Topo

Naldo faz parte da história do futebol alemão

Gerd Wenzel

08/01/2019 08h50

Zagueiro surpreendeu muitos ao anunciar saída do Schalke. Foram mais de 13 anos na Bundesliga e 358 jogos, algo que nenhum brasileiro alcançou. Ele deixa uma marca indelével na história do futebol alemão.Para surpresa de muita gente, o zagueiro brasileiro Naldo passará a defender as cores do Mônaco já a partir do mês em curso, e a torcida não entende até agora por que o Schalke 04 não moveu uma palha sequer para tentar convencer o jogador a permanecer no clube até o final do seu contrato, em junho de 2020.

Afinal, numa enquete promovida pelo prestigiado portal Kicker, o robusto defensor de 1,98 tinha sido eleito pelos seus próprios colegas de profissão da Bundesliga como melhor jogador de campo da temporada 2017/2018.

Durante aquela memorável campanha que garantiu o vice-campeonato ao clube de Gelsenkirchen, Naldo jogou integralmente todas 34 partidas (3060 minutos) do campeonato, além de ter marcado sete gols dos quais um certamente ficará para sempre na memória do torcedor azul real.

Foi na partida contra o Borussia Dortmund, "na mãe de todos os dérbis", em novembro de 2017 no Signal Iduna Park. O Schalke perdia por 0 a 4 no primeiro tempo, mas voltou com tudo para a segunda etapa. Acabou por conseguir um verdadeiro milagre perpetrado por Naldo já nos acréscimos. Uma cabeçada indefensável resultou no gol de empate: 4 a 4.

O próprio Naldo reconhece que esse foi o gol mais importante de sua carreira: "Jamais esquecerei".

Uma carreira, diga-se de passagem, de 13 anos e seis meses na Alemanha. É o jogador brasileiro com maior número de jogos na história da Bundesliga. Foram ao todo 358 jogos com 46 gols marcados desbancando assim Zé Roberto (Leverkusen, Bayern Munique e Hamburgo) com 336 partidas.

Tudo começou em 2005, quando os olheiros do Werder Bremen descobriram o então ainda jovem zagueiro do Esporte Cube Juventude de Caxias no Rio Grande do Sul.

O brasileiro foi contratado para substituir o francês Valérien Ismaël, que tinha se transferido para o Bayern Munique. Naqueles tempos, havia um ritual de boas-vindas para os recém-contratados do Werder. Os novatos, para serem integralmente aceitos pelo grupo, tinham que beber pelo menos uma dose de "schnaps" (aguardente alemã) com cada um dos veteranos da equipe, e isto numa mesma noite. Naldo sobreviveu a este batismo de fogo etílico após três dias de ressaca.

Com o Werder Bremen, o zagueiro conseguiu seu primeiro título na Alemanha: o de campeão da Copa da Alemanha (DFB Pokal) em 2009. Na final, contra o Leverkusen, os alviverdes venceram por 1 a 0. A revista kicker deu nota 10 ao desempenho de Naldo na partida.

Depois de sete anos no Werder, Naldo tentou sua sorte no Wolfsburg onde, na temporada 2014/2015, se tornou, ao lado de Luiz Gustavo e Kevin de Bruyne, um dos protagonistas do time ao vencer mais um título da Copa da Alemanha, desta vez com uma vitória categórica sobre o Borussia Dortmund por 3 a 1.

O ano de 2014 foi mesmo todo especial para Naldo e sua família não apenas pelo seu futebol, mas também como cidadão. Em dezembro daquele ano, ele obteve a cidadania alemã extensiva também para sua esposa Carla e seus filhos Naldinho e Liz. Todos são agora cidadãos europeus e portadores de um passaporte da União Europeia com seus direitos e deveres.

Naldo chegou ao Schalke em 2016 e por sua personalidade e carisma dentro e fora de campo, além de sua forte identificação com a cultura clubística dos azuis reais, tornou-se rapidamente um dos grandes ídolos da torcida.

Muitos torcedores em Gelsenkirchen, especialmente os da velha guarda do tipo torcedor raiz, entendem que o clube cometeu ao menos dois erros no caso desta transferência do jogador para o Mônaco.

O primeiro equívoco foi do próprio técnico Domenico Tedesco ao relegar na atual temporada um jogador como Naldo à condição de reserva de luxo do recém-contratado Salif Sané. Estava na cara que o experiente zagueiro não deixaria passar em brancas nuvens esta humilhação.

O segundo erro pode-se debitar ao diretor de Esportes, Christian Heidel. Sabe-se que o Mônaco ofereceu a Naldo um salário bem superior ao que vinha recebendo do Schalke. E sabe-se também que nenhuma contraproposta financeira foi feita ao jogador para ao menos tentar evitar a sua saída do clube.

Não vai ser apenas o Schalke que sentirá a ausência de Naldo. Será também a Bundesliga como um todo. Afinal, por todos os clubes onde o brasileiro passou desde 2005, ele deixou a sua marca indelével na história do futebol alemão.

--

Gerd Wenzel começou no jornalismo esportivo em 1991 na TV Cultura de São Paulo, quando pela primeira vez foi exibida a Bundesliga no Brasil. Desde 2002, atua nos canais ESPN como especialista em futebol alemão. Semanalmente, às quintas, produz o Podcast "Bundesliga no Ar". A coluna Halbzeit sai às terças. Siga-o no Twitter, Facebook e no site Bundesliga.com.br

______________

A Deutsche Welle é a emissora internacional da Alemanha e produz jornalismo independente em 30 idiomas. Siga-nos no Facebook | Twitter | YouTube
| WhatsApp | App | Instagram | Newsletter