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Ex-advogado descreve Trump como vigarista e mentiroso

28/02/2019 08h41

Em testemunho ao Congresso, Michael Cohen diz que presidente dos EUA ordenou pagamentos para silenciar atriz pornô e tinha conhecimento prévio do vazamento de e-mails pelo Wikileaks que prejudicariam campanha de Hillary.O advogado Michael Cohen descreveu o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, como um "racista" e um "vigarista", durante testemunho a um comitê do Congresso americano, em Washington, nesta quarta-feira (27/02).

Trump teria usado seu círculo de aliados para encobrir acusações sexuais que poderiam ter afetado sua carreira política e teria mentido durante a campanha eleitoral de 2016 sobre seus interesses empresariais na Rússia, relatou Cohen.

As declarações foram feitas durante testemunho de Cohen ao Comitê de Supervisão e Reforma da Câmara dos Representantes em meio a investigações do conselheiro especial Robert Mueller sobre um possível conluio entre a campanha de Trump e a Rússia. Mueller também avalia se o presidente americano tentou obstruir a investigação.

O ex-advogado de Trump é o primeiro dos antigos aliados do presidente americano a revelar detalhes sobre o funcionamento interno do seu círculo político e econômico. Ele comparou Trump a um mafioso que exige lealdade cega de seus subordinados e espera que eles mintam para protegê-lo mesmo que isso implique na quebra da lei.

"Eu não vou mais proteger o Sr. Trump", disse. "Minha lealdade ao Sr. Trump me custou tudo: a felicidade da minha família, amizades, minha licença como advogado, minha empresa, minha fonte de renda, minha honra, minha reputação e em breve minha liberdade", disse. "Não vou cruzar os braços, ficar sem dizer nada e permitir que ele faça o mesmo ao país."

Cohen afirmou aos parlamentares que Trump recebeu bem a notícia de que e-mails que poderiam prejudicar sua rival democrata, Hillary Clinton, seriam divulgados pelo Wikileaks durante a campanha eleitoral de 2016 e que o atual presidente dos EUA tinha conhecimentos prévios sobre o tema antes da divulgação dos dados.

Segundo o depoimento de Cohen, Trump ficou sabendo do caso através de seu aliado de longa data e conselheiro de campanha Roger Stone. "O Sr. Stone disse ao Sr. Trump que tinha acabado de falar no telefone com Julian Assange e que o Sr. Assange dissera ao Sr. Stone que, dentro de alguns dias, haveria uma divulgação em massa de e-mails que prejudicariam a campanha de Hillary Clinton. O Sr. Trump respondeu afirmando que o efeito disso 'seria ótimo'", disse Cohen.

"Muita gente me perguntou se Trump sabia sobre a divulgação de e-mails de Clinton ainda antes de eles terem sido tornados públicos. A resposta é sim", disse Cohen. Essas declarações de Cohen contrariam afirmações de Trump, que dissera desconhecer por completo qualquer envolvimento dos seus assessores na divulgação dos e-mails.



Stone foi preso em janeiro sob acusações de testemunho falso e obstrução da Justiça na investigação sobre a Rússia, tendo negado a conversa com Trump sobre o Wikileaks.

Contudo, Cohen disse a parlamentares não ter evidência direta de um conluio com a Rússia para a eleição de Trump, principal foco da investigação de Mueller, embora suspeitasse disso.

Em outra frente das acusações, Cohen disse que Trump teria ordenado e coordenado pagamentos à atriz de filmes ponográficos Stephanie Clifford, conhecida como Stormy Daniels. O dinheiro teria sido pago inicialmente por Cohen com seus recursos pessoais para impedir que Clifford tornasse público um breve caso que teve com Trump em 2006.

"Ele me pediu para pagar para calar uma atriz de filmes adultos com quem ele teve um caso e para mentir para sua esposa a respeito, o que eu fiz", disse. Cohen mostrou a cópia de um cheque pessoal de 35 mil dólares assinado por Trump e datado após o presidente assumir o cargo. O pagamento teria sido uma parcela de um reembolso de 130 mil dólares que Trump devia a Cohen após o advogado ter realizado pagamentos ao advogado de Clifford.

Cohen também admitiu ter feito pagamentos a Karen McDougal, que posou para a Playboy, por um caso semelhante. Ambas as acusações podem violar leis sobre o financiamento de campanhas nos EUA e foram repetidamente negadas por Trump.

Trump buscou descreditar Cohen quando questionado sobre o testemunho de seu ex-advogado. "Ele mentiu muito", disse durante entrevista em Hanói, no Vietnã, após sua reunião com o líder da Coreia do Norte, Kim Jong-un. Para o presidente americano, o testemunho de Cohen não fornece evidências de um conluio com a Rússia.

Apesar de Cohen ter dito a parlamentares não ter evidência direta de um conluio, apenas suspeitas, Trump insistiu que Cohen havia afirmado saber que não ocorreu um conluio. "Ele não mentiu a respeito de um tema. Ele disse que não houve conluio com a Rússia. Eu me pergunto o porquê de ele não ter mentido a respeito disso também, assim como ele mentiu sobre todo o resto."

Em sua conta no Twitter, Trump disse acreditar que Cohen estava mentindo para reduzir seu tempo na cadeia.



O ex-advogado, que anteriormente se declarara culpado de ter mentido ao Congresso sobre os planos de Trump de construir um arranha-céu em Moscou, começará a cumprir uma pena de três anos de prisão em maio. No depoimento, Cohen disse que Trump o induziu a mentir sobre o projeto imobiliário.

Ele foi condenado por nove acusações, incluindo a de violar a lei sobre o financiamento de campanhas pela tentativa de silenciar mulheres que teriam tido casos com Trump, de que ele se declarou culpado.

Cohen é visto como uma testemunha vital por procuradores devido à sua proximidade com Trump durante episódios sob investigação e à sua relação de décadas com o presidente.

Trump disse não ter tido interesses em negócios na Rússia antes da eleição de 2016, mas, segundo Cohen, o presidente dos EUA "sabia e dirigia" negociações para construir uma propriedade em Moscou durante a campanha, planos que nunca se materializaram.

Cohen deve continuar seu testemunho ao Congresso nesta quinta-feira, desta vez de portas fechadas e diante do Comitê de Inteligência da Câmara dos Representantes.

PJ/ap/afp/rtr/lusa

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