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'Fortona', resistente e populosa: como a barata-alemã conquistou o planeta

Apesar de levar o nome de 'Blattella germanica', a origem dessa barata é controversa Imagem: Getty Images

29/05/2024 09h55

A barata Blattella germanica é a espécie mais comum do mundo e tem uma resiliência extraordinária: suas carapaças suportam 900 vezes o peso total do inseto, tornando quase impossível esmagá-las.

Além disso, elas são imunes à maioria dos inseticidas, o que é um grande problema, já que podem transmitir um grande número de bactérias, vírus e fungos. A origem desse inseto é controversa, mas um novo estudo aponta luz para esse mistério de 250 anos.

O que aconteceu

A equipe liderada por Qian Tang, da Universidade Nacional de Cingapura, reconstruiu a trajetória do inseto pelo tempo e o espaço. A espécie foi descrita pela primeira vez pelo naturalista sueco Carl von Linné, em 1776, pouco depois da Guerra dos Sete Anos, quando a metade da Europa Central estava em ruínas e reinava grande miséria.

No estudo, examinou-se o material genético de 281 baratas originárias de 17 países em cinco continentes. A conclusão foi que a barata-alemã se desenvolveu cerca de 2.100 anos atrás, a partir da barata-asiática (Blattella asahinai), que se adaptou aos assentamentos humanos da Índia ou de Mianmar. Até hoje, ambas as espécies se assemelham muito.

Nos séculos seguintes, a variante "germânica" se propagou em direção ao ocidente a partir de duas rotas distintas: 1.200 anos atrás, aproveitou a expansão econômica e militar do islã; e há cerca de 400 anos, seguiu os rastros do colonialismo europeu, especialmente britânico e holandês.

Até o início do século 18 o habitat principal da barata-germânica ainda se restringia à Ásia. Isso só mudou na segunda metade, ou seja, na época em que von Linné descreveu o inseto.

A campanha triunfal da Blattella germanica se acelerou com o advento do comércio mundial de longa distância, com suas vias de transporte cada vez mais eficientes e, portanto, mais rápidas, registra a equipe de Qian Tang na revista científica PNAS, da Academia Nacional de Ciências dos EUA.

Lá pelo fim do século 19 e início do 20, ela havia conquistado o resto do mundo: apesar de sensível ao frio, as casas com calefação e tubulações lhe garantiam condições de vida ideais.

"A ascensão da civilização humana desencadeou a evolução e disseminação de espécies adaptadas aos ambientes urbanos", confirma o estudo de Cingapura. A única coisa que os animais de sangue frio não suportam é secura: nas residências modernas, sem cantos úmidos, elas logo morrem de sede.

Outro fator garantiu o extraordinário sucesso da barata-alemã em povoar o mundo: em comparação com outras, ela apresenta resistência fora do comum a inseticidas. As substâncias químicas pouco efeito têm contra elas, pois as mais resistentes já transmitem a imunidade à geração seguinte, em seus genes.

Como cada fêmea consegue produzir até 400 ovos em seus três meses de vida média, esse processo é extremamente veloz: no prazo de poucos meses, umas poucas baratas-alemãs sobreviventes são capazes de reconstituir populações respeitáveis.

Nas regiões mais quentes do Brasil, ela compete nas casas com a temida barata-americana (Periplaneta americana): medindo até cinco centímetros, essa espécie é dotada de asas, sendo também chamada barata-voadora. O nome alternativo barata-de-esgoto acrescenta mais uma camada de asco à reputação da espécie.

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