Turquia obriga milhares de refugiados a voltarem à Síria, denuncia AI
A Anistia Internacional (AI) denunciou nesta quinta-feira (31) que a Turquia obrigou milhares de refugiados a retornarem à Síria nos últimos meses e acusou a União Europeia (UE) de "ignorar de propósito" práticas "ilegais" como essa de Ancara.
Uma investigação da AI revela que as autoridades turcas expulsaram "quase diariamente" grupos compostos por cerca de cem homens, mulheres e crianças à Síria desde meados de janeiro.
"Em seu desespero para fechar as fronteiras, os líderes da UE ignoraram de propósito o mais simples dos fatos, que a Turquia não é um país seguro para os refugiados sírios", afirmou o diretor para a Europa e Ásia Central da organização, John Dalhuisen, em comunicado emitido de sua sede em Londres.
A ONG reuniu diversos depoimentos sobre uma operação em "grande escala" para devolver refugiados da província turca de Hatay à Síria, um plano que segundo a organização humanitária é "um segredo a vozes" na região.
A Comissão Europeia (CE) reiterou que prevê iniciar na próxima segunda-feira o mecanismo pactuado com Ancara pelo qual serão devolvidos à Turquia os refugiados que alcançarem solo grego.
Diante das devoluções de refugiados sírios da Turquia a seu país de origem, imerso no conflito, a Anistia Internacional considera que o acordo entre a UE e Turquia adoece de "defeitos fatais".
"É um acordo que só pode ser implementado pelos corações mais duros, com uma enorme indiferença pela legalidade internacional. Longe de pressionar a Turquia para que melhore sua proteção aos refugiados sírios, a União Europeia está incentivando o contrário. É altamente provável que a Turquia tenha devolvido à Síria milhares de refugiados nas últimas nove semanas", disse Dalhuisen.
Se o acordo foi iniciado, "há um risco muito real de algumas das pessoas que a União Europeia enviar à Turquia acabarem sofrendo o mesmo destino", disse o representante da AI.
Entre os casos documentados pela organização humanitária, Dalhuisen destacou a devolução à Síria de três menores de idade, sem a companhia dos pais, e de uma mulher grávida de oito meses.
A maioria das pessoas que foram obrigadas a retornar ao país em guerra não foi registrada como refugiada, segundo a Anistia, apesar de algumas delas terem esse mesmo destino ao serem interceptadas por forças turcas sem levar os documentos necessários.
"A falta de humanidade dessas devoluções é francamente chocante. A Turquia deve impedi-las imediatamente", afirmou Dalhuisen.
A Anistia Internacional mostrou em outra recente investigação como a Turquia rebaixou a quantidade de pessoas que registra como refugiadas nas províncias fronteiriças com a Síria.
A organização advertiu que em alguns casos foi negado o registro a pessoas provenientes do país vizinho, que não puderam ter acesso a tratamentos médicos vitais ao carecer dessa documentação.
De acordo com alguns depoimentos citados pela organização, as autoridades turcas detiveram e enviaram outra vez à Síria pessoas que tentavam se registrar como refugiados, o que fez com que muitos sírios em solo turco preferissem esconder.
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