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Amsterdã abre o primeiro museu da prostituição do mundo

Maite Rodal

Em Amsterdã

06/02/2014 09h41

O Bairro Vermelho de Amsterdã vai revelar seus segredos no primeiro museu da prostituição do mundo, que abre suas portas nesta quinta-feira para mostrar às claras os bastidores de uma profissão legalizada na Holanda mas não por isso livre de estigmas.

Situado no turístico bairro da capital holandesa, onde 900 prostitutas trabalham em 276 vitrines, quer dar uma visão completa do mercado sexual, sem "idealizações românticas", explicou à Efe Ilonka Stakelborough, criadora da Fundação Gueixa, que protege os direitos do setor.

A iniciativa não esquece a denúncia do trabalho forçado pelos cafetões e o tráfico de mulheres para prostituição, em cujo circuito entram sobretudo "mulheres provenientes dos Bálcãs", segundo a colaboradora na curadoria do projeto, que surgiu de uma iniciativa privada.

O museu quer contribuir para a "normalização" do ofício, cuja legalização em 2000 na Holanda teve efeitos indesejados: "muitas estudantes, por exemplo, não querem se inscrever como ativas no mercado porque isso apareceria em seu currículo, e optam por trabalhar em casa", reconheceu a ex-profissional do sexo.

Mas além disso, a ideia é oferecer uma "experiência" para o visitante, que tem a oportunidade de ficar no lugar da prostituta dentro da vitrine, ver os quartos, nas categorias "barata" ou "de luxo", instrumentos sadomasoquistas e ver a moda das meretrizes dos anos 20 até os dias de hoje.

Após pagar uma entrada de 7,50 euros em uma bilheteria que imita a dos bordéis dos anos 50, o visitante entra nas estreitas casas que abrigam as vitrines do Bairro Vermelho, cujas origens remontam ao final do século XIX.

No interior da vitrine, a decoração se limita a cortinas vermelhas e à presença de uma geladeira perto das cadeiras de onde a prostituta chama os clientes.

Daí, uma cortina de miçangas é a única barreira até o quarto do bordel, um espaço de poucos metros quadrados, pela qual a prostituta paga 150 euros por 12 horas. Sobre uma cama de azulejos que lembra uma banheira, uma luz de neon violeta ilumina o quarto, com um lavabo como único objeto de decoração.

"A cama não é confortável, a luz não favorece, mas é suficiente para uma visita que não dura mais de seis minutos", comenta Ilonka.

A sala ao lado - mais ampla, com banheiro e televisão sobre um carpete vermelho e ornamentos dourados - recria um quarto de boate, cujo preço de aluguel sobe tanto para as profissionais (que pagam 350 euros) quanto para os clientes (que pagam até 200 euros por hora por serviços mais demorados).

As prostitutas que trabalham no Bairro Vermelho são mulheres de 21 a 55 anos, jovens que não conseguem pagar os próprios estudos, mães solteiras, e em "70% dos casos, com um parceiro estável", segundo fontes do museu.

Trabalham "uma média de 5 anos", mas muitas delas não se aposentam "porque se acostumam a um padrão de vida de alta renda". Por isso, a Fundação Gueixa as ajuda na reinserção, mas também com cursos de autodefesa enquanto trabalham.

"Às vezes, quando a profissional alcança certa idade, se dedica ao sadomasoquismo, uma maneira mais 'psicológica' de fazer sexo", diz Ilonka, ao entrar em uma sala dedicada à prática, onde não faltam um chicote, um X para se prender na parede e uma "jaula" fechada onde o cliente fica pendurado.

"Os clientes que buscam sadomasoquismo são fixos e com postos de muito estresse", disse com base em sua experiência de vários anos exercendo essa modalidade do sexo.

Para garantir a segurança das prostitutas durante o trabalho, sempre têm à mão um alarme com o qual conseguem alertar diretamente o dono do quarto e a polícia.

Ao terminar a visita ao museu, o visitante se depara com um bem humorado confessionário para que confesse seus pecados de luxúria.