EI domina salas de aula e passa a doutrinar alunos em Al Yarmouk
Susana Samhan e Mohammed Siali.
Beirute/Cairo, 24 nov (EFE).- As escolas independentes desapareceram do campo de refugiados palestinos de Al Yarmouk, no sul de Damasco, onde o grupo jihadista Estado Islâmico (EI) impôs o próprio sistema de doutrinamento, baseado em uma visão extremista do islã.
Um dos colégios que foram obrigados a fechar as portas em Al Yarmouk é a Escola Damascena Alternativa, que para dar continuidade às atividades se transferiu para o distrito vizinho de Yalda, como fizeram outras instituições de ensino.
Exilado na França, o diretor desse colégio, Khalil Abu Salma, contou à Agência Efe que "quando o EI chegou a Al Yarmouk, em abril de 2015, não houve problemas no início porque estava no fim do ano letivo e nada interferiu".
Em uma primeira etapa, os radicais permitiram que as escolas trabalhassem de forma independente, mas tudo mudou quando houve uma "mudança de emir" no EI, que decidiu impor o próprio programa educativo e os colégios do acampamento se negaram, o que levou ao fechamento das instituições.
"É a primeira vez na história de Al Yarmouk que não há colégios, o Estado Islâmico tem seu próprio sistema educacional relacionado com a religião e a jihad, mas o ensino de verdade não existe", lamentou Abu Salma, que mora na França há um ano e meio e onde dirige o colégio em sua nova localização em Yalda.
Professor de língua árabe, Abu Salma explicou que a disciplina principal no sistema de doutrinamento dos extremistas é o "Tauhid" (monoteísmo), que na prática representa o estudo da religião, que o EI "foca em assuntos como a jihad", ou guerra santa.
Também são ensinados o idioma árabe "baseado na língua do Corão" e outras disciplinas como ginástica, "mas de forma muito leve", detalhou.
"Há matérias que consideram heréticas, como a filosofia, as ciências sociais e a história, que não são ensinadas", disse o professor.
A Efe teve acesso a uma dezena de livros didáticos do grupo jihadista, nos quais as referências religiosas são onipresentes. Na introdução da maioria dos materiais, o EI afirma que uma nova era começou com "a colocação da primeira pedra no muro do ensino islâmico fundamentado no Corão e os 'hadices' (ditos do profeta), como entendem os primeiros muçulmanos".
Os radicais desenvolveram novas disciplinas como Política Religiosa, na qual doutrinam as crianças com os supostos fundamentos de seu credo, passados pela supervisão do EI, que, por exemplo, afirma que os muçulmanos são obrigados a criar um califado islâmico.
Em outras matérias mais tradicionais, como educação física, o grupo também aplica o tom jihadista aos livros, com ilustrações de exercícios de aquecimento que mostram um homem com um uniforme negro de tipo afegão, como se vestem alguns combatentes do EI.
O manual inclui uma lição sobre o fuzil kalashnikov, que após explicar sua história e uso, detalha como montá-lo e desmontá-lo, limpá-lo e regulá-lo em caso de falha, além das medidas de segurança para evitar disparos não propositais.
Embora o EI seja o grupo mais conhecido na Síria por impor seu próprio sistema educacional, outras organizações envolvidas no conflito também querem ensinar para os menores, disse Abu Salma, que sofreu as pressões da Frente al Nusra, braço sírio da Al Qaeda que controlou o campo de Al Yarmouk antes do EI.
"Para mim, a Frente al Nusra não é diferente do EI, o que aconteceu é que naquela época tínhamos um programa de apoio psicológico às crianças porque o campo sofria um cerco muito estreito. De fato, cerca de 180 pessoas morreram de fome. A Frente al Nusra considerou o programa indecente porque incluía dança e teatro. Sempre me pressionaram para tirar, mas rejeitei as ordens", relembrou Abu Salma, que decidiu fugir após a morte do irmão, que era ativista, e após receber ameaças.
Apesar de todas as dificuldades, a Escola Damascena Alternativa continua aberta em Yalda, onde crianças de Al Yarmouk comparecem para receber aulas. No entanto, também houve problemas nesta região, dominada pelo Exército Livre Sírio (ELS) e outras facções.
"Esse é o preço de querer aplicar um ensino independente, longe do político e militar", lamentou Abu Salma.
Beirute/Cairo, 24 nov (EFE).- As escolas independentes desapareceram do campo de refugiados palestinos de Al Yarmouk, no sul de Damasco, onde o grupo jihadista Estado Islâmico (EI) impôs o próprio sistema de doutrinamento, baseado em uma visão extremista do islã.
Um dos colégios que foram obrigados a fechar as portas em Al Yarmouk é a Escola Damascena Alternativa, que para dar continuidade às atividades se transferiu para o distrito vizinho de Yalda, como fizeram outras instituições de ensino.
Exilado na França, o diretor desse colégio, Khalil Abu Salma, contou à Agência Efe que "quando o EI chegou a Al Yarmouk, em abril de 2015, não houve problemas no início porque estava no fim do ano letivo e nada interferiu".
Em uma primeira etapa, os radicais permitiram que as escolas trabalhassem de forma independente, mas tudo mudou quando houve uma "mudança de emir" no EI, que decidiu impor o próprio programa educativo e os colégios do acampamento se negaram, o que levou ao fechamento das instituições.
"É a primeira vez na história de Al Yarmouk que não há colégios, o Estado Islâmico tem seu próprio sistema educacional relacionado com a religião e a jihad, mas o ensino de verdade não existe", lamentou Abu Salma, que mora na França há um ano e meio e onde dirige o colégio em sua nova localização em Yalda.
Professor de língua árabe, Abu Salma explicou que a disciplina principal no sistema de doutrinamento dos extremistas é o "Tauhid" (monoteísmo), que na prática representa o estudo da religião, que o EI "foca em assuntos como a jihad", ou guerra santa.
Também são ensinados o idioma árabe "baseado na língua do Corão" e outras disciplinas como ginástica, "mas de forma muito leve", detalhou.
"Há matérias que consideram heréticas, como a filosofia, as ciências sociais e a história, que não são ensinadas", disse o professor.
A Efe teve acesso a uma dezena de livros didáticos do grupo jihadista, nos quais as referências religiosas são onipresentes. Na introdução da maioria dos materiais, o EI afirma que uma nova era começou com "a colocação da primeira pedra no muro do ensino islâmico fundamentado no Corão e os 'hadices' (ditos do profeta), como entendem os primeiros muçulmanos".
Os radicais desenvolveram novas disciplinas como Política Religiosa, na qual doutrinam as crianças com os supostos fundamentos de seu credo, passados pela supervisão do EI, que, por exemplo, afirma que os muçulmanos são obrigados a criar um califado islâmico.
Em outras matérias mais tradicionais, como educação física, o grupo também aplica o tom jihadista aos livros, com ilustrações de exercícios de aquecimento que mostram um homem com um uniforme negro de tipo afegão, como se vestem alguns combatentes do EI.
O manual inclui uma lição sobre o fuzil kalashnikov, que após explicar sua história e uso, detalha como montá-lo e desmontá-lo, limpá-lo e regulá-lo em caso de falha, além das medidas de segurança para evitar disparos não propositais.
Embora o EI seja o grupo mais conhecido na Síria por impor seu próprio sistema educacional, outras organizações envolvidas no conflito também querem ensinar para os menores, disse Abu Salma, que sofreu as pressões da Frente al Nusra, braço sírio da Al Qaeda que controlou o campo de Al Yarmouk antes do EI.
"Para mim, a Frente al Nusra não é diferente do EI, o que aconteceu é que naquela época tínhamos um programa de apoio psicológico às crianças porque o campo sofria um cerco muito estreito. De fato, cerca de 180 pessoas morreram de fome. A Frente al Nusra considerou o programa indecente porque incluía dança e teatro. Sempre me pressionaram para tirar, mas rejeitei as ordens", relembrou Abu Salma, que decidiu fugir após a morte do irmão, que era ativista, e após receber ameaças.
Apesar de todas as dificuldades, a Escola Damascena Alternativa continua aberta em Yalda, onde crianças de Al Yarmouk comparecem para receber aulas. No entanto, também houve problemas nesta região, dominada pelo Exército Livre Sírio (ELS) e outras facções.
"Esse é o preço de querer aplicar um ensino independente, longe do político e militar", lamentou Abu Salma.
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