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Um dia como delegado da ONU na escola

Helena Oliveira

26/05/2017 17h53

Em busca de respostas para problemas mundiais, escola alemã em São Paulo simula conferência das Nações Unidas. Mais de 170 alunos participam do projeto, discutindo temas como meio ambiente e missões de paz.Quando Ana Thereza Schiemer, de 16 anos, entra nas salas de aula, todos os presentes se levantam em sinal de deferência. "Obrigada, delegados. Agora vocês podem se sentar", diz, em inglês, a menina escolhida para o cargo de Secretária-Geral do Humunited, a simulação da Organização das Nações Unidas (ONU) coordenada pelo Colégio Humboldt, em São Paulo.Durante três dias, ao menos 170 alunos de seis escolas brasileiras encararam o desafio de pesquisar, discutir e elaborar soluções para problemas e conflitos mundiais em plenárias organizadas aos moldes das comissões e conselhos existentes na estrutura das Nações Unidas. Na pauta do Conselho de Segurança, por exemplo, está o conflito na Síria. No comitê de Energia Atômica, o debate sobre o uso pacífico da matriz energética."É possível aprender esses temas na aula de História, por exemplo, mas o conceito aqui é diferente. Os debates são para encontrar soluções coletivas, que atendam a todos", explica Schiemer, ressaltando que há regras pré-estabelecidas de como as discussões devem ser conduzidas.Nas sessões, cada aluno é responsável por representar as posições de um país, na condição de delegado. Além do uso obrigatório do inglês, os estudantes são estimulados a entrar de cabeça no mundo da diplomacia, com o uso do vocabulário adequado e de roupas formais.Assim, o que se vê nos espaços da escola, no lugar dos uniformes e das aulas tradicionais, são adolescentes entre 13 e 19 anos trajando ternos, saias sociais e salto alto debatendo, muitas vezes apaixonadamente, os pontos de vista de cada uma das 18 nações selecionadas para a ONU escolar.No Comitê Legal, por exemplo, durante o debate sobre o estabelecimento de parâmetros legislativos para intervenções e missões de paz em países estrangeiros, os delegados dos Estados Unidos e da Rússia divergiram sobre as definições do que é uma intervenção e o que é uma missão de paz conduzida pela ONU. Já no de Meio Ambiente, a busca era por saídas criativas para o problema do lixo marinho.Responsável pela mediação das discussões como "chair” (presidente) do Comitê de Meio Ambiente, Alexandre Kröner, de 16 anos, relata algumas das propostas apresentadas pelos alunos. A representação da Alemanha, por exemplo, sugeriu a utilização de barcos para remover o lixo dos mares e oceanos. Já a Argélia propôs barcos menores, com pessoas responsáveis pela "pesca" dos dejetos. "Houve também uma proposta de se utilizar uma larva, descoberta recentemente, que tem a capacidade de digerir o plástico. Também teve um projeto de colocar uma rede no oceano para conter o lixo, ao mesmo tempo que permitiria aos animais escaparem sem se prenderem", conta o aluno do 3º ano do Ensino médio. Interesses por outras culturasO evento movimenta professores e alunos do 9º ano do Ensino Fundamental, do Ensino Médio e inclui, ainda, estudantes do curso Abitur, realizado após a última etapa da Educação Básica e voltado para os alunos que têm o objetivo de estudar em universidades alemãs. Aos alunos menores, cabe o apoio logístico ao evento. Os mais velhos participam dos conselhos como delegados da ONU ou como membros do secretariado da organização criada na escola.Para a professora Danielle de Toledo Pereira, uma das coordenadoras do projeto, um dos maiores méritos do Humunited é o seu caráter interdisciplinar e o ganho de proficiência no idioma, já que todo o evento é realizado na língua inglesa. "Isso é muito utilizado nas escolas da Alemanha. Fui ao país e fiquei encantada com as discussões e com a maturidade dos alunos que se envolviam nos debates", conta. O Colégio Humboldt realizou sua primeira experiência em 2016. Neste ano, antes mesmo da realização do evento entre esta quarta-feira (24/05) e sexta-feira, alguns alunos já tinham participado de outras simulações da ONU em colégios alemães do Equador e da Colômbia.Para a coordenadora das áreas de Inglês e Espanhol da escola paulistana, com a experiência, os alunos tornam-se mais abertos ao conhecimento de outras culturas, em especial, às muito diferentes do Brasil. "Eles passam a querer entender outras realidades, e não simplesmente criticar", explica.Força da juventude"É mais difícil do que eu imaginava defender, às vezes, uma posição que não é a sua pessoal, mas a do país", conta Laura Iskin, 15 anos, aluna da Escola Alemã Corcovado, no Rio de Janeiro. A estudante, que viajou especialmente para participar da simulação, era delegada da Ucrânia no Conselho dos Direitos Humanos."O que eu levo é o aprendizado sobre a visão das outras pessoas. Como vivemos num mundo eurocêntrico, temos uma melhor visão dos países de lá. Com a conferência, consegui perceber que o mundo não é preto no branco", afirma. Para Guilherme Hu, de 18 anos, além dos ganhos em se ouvir opiniões divergentes, o evento serviu para aprender a debater de uma forma mais organizada. "Os debates que fazemos normalmente na escola ou na vida social são mais caóticos. No debate regrado você aprende a respeitar, a ouvir e se colocar na hora certa. Isso é uma grande lição", afirma ele, que foi presidente do Comitê de Energia Atômica. Já Fernanda Souza, de 17 anos, foi a responsável por organizar a imprensa do evento. Sob sua alçada, havia a publicação de um jornal diário sobre o Humunited, distribuído à comunidade escolar. Além disso, também foi o comitê organizador do projeto. Para ela, o aprendizado maior foi o envolvimento mais direto com questões políticas e sociais."A política está em tudo, está no dia a dia, por isso precisamos ter o mínimo de preparo. O projeto ajuda, por exemplo, na atualização e na seleção de fontes confiáveis para as pesquisas que fizemos", diz ela, que também ressalta o estímulo ao pensamento crítico.Kröner, que participou também na simulação da ONU realizada em 2016 no colégio, acredita que a experiência também fortalece, de alguma forma, a juventude. "Muitos acreditam que os jovens não sabem nada da vida. Queremos contradizer isso, mostrar que temos diplomacia, até mais do que alguns adultos que estão representando nossos países", conclui.