela fornece segundo requisitos exatos, não importa se instalações completas, projetos de infraestrutura complexos ou máquinas inteligentes." E isso é o contrário de um sistema de produção em massa, afirma.Na medida em que a demanda por produtos fabricados dessa maneira crescia, aumentava também o uso publicitário da marca made in Germany, uma estratégia que se mostrou bem-sucedida. Até hoje, é um selo de qualidade respeitado em todo o mundo, e um dos motivos para muitas pessoas comprarem um produto – especialmente em setores onde a indústria alemã se destaca, como automóveis, máquinas industriais, eletrônicos e produtos químicos.