O novo rosto do movimento antiarmas nos EUA
Após massacre em escola da Flórida, estudantes assumem liderança do ativismo contra as armas e exigem mudanças na legislação. Especialistas avaliam que estratégica de focar no lobby armamentista é acertada.Sempre que um massacre ocorre nos EUA, o mesmo ciclo se repete: os legisladores republicanos dedicam seus pensamentos e orações às vítimas, mas alertam que essa não é a melhor hora para se discutir leis mais severas. Já a Associação Nacional do Rifle (NRA, na sigla em inglês), o poderoso lobby das armas do país, permanece em silêncio. Depois de alguns dias, ou algumas semanas, no máximo, o tema controle de armas vai desaparecendo da pauta, dando lugar a outros assuntos, sem que alguma ação significativa tenha sido tomada para evitar a próxima chacina.
Leia mais: Opinião: Já era hora de alguém questionar a insanidade das armas nos EUA
Mas, para muitas pessoas que ouviram as poderosas e eloquentes palavras dos adolescentes que sobreviveram ao massacre que deixou 17 mortos na escola secundária Marjory Stoneman Douglas, em Parkland, na Flórida, a impressão é de que agora pode mesmo ser diferente.
A visível determinação desses jovens de não aceitar o status quo, as acusações de inação e cumplicidade feitas aos políticos e às gerações mais velhas e a simplicidade contundente do argumento principal deles, de que eles deveriam ser protegidos, tudo isso atingiu a televisão e as redes sociais, tornando impossível que não fossem ouvidos.
Adolescentes na liderança
"O que é diferente desta vez é que os adolescentes que sobreviveram ao ataque colocaram uma face humana nele, e eles estão abordando o assunto com a superioridade moral e a energia típicas dos jovens", avalia David Meyer, que estuda movimentos sociais na Universidade da Califórnia, em Irvine.
"Depois do massacre em Newtown, em 2012, organizações tradicionais estavam à frente dos protestos. Desta vez, elas estão apenas dando apoio aos jovens", diz Meyer. No massacre de Newtown de 2012, 20 alunos do primeiro ano e seis funcionários foram mortos na escola fundamental Sandy Hook.
"Depois de cada massacre, pessoas que querem o fim da violência se unem a grupos de ativismo", afirma Kathleen Roming, militante do grupo Moms Demand Action for Gun Sense in America (mães reivindicam ações pelo uso sensato de armas na América). "Mas este massacre é diferente, pois nunca vimos tamanha onda de entusiasmo entre jovens e estudantes que exigem mudanças", acrescenta.
Resposta cuidadosa da Casa Branca
E, menos de uma semana após o massacre, o protesto dos estudantes parece ter tido algum impacto na Casa Branca, que emitiu uma declaração, embora muito vaga, dizendo que o presidente apoia esforços para melhorar o controle de antecedentes na venda de armas, seguida de um memorando para que o procurador-geral proponha regulamentações que proíbam todos os dispositivos que transformam armas legais em metralhadoras.
Essas medidas podem ser interpretadas como um sinal positivo vindo da Casa Branca, mas é importante observar que o presidente Donald Trump sempre foi um defensor firme e aberto do direito de posse de armas. Quaisquer esforços sérios realizados pela Casa Branca – ou pelos republicanos – para tornar a legislação de armas mais severa seriam uma reviravolta para estes presidente e legisladores conservadores.
NRA como alvo
"É por isso que a estratégia dos estudantes da escola na Flórida é tão inteligente", diz Meyer. "Ela não foca numa agenda legislativa limitada ou entra numa discussão sobre detalhes técnicos de armas, mas foca no geral – e na NRA –, pedindo aos políticos que repudiem qualquer apoio financeiro do grupo."
"Acho que é realmente um grande objetivo, porque quer dizer que eles não vão se perder em debates sobre se armas de assalto são realmente responsáveis por muitas mortes ou se o controle de antecedentes na venda de armas é mesmo eficaz. Em vez disso, eles estão partindo da premissa de que a NRA significa acesso livre a armas e que isso é ruim para a política."
Isso certamente não fará a NRA mudar de posição, mas tornará mais difícil para candidatos republicanos explicar por que aceitam dinheiro de um grupo que trabalha para que armas sejam acessíveis. Meyer também prevê que o movimento ganhará força com o apoio dos muitos novos grupos que se formaram depois de um ano de excepcional resistência política ao Partido Republicano e a Trump.
Um geração de massacres
"E eu acrescentaria que Trump tem pouco talento para acalmar ou reconfortar descontentes", diz Meyer. "Para um presidente, consolar pessoas depois de uma tragédia é parte do trabalho, e alguns democratas são bons nisso e alguns republicanos são bons nisso, mas Trump é realmente muito ruim nisso. Toda vez que ele aparece, ele deixa as pessoas ainda mais irritadas. Isso pode ajudar a dinamizar a mobilização."
Roming também tem esperança de que os estudantes da escola na Flórida consigam impulsionar mudanças duradouras. "Esta é realmente uma geração de massacres", diz, explicando que a atual geração cresceu com os treinamentos regulares para situações de tiroteio nas escolas. "Eles basicamente ensaiam o próprio massacre em suas escolas, como parte do cotidiano escolar", ressalta.
"E, depois desse último massacre, eles não só estão dizendo que estão fartos desse ciclo de violência e pedindo mudanças, mas exigindo mudanças", afirma a ativista Katy Klein, do grupo Aliance for Guns Responsibility (Aliança pela responsabilidade com as armas), sediado no estado de Washington.
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A Deutsche Welle é a emissora internacional da Alemanha e produz jornalismo independente em 30 idiomas. Siga-nos no Facebook | Twitter | YouTube | WhatsApp | App
Leia mais: Opinião: Já era hora de alguém questionar a insanidade das armas nos EUA
Mas, para muitas pessoas que ouviram as poderosas e eloquentes palavras dos adolescentes que sobreviveram ao massacre que deixou 17 mortos na escola secundária Marjory Stoneman Douglas, em Parkland, na Flórida, a impressão é de que agora pode mesmo ser diferente.
A visível determinação desses jovens de não aceitar o status quo, as acusações de inação e cumplicidade feitas aos políticos e às gerações mais velhas e a simplicidade contundente do argumento principal deles, de que eles deveriam ser protegidos, tudo isso atingiu a televisão e as redes sociais, tornando impossível que não fossem ouvidos.
Adolescentes na liderança
"O que é diferente desta vez é que os adolescentes que sobreviveram ao ataque colocaram uma face humana nele, e eles estão abordando o assunto com a superioridade moral e a energia típicas dos jovens", avalia David Meyer, que estuda movimentos sociais na Universidade da Califórnia, em Irvine.
"Depois do massacre em Newtown, em 2012, organizações tradicionais estavam à frente dos protestos. Desta vez, elas estão apenas dando apoio aos jovens", diz Meyer. No massacre de Newtown de 2012, 20 alunos do primeiro ano e seis funcionários foram mortos na escola fundamental Sandy Hook.
"Depois de cada massacre, pessoas que querem o fim da violência se unem a grupos de ativismo", afirma Kathleen Roming, militante do grupo Moms Demand Action for Gun Sense in America (mães reivindicam ações pelo uso sensato de armas na América). "Mas este massacre é diferente, pois nunca vimos tamanha onda de entusiasmo entre jovens e estudantes que exigem mudanças", acrescenta.
Resposta cuidadosa da Casa Branca
E, menos de uma semana após o massacre, o protesto dos estudantes parece ter tido algum impacto na Casa Branca, que emitiu uma declaração, embora muito vaga, dizendo que o presidente apoia esforços para melhorar o controle de antecedentes na venda de armas, seguida de um memorando para que o procurador-geral proponha regulamentações que proíbam todos os dispositivos que transformam armas legais em metralhadoras.
Essas medidas podem ser interpretadas como um sinal positivo vindo da Casa Branca, mas é importante observar que o presidente Donald Trump sempre foi um defensor firme e aberto do direito de posse de armas. Quaisquer esforços sérios realizados pela Casa Branca – ou pelos republicanos – para tornar a legislação de armas mais severa seriam uma reviravolta para estes presidente e legisladores conservadores.
NRA como alvo
"É por isso que a estratégia dos estudantes da escola na Flórida é tão inteligente", diz Meyer. "Ela não foca numa agenda legislativa limitada ou entra numa discussão sobre detalhes técnicos de armas, mas foca no geral – e na NRA –, pedindo aos políticos que repudiem qualquer apoio financeiro do grupo."
"Acho que é realmente um grande objetivo, porque quer dizer que eles não vão se perder em debates sobre se armas de assalto são realmente responsáveis por muitas mortes ou se o controle de antecedentes na venda de armas é mesmo eficaz. Em vez disso, eles estão partindo da premissa de que a NRA significa acesso livre a armas e que isso é ruim para a política."
Isso certamente não fará a NRA mudar de posição, mas tornará mais difícil para candidatos republicanos explicar por que aceitam dinheiro de um grupo que trabalha para que armas sejam acessíveis. Meyer também prevê que o movimento ganhará força com o apoio dos muitos novos grupos que se formaram depois de um ano de excepcional resistência política ao Partido Republicano e a Trump.
Um geração de massacres
"E eu acrescentaria que Trump tem pouco talento para acalmar ou reconfortar descontentes", diz Meyer. "Para um presidente, consolar pessoas depois de uma tragédia é parte do trabalho, e alguns democratas são bons nisso e alguns republicanos são bons nisso, mas Trump é realmente muito ruim nisso. Toda vez que ele aparece, ele deixa as pessoas ainda mais irritadas. Isso pode ajudar a dinamizar a mobilização."
Roming também tem esperança de que os estudantes da escola na Flórida consigam impulsionar mudanças duradouras. "Esta é realmente uma geração de massacres", diz, explicando que a atual geração cresceu com os treinamentos regulares para situações de tiroteio nas escolas. "Eles basicamente ensaiam o próprio massacre em suas escolas, como parte do cotidiano escolar", ressalta.
"E, depois desse último massacre, eles não só estão dizendo que estão fartos desse ciclo de violência e pedindo mudanças, mas exigindo mudanças", afirma a ativista Katy Klein, do grupo Aliance for Guns Responsibility (Aliança pela responsabilidade com as armas), sediado no estado de Washington.
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