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Gregos variam entre desencanto e aceitação em 1º aniversário do plebiscito

05/07/2016 16h31

Óscar Valero.

Atenas, 5 jul (EFE).- Um ano após o plebiscito convocado sobre as medidas de austeridade, que terminou com vitória do "não", o governo da Grécia vive uma lua de mel com os credores depois de aceitar as condições do terceiro resgate, mas são várias as críticas entre a população grega.

No dia 5 de julho de 2015, em plena queda de braço com os credores da Grécia, o governo de Alexis Tsipras propôs um plebiscito no qual perguntou se deveria aceitar a última proposta de cortes da troika (União Europeia, Banco Central Europeu e FMI). Os gregos respondeu com um contundente "não", com 61,31% dos votos.

No dia seguinte, os acontecimentos foram seguidos pela renúncia do ministro das Finanças, Yanis Varoufakis. O substituto no cargo foi Euclides Tsakalotos, que um mês depois assinou as condições do terceiro resgate, que terá uma duração de três anos e pelo qual a Grécia receberá 86 bilhões de euros.

"Votei no plebiscito para ajudar o governo a obter um acordo melhor, mas no dia seguinte o 'não' se voltou 'sim'. Não sei se foi conseguido algo melhor, não sei se era necessário, a única coisa que se conseguiu foi castrar o povo", lamentou Manos, autônomo de 55 anos.

"Participei do plebiscito porque era apresentada uma questão fundamental e era preciso enfrentá-la, embora o resultado não tenha sido respeitado. Se tivesse que votar hoje, eu me absteria", disse Eliana, jornalista de 28 anos.

Maria, engenheira de 48 anos que trabalha em um café, se consola pensando que "por sorte" não se "aplicou" o resultado do plebiscito, mas lamentou "tudo o que aconteceu, esses longos meses de negociação, esse caos, que foram uma grave marcha à ré, uma negociação que não era necessária e o plebiscito um erro", afirmou.

Mas não faltam pessoas como Stéfanos, também engenheiro de 55 anos e que votou "não" para "ajudar o governo na negociação", que acredita que "houve muito esforço" e embora não saiba "se o resultado foi o esperado", duvida "que teria sido possível fazer algo melhor", então voltaria a votar "da mesma forma".

Para receber a primeira parte do terceiro resgate, cerca 10,3 bilhões de euros, a Grécia teve que aprovar uma profunda reforma da previdência e aumentar os impostos diretos e indiretos, para economizar 5,4 bilhões de euros anuais que a levem a alcançar um superávit primário de 3,5% do Produto Interno Bruto (PIB) em 2018.

Desses 10,3 bilhões de euros, a Grécia já recebeu 7,5 bilhões e espera que os credores paguem mais 2,8 bilhões depois do verão.

"Não participei do plebiscito. Acredito que tudo estava decidido de antemão", analisou Pavlos, merceeiro de 60 anos, que relatou que o povo "está desesperado".

Por parte do governo não houve nenhuma declaração ou reação nesta terça-feira a respeito do primeiro aniversário da consulta popular, que coincide com a viagem de Alexis Tsipras e outros representantes do governo à China para estreitar relações econômicas entre os países.

O pronunciamento veio do partido esquerdista do líder, Syriza, que assegura que há um ano "o povo grego se colocou de pé e disse 'não' a ultimatos e chantagens, 'não' à política de austeridade, 'não' à propaganda dos veículos de imprensa e à campanha de terror gerada nacional e internacionalmente".

Yanis Varoufakis, um dos grandes defensores do "não", garantiu que o plebiscito foi um ato "de fundação" de seu movimento político DiEM25 e lembrou essa rejeição como "um majestoso e grande 'sim' para uma Europa democrática".

Do social-democrata Pasok, um dos partidos que mais pagou eleitoralmente seu apoio aos resgates anteriores, o ex-líder Evangelos Venizelos afirmou em entrevista a uma rádio privada que "nunca houve um governo com uma atitude tão submissa, agora é sim para tudo".

Uma das cisões do Syriza, criada após a assinatura do terceiro resgate, a Unidade Popular (UP), reivindicou como própria a mensagem do plebiscito de um ano atrás e pediu uma manifestação contra o parlamento.

Dimitris Stratulis, dirigente da formação extraparlamentar e ex-ministro no gabinete de Tsipras, garantiu que "o 'não' ainda está vivo na consciência das pessoas e dos jovens".

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