Relatório da ONU aponta crime de guerra de Israel em Gaza
Comissão do Conselho de Direitos Humanos acusa soldados israelenses de matar e ferir civis, incluindo crianças, que não ofereciam perigo e participavam de manifestações políticas. Israel diz que relatório é mentiroso.Uma comissão da ONU afirmou nesta quinta-feira (28/02) que a resposta de Israel aos protestos em Gaza, em 2018, pode constituir crime de guerra ou crime contra a humanidade, argumentando que franco-atiradores abriram fogo deliberadamente em civis, incluindo crianças, que não ofereciam perigo.
"Os soldados israelenses cometeram violações do direito internacional humanitário e dos direitos humanos. Algumas dessas violações podem constituir crimes de guerra ou crimes contra a humanidade e devem ser imediatamente investigadas por Israel", disse o presidente da comissão, o argentino Santiago Canton.
Ele afirmou que a alta comissária de Direitos Humanos da ONU, Michelle Bachelet, deveria entregar o relatório ao Tribunal Penal Internacional (TPI), em Haia. Israel não é um membro do tribunal nem reconhece sua jurisdição, mas a corte abriu uma investigação preliminar sobre denúncias de desrespeito aos direitos humanos por parte de Israel em território palestino em 2015.
Israel rejeitou o relatório e o considerou hostil, mentiroso e parcial. "O único objetivo é manchar a única democracia do Oriente Médio e minar o seu direito de se defender das ações terroristas de um grupo assassino", o Hamas, que controla a Faixa de Gaza, disse o ministro do Exterior, Israel Katz.
Já as autoridades palestinas saudaram o relatório e disseram que é o momento de o Tribunal Penal Internacional (TPI) abrir investigações. "É hora de responsabilizar Israel por esses crimes", declarou o presidente da Autoridade Palestina, Mahmoud Abbas, acrescentando que Israel não pode seguir atuando como "um Estado acima da lei".
A comissão da ONU afirmou que mais de 6 mil manifestantes desarmados foram baleados por atiradores militares de elite nas manifestações, ao longo de várias semanas, e 189 pessoas foram mortas, das quais 35 crianças. Os investigadores afirmaram que foram "encontrados motivos razoáveis para acreditar que atiradores de elite israelenses atiraram em jornalistas, agentes de saúde, crianças e pessoas com deficiências, sabendo que eram claramente reconhecíveis como tais".
Os investigadores da ONU afirmaram que os manifestantes cometeram atos de violência, como atirar pedras, coquetéis molotov e explosivos contra soldados israelenses, mas que "as manifestações eram de natureza civil, com objetivos políticos claramente definidos" e que, "apesar de alguns atos de violência, a comissão considerou que as manifestações não se constituíam de combate ou campanhas militares".
Os investigadores também disseram que têm informações confidenciais sobre os possíveis responsáveis pelas mortes, incluindo snipers e comandantes militares, e defendeu que eles sejam levados a julgamento pelo Estado de Israel.
A comissão foi criada em maio de 2018 pelo Conselho de Direitos Humanos da ONU para investigar supostas violações e maus-tratos no contexto de ataques militares durante os grandes protestos civis que começaram em 30 de março de 2018 em Gaza.
A partir daquela data, dezenas de milhares de palestinos na Faixa de Gaza reuniram-se semanalmente perto da fronteira israelense para reivindicar o arrefecimento de um bloqueio ao território e o "direito" de retornar às terras de seus ancestrais, em Israel.
Israel argumenta que os protestos foram orquestrados pelo Hamas, o movimento islâmico que comanda a Faixa de Gaza e contra o qual travou três guerras desde 2008.
A comissão afirmou que nenhum soldado israelense foi morto durante os protestos e que quatro ficaram feridos.
O relatório foi baseado em 325 entrevistas com vítimas, testemunhas, autoridades e membros da sociedade civil de todos os lados, além de 8 mil documentos, afirmou a comissão. Ela disse que ouviu 15 fontes do lado de Israel, incluindo organizações não governamentais, mas que não obteve cooperação do governo do país.
Israel frequentemente acusa o Conselho de Direitos Humanos da ONU de ter um viés anti-Israel. Os Estados Unidos deixaram o conselho em 2018, em parte sob o mesmo argumento.
AS/lusa/rtr/ap
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"Os soldados israelenses cometeram violações do direito internacional humanitário e dos direitos humanos. Algumas dessas violações podem constituir crimes de guerra ou crimes contra a humanidade e devem ser imediatamente investigadas por Israel", disse o presidente da comissão, o argentino Santiago Canton.
Ele afirmou que a alta comissária de Direitos Humanos da ONU, Michelle Bachelet, deveria entregar o relatório ao Tribunal Penal Internacional (TPI), em Haia. Israel não é um membro do tribunal nem reconhece sua jurisdição, mas a corte abriu uma investigação preliminar sobre denúncias de desrespeito aos direitos humanos por parte de Israel em território palestino em 2015.
Israel rejeitou o relatório e o considerou hostil, mentiroso e parcial. "O único objetivo é manchar a única democracia do Oriente Médio e minar o seu direito de se defender das ações terroristas de um grupo assassino", o Hamas, que controla a Faixa de Gaza, disse o ministro do Exterior, Israel Katz.
Já as autoridades palestinas saudaram o relatório e disseram que é o momento de o Tribunal Penal Internacional (TPI) abrir investigações. "É hora de responsabilizar Israel por esses crimes", declarou o presidente da Autoridade Palestina, Mahmoud Abbas, acrescentando que Israel não pode seguir atuando como "um Estado acima da lei".
A comissão da ONU afirmou que mais de 6 mil manifestantes desarmados foram baleados por atiradores militares de elite nas manifestações, ao longo de várias semanas, e 189 pessoas foram mortas, das quais 35 crianças. Os investigadores afirmaram que foram "encontrados motivos razoáveis para acreditar que atiradores de elite israelenses atiraram em jornalistas, agentes de saúde, crianças e pessoas com deficiências, sabendo que eram claramente reconhecíveis como tais".
Os investigadores da ONU afirmaram que os manifestantes cometeram atos de violência, como atirar pedras, coquetéis molotov e explosivos contra soldados israelenses, mas que "as manifestações eram de natureza civil, com objetivos políticos claramente definidos" e que, "apesar de alguns atos de violência, a comissão considerou que as manifestações não se constituíam de combate ou campanhas militares".
Os investigadores também disseram que têm informações confidenciais sobre os possíveis responsáveis pelas mortes, incluindo snipers e comandantes militares, e defendeu que eles sejam levados a julgamento pelo Estado de Israel.
A comissão foi criada em maio de 2018 pelo Conselho de Direitos Humanos da ONU para investigar supostas violações e maus-tratos no contexto de ataques militares durante os grandes protestos civis que começaram em 30 de março de 2018 em Gaza.
A partir daquela data, dezenas de milhares de palestinos na Faixa de Gaza reuniram-se semanalmente perto da fronteira israelense para reivindicar o arrefecimento de um bloqueio ao território e o "direito" de retornar às terras de seus ancestrais, em Israel.
Israel argumenta que os protestos foram orquestrados pelo Hamas, o movimento islâmico que comanda a Faixa de Gaza e contra o qual travou três guerras desde 2008.
A comissão afirmou que nenhum soldado israelense foi morto durante os protestos e que quatro ficaram feridos.
O relatório foi baseado em 325 entrevistas com vítimas, testemunhas, autoridades e membros da sociedade civil de todos os lados, além de 8 mil documentos, afirmou a comissão. Ela disse que ouviu 15 fontes do lado de Israel, incluindo organizações não governamentais, mas que não obteve cooperação do governo do país.
Israel frequentemente acusa o Conselho de Direitos Humanos da ONU de ter um viés anti-Israel. Os Estados Unidos deixaram o conselho em 2018, em parte sob o mesmo argumento.
AS/lusa/rtr/ap
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