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A propaganda da China chega à Alemanha

Mu Cui (md)

28/09/2018 10h44

Poder dos chineses pode ser percebido também na mídia alemã, com encartes em grandes jornais e até serviço próprio na maior agência de notícias do país. Veículos descartam riscos a sua isenção editorial.Cada vez com mais frequência, a China é acusada de interferir na política interna de outros países. Nesta quarta-feira (26/09), o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, afirmou durante seu discurso no Conselho de Segurança da ONU haver indícios de interferência da China nas próximas eleições americanas em novembro de 2018.

O ministro chinês do Exterior, Wang Yi, rejeitou as acusações, afirmando serem infundadas. Como prova, Trump tuitou mais tarde fotos de jornais americanos que traziam impressos textos de propaganda chinesa disfarçados como notícias.

Também na Alemanha, a China é repetidamente acusada de influenciar deliberadamente a opinião pública. Nesse contexto, uma newsletter da agência de notícias alemã DPA do final de julho deste ano chamou a atenção.

Muitos clientes do veículo receberam uma mensagem comunicando que a DPA passaria a acolher, em seus próprios canais de distribuição, notícias fornecidas pela agência de notícias oficial de Pequim, a Xinhua. Esses textos informariam sobre a chamada Nova Rota da Seda (Belt and Road Initiative, ou BRI) – projeto que é a menina dos olhos do presidente Xi Jinping – de uma perspectiva chinesa.

Quando o especialista em política midiática chinesa David Bandurski leu esse comunicado, ficou alarmado. "A DPA é uma instituição jornalística e agora se deixa envolver com uma agência que tem a obrigação de promover a BRI e a política externa da China", afirmou.

Através da cooperação com a DPA, a Xinhua, vista como porta-voz do governo chinês, quer ganhar mais influência no exterior. Num comunicado divulgado em maio, a Xinhua afirma que a cooperação ajudará os clientes da DPA a perceberem as oportunidades oferecidas pela BRI. A agência também espera elevar sua influência com a parceria, especialmente nos países de língua alemã.

Ofensiva midiática

Não é a primeira vez que a China tenta fortalecer sua influência midiática no Ocidente. Geralmente isso acontece por meio de suplementos que parecem veicular notícias, mas que na verdade são anúncios.

Os institutos de pesquisa Merics (Mercator Institute for China Studies) e GPPI (Global Public Policy Institute) alertaram anteriormente, em um estudo conjunto, que a China está ativamente empenhada em "melhorar a percepção global do sistema político e econômico chinês e posicioná-lo como uma alternativa viável à democracia liberal". Fundamental para isso é influenciar a opinião pública através da mídia.

No estudo, publicado em fevereiro de 2018 sob o título Authoritarian advance (Avanço autoritário, em tradução livre), uma das críticas foi que grandes veículos da mídia ocidental trazem regularmente encartado o suplemento especial China Watch, veículo próximo ao governo chinês. Entre elas estão o americano New York Times, o francês Le Figaro e, na Alemanha, o Handelsblatt e o Süddeutsche Zeitung.

Embora os suplementos sejam claramente identificados como anúncio pago, os autores do estudo criticam que alguns dos principais veículos de comunicação do Ocidente se deixem, na prática, serem usados pela China, já que eles têm, junto aos leitores, "mais credibilidade do que a mídia chinesa". Depois das críticas, o Süddeutsche Zeitung suspendeu a veiculação do suplemento especial.



Padrões jornalísticos em risco?

Questionada pela DW, a DPA afirmou que as notícias da Xinhua sobre a Nova Rota da Seda são um "produto puramente comercial, que não tem vínculo algum com a cobertura jornalística da DPA a partir da China ou sobre a China ou sobre outros temas".

O porta-voz da empresa, Jens Petersen, enfatizou que "a DPA age aqui como um mero prestador técnico de serviços" e que os conteúdos não são parte da oferta jornalística da agência, mas "são marcados como um serviço separado e são fornecidos claramente de forma separada, também sob o ponto de vista técnico, dos outros serviços da agência".

A DPA afirma que, por conta disso, não considera que sua cobertura jornalística sobre a China seja ameaçada. De acordo com a companhia, a separação das várias ofertas garante os "altos padrões editoriais da DPA".

Bandurski, entretanto, frisa que a China vem tentando há algum tempo, através de todos os tipos de canais, se envolver mundialmente no cotidiano dos meios de comunicação, incluindo o uso de marcas reconhecidas. "Mas os parceiros ocidentais não querem nem saber o que exatamente está por trás disso." Afinal, argumenta, eles ganham muito dinheiro com a veiculação do material chinês.

Thorsten Benner, diretor do GPPI e coautor do estudo Authoritarian advance, é um pouco menos crítico. Na opinião dele, os padrões jornalísticos na Alemanha não correm perigo por causa das cooperações com instituições chinesas.

"É irritante quando Handelsblatt e outros põem suas marcas à disposição para a propaganda do Partido Comunista da China. Mas não acho que a liberdade de imprensa esteja permanentemente ameaçada por isso. O que os veículos devem fazer é se proteger da influência crescente e, sobretudo, impedir que empresas de mídia alemãs caiam nas mãos dos chineses."

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