'Para onde vamos?': os 38 minutos de pânico no Havaí no alarme falso do míssil norte-coreano
Havaianos descrevem os 38 minutos de pânico após receberem um falso alarme de míssil: "Ninguém sabia o que fazer." Equívoco levanta dúvidas quanto a preparo do governo para emergência real
Quando Jonathan Scheuer recebeu no celular o alerta - que mais tarde se revelaria falso - de que um míssil balístico estava a caminho do Havaí, ele e a família não sabiam o que fazer. "Para onde vamos?", se perguntou o morador. Eles decidiram, então, que seria mais seguro permanecer no piso térreo de sua casa, em Honolulu.
"Claramente há uma lacuna imensa entre informar as pessoas de que algo vai acontecer e ter algo que elas possam fazer", disse Scheuer. "Ninguém sabia o que fazer."
Moradores e turistas permaneceram chocados no dia seguinte ao alerta, disparado no último sábado (13), por engano, para celulares em todo o arquipélago havaiano, com as palavras: "Isto não é uma simulação."
De acordo com instruções distribuídas anteriormente pelo governo, em caso de um alarme de ataque como esse, a população deveria buscar abrigo imediatamente num edifício ou outra "estrutura substancial". O Estado recomenda ter em casa um kit de sobrevivência de água e comida para 14 dias.
Passaram 38 minutos até que o alerta fosse desmentido, e muitos residentes do Havaí responderam a ele, buscando refúgio em corredores e porões.
"Foi o pior momento da minha vida. Todo mundo estava em pânico", disse a havaiana Alison Teal. "Viajando pelo mundo como aventureira, já estive em situações muito assustadoras, de tempestades de neve a tubarões e lava. Nada foi tão aterrorizante quanto um míssil vindo para matar todo mundo que você conhece e ama."
Lauren McGowan, de férias em Maui com familiares e amigos, estava indo tomar café dá manhã quando recebeu o alerta. Eles voltaram rapidamente para o hotel, onde os funcionários os levaram, junto com cerca de outras 30 pessoas, a uma lanchonete no porão, onde não havia sinal telefônico. Ali, distribuíram água e comida.
O alerta e a pressa para se abrigar causaram "confusão", especialmente para as crianças, conta McGowan. "Ninguém tinha ideia do que realmente estava acontecendo."
O usuário do Twitter Andy Priest contou que seus pais pensaram que iriam morrer quando o alarme soou. "Meu pai disse que se era a hora de eles partirem, ele queria ficar olhando para o mar e apreciando a vista", escreveu.
Vários jogadores de golfe que participavam do torneio US PGA Tour's Sony Open, em Honolulu, também reagiram alarmados ao episódio.
"Embaixo de colchões na banheira com minha esposa, bebê e sogros", escreveu o jogador americano John Peterson no Twitter. "Por favor, Senhor, que esta ameaça de bomba não seja real."
Lisa Foxen, que vive no leste de Honolulu, disse que a melhor coisa que o susto trouxe foi que ele obrigou sua família a elaborar um plano para o caso de uma ameaça real.
"Eu sabia o que fazer num furacão. Eu sabia o que fazer num terremoto. Mas o míssil era algo novo para mim", disse.
Ceticismo após alarme falso
O alerta, que fez com que mais de um milhão de pessoas acreditassem que estavam prestes a serem atingidas por um míssil, foi disparado durante uma troca de turno na Agência de Gestão de Emergências do Havaí. Ao realizar um teste de rotina, um funcionário apertou o botão errado, segundo autoridades.
O alarme falso do fim de semana provocou ceticismo quanto à capacidade do governo de informar a população no caso de uma emergência real, num momento em que a Coreia do Norte vem realizando uma série de testes de mísseis e nucleares. Pyongyang afirma ter ogivas atômicas capazes de atingir os Estados Unidos, inclusive o arquipélago do Havaí.
Após o erro, a Agência de Gestão de Emergências mudou seus protocolos, passando a exigir que duas pessoas enviem um alerta e tornou mais fácil o cancelamento de um alerta equivocado – o que no sábado levou 38 minutos.
Turistas e residentes receberam o falso alerta um mês depois de o Havaí testar seu sistema de sirenes para um ataque nuclear. O governo local vai realizar a simulação – o primeiro do tipo desde a Guerra Fria – uma vez por mês.
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