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Número de jornalistas mortos cai em 2017, diz ONG; sequestros aumentam

22.out.2017 - Protesto contra o assassinato da jornalista Daphne Caruana Galizia, em Malta; cartaz diz: "Não esqueceremos! #JustiçaParaDaphne" - AFP PHOTO / Matthew Mirabelli
22.out.2017 - Protesto contra o assassinato da jornalista Daphne Caruana Galizia, em Malta; cartaz diz: "Não esqueceremos! #JustiçaParaDaphne" Imagem: AFP PHOTO / Matthew Mirabelli

19/12/2017 09h25

Total de 65 profissionais da imprensa mortos é o menor em 14 anos, segundo relatório da ONG Repórteres Sem Fronteiras. Brasil registra uma morte, e Síria é líder em sequestros - crime que aumentou ligeiramente em relação a 2016.

No ano de 2017, 65 jornalistas e colabores de meios de comunicação foram mortos no mundo, divulgou a organização Repórteres Sem Fronteiras (RSF) nesta terça-feira (19/12). O número representa um decréscimo de 18% em relação ao ano anterior (79 mortos) – 2017 foi o ano menos mortífero para a profissão em 14 anos.

Ao mesmo tempo, no momento há 54 jornalistas e colaboradores de meios de comunicação reféns – dois a mais que em 2016.

Protesto contra assassinato de jornalistas no mundo - Unesco via DW - Unesco via DW
Total de 65 jornalistas mortos é o menor em 14 anos, segundo relatório
Imagem: Unesco via DW

Entre os 65 mortos, 50 eram jornalistas profissionais, sete eram jornalistas-cidadãos (blogueiros, por exemplo) e oito colaboradores de meios de comunicação (câmeras e técnicos, por exemplo). No total, 55 eram homens, e dez, mulheres. A grande maioria morreu em seus países de origem (58), enquanto sete foram mortos durante reportagens no exterior.

Vinte e seis jornalistas foram mortos durante o exercício de suas funções (mortos em campo, durante uma cobertura, sem que tenham sido visados intencionalmente), enquanto 39 foram assassinados ou deliberadamente visados devido as suas atividades investigativas.

Levando em conta somente o número que contabiliza as mortes de jornalistas profissionais, 2017 foi o ano menos mortífero desde 2003 – nestes 15 anos, 1.035 jornalistas foram mortos mundo afora.

54 sequestrados – todos em zonas de guerra

Todos os jornalistas sequestrados estão em zonas de guerras, 96% deles no Oriente Médio - a exceção são dois jornalistas sequestrados na Ucrânia. Síria e Iraque lideram a lista com 29 e 11 reféns, respectivamente. Entre todos os 54 reféns, somente uma é mulher.

Sequestros são vistos como bons negócios por grupos armados e organizações terroristas. Segundo a RSF, os principais sequestradores são o Estado Islâmico, com 22 reféns, e os rebeldes houthis, do Iêmen, com 11. Por fim, a RSF registrou dois jornalistas como desaparecidos – um no Paquistão, e outro no Bangladesh.

Síria e México: sinônimo de perigo

Síria e México são os países mais perigosos para exercer a atividade jornalística. Arrasada por um conflito civil, a Síria lidera a lista de país mais mortífero há seis anos – em 2017, 12 jornalistas foram mortos. Em campo, os repórteres ficam permanentemente expostos a tiroteios, mísseis, explosões ou atentados. O mesmo vale para Afeganistão (nove mortos) e Iraque (oito). Com quatro mortes, as Filipinas são o país mais mortífero da Ásia.

O México segue próximo da Síria, com 11 mortos – assim como no ano passado, o México é o país considerado em situação de paz mais perigoso do mundo para repórteres e, consequentemente, o mais mortífero da América Latina. Para efeito de comparação, o Brasil registrou apenas uma morte em 2017 – são 21 assassinatos nos últimos cinco anos.

6.out.2017 - Foto do fotojornalista Edgar Daniel Esqueda Castro sob a frase "descanse em paz, amigo" é exibida antes de entrevista coletiva com o governo do Estado de San Luis Potosi. O corpo de Castro foi encontrado com ao menos três ferimentos de tiros nas costas e no pescoço, disseram autoridades estatais. De acordo com o grupo de liberdade de imprensa e direitos de jornalistas Artigo 19, ele foi o 11º repórter morto no México até o momento em 2017. - Christian Palma/AP - Christian Palma/AP
Fotojornalista Edgar Daniel Esqueda Castro, assassinado no México em outubro
Imagem: Christian Palma/AP

No geral, quase metade dos jornalistas (46%) morreu em países nos quais não rege um conflito um armado. Apesar de em comparação a estatística do número de jornalistas mulheres mortas em 2017 ser consideravelmente menor do que o de homens, o número dobrou em relação ao ano anterior – em 2016, foram cinco, e em 2017, dez jornalistas mortas.

O caso mais notório foi o da jornalista Daphne Caruana Galizia, morta em 16 de outubro num atentado em Malta. Por meio de seu blog, Galizia denunciava casos de corrupção, tráfico, propinas e lavagem de dinheiro em Malta, o menor país da União Europeia (EU). Ela publicou uma série de artigos sobre o envolvimento de pessoas próximas ao primeiro-ministro de Malta, Joseph Muscat, no caso dos chamados Panama Papers.

Segundo dados da RSF, o assassinato de Galizia foi o quarto atentado contra jornalistas dentro da União Europeia nos últimos dez anos – os outros foram o massacre de sete jornalistas do semanário francês Charlie Hebdo, em 2015, e os assassinatos de um repórter grego, em 2010, e outro croata, em 2008.

Daphne Caruana Galizia - Darrin Zammit/Reuters - Darrin Zammit/Reuters
Daphne Caruana Galizia, assassinada em Malta
Imagem: Darrin Zammit/Reuters

China e Turquia lideram detenções

Além disso, o relatório da Repórteres Sem Fronteira destacou que atualmente ao menos 326 jornalistas e colaborados de meios de comunicação estão detidos mundo afora – 310 homens e 16 mulheres. A China lidera a lista com 52 jornalistas presos, seguida por Turquia (43), Síria (24), Irã (23) e Vietnã (19). Na China, grande parte dos casos é relacionada a blogueiros.

Já a Turquia lidera a estatística de jornalistas profissionais detidos: 42, no total.

Após a fracassada tentativa de golpe militar de 2016, jornalistas têm sido alvo de perseguições no país. Opiniões críticas em relação ao governo, uma colaboração com meios de comunicação considerados "suspeitos", contato com fontes sensíveis ou o uso de um aplicativo de mensagens criptografas são o suficiente, geralmente, para que os jornalistas sejam jogados na prisão sob acusação de "terrorismo".

 

A grande maioria deles não foi nem mesmo condenada: a detenção provisória, supostamente uma medida de exceção, tende a se tornar permanente e sistemática na Turquia.