Democracia em jogo no Peru
Congresso peruano vota sobre destituição de Kuczynski, acusado de corrupção. Para analistas, escândalos em torno da Odebrecht e luta de poder entre presidente e oposição ameaçam estabilidade democrática no país.Diante das acusações de corrupção no caso Odebrecht, que estão agitando o primeiro escalão da política no Peru, o Congresso do país sul-americano, de maioria fujimorista, deve votar nesta quinta-feira (21/12) a destituição do presidente Pedro Pablo Kuczynski. A oposição procura destituir o chefe de Estado por "incapacidade moral permanente".
Embora a oposição conte com votos suficientes para destituir Kucynski, ainda não é certo que isso aconteça. "Depende do cálculo por trás desta manobra", disse à DW a cientista política Bettina Schorr, da Universidade Livre de Berlim.
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"Se a bancada fujimorista estiver convencida de que a destituição lhe trará ganhos a curto prazo, ele o fará. Mas, atualmente, este não é o caso, pois [Kuczynski] seria substituído pelo vice-presidente, e não pela líder do partido oposicionista Força Popular, Keiko Fujimori, o motor por trás deste drama. Fala-se eventualmente de novas eleições. Nesse caso, a pergunta é se eles [os oposicionistas] têm possibilidades de ganhar ou não", acrescentou Schorr.
No último domingo, o presidente peruano reiterou a sua inocência numa entrevista na TV, rejeitando as acusações de corrupção pelos contratos que uma de suas empresas assinou com a construtora brasileira Odebrecht, entre 2004 e 2007, quando era ministro do ex-presidente Alejandro Toledo.
"Não cometi nenhum crime. Não pratiquei corrupção nem abri contas fictícias em paraísos fiscais. Tudo foi fiscalizado, reportado e tributado", afirmou Kuczynski. O mandatário também apontou que o empresário chileno Gerardo Sepúlveda administrava a empresa Westfield Capital, pertencente a Kuczynski, e assinou os contratos com a Odebrecht enquanto o atual presidente peruano atuava como ministro.
"Já não se pode mais confiar em político algum"
Na opinião da pesquisadora peruana Sofia Vera, do Instituto Alemão de Estudos Globais e Regionais (Giga), a renúncia de Kuczynski é uma possibilidade. "Mas eu não acho que ele queira se retirar sem enfrentar o Congresso. Ele anunciou que se defenderá na quinta-feira. No entanto, não está claro que essa defesa possa mudar a opinião de um número suficiente de deputados para votar contra a destituição."
Vera ressalta que o presidente sul-americano conta com um alto nível de desaprovação. "Sua imagem está abalada, mas essa não é uma condição suficiente para destituir um presidente", ponderou.
Schorr enfatizou que o escândalo de corrupção em torno da Odebrecht no Peru levou à percepção generalizada de que "já não se pode mais confiar em ninguém". A cientista política lembrou o caso da ex-prefeita de Lima Susana Villarán, de centro-esquerda, acusada de receber financiamento ilícito das empresas brasileiras Odebrecht e OAS para sua campanha.
"Mesmo os políticos da esquerda progressista ou pessoas com uma boa reputação se envolveram em escândalos de corrupção", disse a cientista política.
"Sérias consequências para a democracia"
"Kuczynski é um presidente fraco, porque se encontra permanentemente confrontado com um Congresso determinado a tornar sua vida impossível, na realidade estamos falando de sabotagem [...] No Peru não se governa, não se faz política desde a tomada de posse em julho de 2016", afirmou Schorr.
No entanto, dado o comportamento obstrutivo dos fujimoristas, grande parte da classe média alta está ciente de que o que está em jogo é "a institucionalidade democrática". "Não se trata de defender Kuczynski, mas a democracia peruana como um todo", considerou a cientista política.
Vera adverte que a renúncia ou destituição do presidente "teria consequências muito graves para a estabilidade democrática do país". O Peru está tendo o período democrático mais longo de sua história republicana, com 17 anos de duração, desde 2001, e, portanto, "este é um momento crucial", disse.
"O vice-presidente Martín Vizcarra pode vir a ser tão ou mais fraco que Kuczynski. O precedente que deixaria uma saída presidencial acelerada como esta, sob justificativas legais duvidosas, é muito sério para a saúde democrática do país", afirmou. "Entrará para a história o papel nefasto do fujimorismo, uma oposição obstinada e com pouca maturidade política para conter suas ambições e esperar sua vez nas próximas eleições, de 2021."
Schorr não acredita que as eleições antecipadas tragam uma mudança substancial. "Estou consternada. Na última década, o Peru registrou um incrível crescimento econômico. É uma nação em expansão, mas os políticos são incapazes de fazer algo bom para o seu país", diz. "A única solução é que as pessoas tomem maciçamente as ruas e exijam instituições eficazes e políticos que respeitem as regras."
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Embora a oposição conte com votos suficientes para destituir Kucynski, ainda não é certo que isso aconteça. "Depende do cálculo por trás desta manobra", disse à DW a cientista política Bettina Schorr, da Universidade Livre de Berlim.
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"Se a bancada fujimorista estiver convencida de que a destituição lhe trará ganhos a curto prazo, ele o fará. Mas, atualmente, este não é o caso, pois [Kuczynski] seria substituído pelo vice-presidente, e não pela líder do partido oposicionista Força Popular, Keiko Fujimori, o motor por trás deste drama. Fala-se eventualmente de novas eleições. Nesse caso, a pergunta é se eles [os oposicionistas] têm possibilidades de ganhar ou não", acrescentou Schorr.
No último domingo, o presidente peruano reiterou a sua inocência numa entrevista na TV, rejeitando as acusações de corrupção pelos contratos que uma de suas empresas assinou com a construtora brasileira Odebrecht, entre 2004 e 2007, quando era ministro do ex-presidente Alejandro Toledo.
"Não cometi nenhum crime. Não pratiquei corrupção nem abri contas fictícias em paraísos fiscais. Tudo foi fiscalizado, reportado e tributado", afirmou Kuczynski. O mandatário também apontou que o empresário chileno Gerardo Sepúlveda administrava a empresa Westfield Capital, pertencente a Kuczynski, e assinou os contratos com a Odebrecht enquanto o atual presidente peruano atuava como ministro.
"Já não se pode mais confiar em político algum"
Na opinião da pesquisadora peruana Sofia Vera, do Instituto Alemão de Estudos Globais e Regionais (Giga), a renúncia de Kuczynski é uma possibilidade. "Mas eu não acho que ele queira se retirar sem enfrentar o Congresso. Ele anunciou que se defenderá na quinta-feira. No entanto, não está claro que essa defesa possa mudar a opinião de um número suficiente de deputados para votar contra a destituição."
Vera ressalta que o presidente sul-americano conta com um alto nível de desaprovação. "Sua imagem está abalada, mas essa não é uma condição suficiente para destituir um presidente", ponderou.
Schorr enfatizou que o escândalo de corrupção em torno da Odebrecht no Peru levou à percepção generalizada de que "já não se pode mais confiar em ninguém". A cientista política lembrou o caso da ex-prefeita de Lima Susana Villarán, de centro-esquerda, acusada de receber financiamento ilícito das empresas brasileiras Odebrecht e OAS para sua campanha.
"Mesmo os políticos da esquerda progressista ou pessoas com uma boa reputação se envolveram em escândalos de corrupção", disse a cientista política.
"Sérias consequências para a democracia"
"Kuczynski é um presidente fraco, porque se encontra permanentemente confrontado com um Congresso determinado a tornar sua vida impossível, na realidade estamos falando de sabotagem [...] No Peru não se governa, não se faz política desde a tomada de posse em julho de 2016", afirmou Schorr.
No entanto, dado o comportamento obstrutivo dos fujimoristas, grande parte da classe média alta está ciente de que o que está em jogo é "a institucionalidade democrática". "Não se trata de defender Kuczynski, mas a democracia peruana como um todo", considerou a cientista política.
Vera adverte que a renúncia ou destituição do presidente "teria consequências muito graves para a estabilidade democrática do país". O Peru está tendo o período democrático mais longo de sua história republicana, com 17 anos de duração, desde 2001, e, portanto, "este é um momento crucial", disse.
"O vice-presidente Martín Vizcarra pode vir a ser tão ou mais fraco que Kuczynski. O precedente que deixaria uma saída presidencial acelerada como esta, sob justificativas legais duvidosas, é muito sério para a saúde democrática do país", afirmou. "Entrará para a história o papel nefasto do fujimorismo, uma oposição obstinada e com pouca maturidade política para conter suas ambições e esperar sua vez nas próximas eleições, de 2021."
Schorr não acredita que as eleições antecipadas tragam uma mudança substancial. "Estou consternada. Na última década, o Peru registrou um incrível crescimento econômico. É uma nação em expansão, mas os políticos são incapazes de fazer algo bom para o seu país", diz. "A única solução é que as pessoas tomem maciçamente as ruas e exijam instituições eficazes e políticos que respeitem as regras."
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