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A hora do pós-castrismo

26/11/2016 18h34

Havana, 26 nov (EFE).- Com a morte de Fidel Castro, Cuba se aproxima da era do pós-castrismo em um cenário no qual o mandato de seu irmão Raúl tem data de validade e onde a grande dúvida é se as novas gerações de dirigentes políticos vão garantir a continuidade do longevo regime que começou em 1959.

O falecimento do ex-presidente cubano ocorreu, além disso, em um cenário marcado pelas expectativas sobre a histórica guinada nas relações entre Cuba e EUA, com o restabelecimento de relações diplomáticas concretizado em julho de 2015, que pôs fim a mais de cinco décadas de desavenças entre os dois países.

Durante décadas, muitos se perguntaram se a Revolução Cubana poderia sobreviver sem seu líder máximo, cuja doença e afastamento do poder, em 2006, já havia aberto uma nova etapa no país com o mandato de Raúl Castro, herdeiro e continuador do único regime comunista do Ocidente, mas com uma marca reformista.

Ciente de que o relógio biológico é inexorável e que a substituição geracional foi uma das questões pendentes do regime, o pragmático Raúl, de 85 anos, deu vários passos para encaminhar um substituto institucionalizado e moderado que garanta a existência do sistema socialista cubano.

"Nós estamos concluindo o cumprimento de nosso dever, é preciso dar passagem a novas gerações ou continuar abrindo caminho paulatinamente", afirmava o general-presidente já em 2006, poucos meses após assumir as rédeas do poder em Cuba após a doença de seu irmão mais velho.

Talvez por isso, cinco anos depois ele anunciou a decisão de limitar a permanência no poder a um máximo de dez anos (dois mandatos consecutivos), uma medida sem precedentes que inclui o presidente do país.

Deste modo, Raúl Castro deve deixar a presidência de Cuba em 2018, após ter sido reeleito para um segundo mandato de cinco anos em fevereiro de 2013, data na qual, além disso, designou como primeiro vice-presidente e número dois do governo Miguel Díaz-Canel, nascido em 1960, em um claro sinal de renovação geracional na cúpula do poder cubano.

A nomeação de Díaz-Canel foi definida pelo próprio general como "um passo definitório na configuração da direção futura do país", tornando-o assim uma espécie de sucessor.

O atual primeiro vice-presidente cubano é o principal rosto de um grupo de dirigentes que não pertencem à geração histórica da Revolução (nasceram após 1959) e que foram promovidos a destacados cargos políticos durante a etapa raulista.

A esse grupo também pertencem figuras como o também vice-presidente Marino Murillo, coordenador da "atualização" promovida por Raúl e considerado o "czar" das reformas que nos últimos sete anos abriram controlados espaços à iniciativa privada e eliminaram proibições que durante décadas afetaram os cubanos.

Em seu primeiro mandato (2008-2013), Raúl Castro realizou várias mudanças em seu gabinete, a mais famosa delas em 2009, quando efetuou uma profunda reestruturação na qual foram destituídos o vice-presidente Carlos Lage e o chanceler Felipe Pérez Roque, em quem muitos viam então as faces da sucessão em Cuba.

O presidente também elevou a destacados postos mulheres de menos de 50 anos: é o caso de Mercedes López Acea, que entrou no birô político do Partido Comunista no Congresso de 2011 e que é a primeira secretária do partido em Havana.

No entanto, ainda estão em atividade históricas figuras da "velha guarda" revolucionária em destacados postos do regime, como é o caso de José Manuel Machado Ventura, de 86 anos e segundo secretário do PCC, e Ramiro Valdés, de 84 anos, um dos "históricos" da Revolução cubana, participante da ação militar de 26 de julho de 1953.

Com "jovens" ou com "históricos", de qualquer forma o poder em Cuba é articulado em torno de duas poderosas estruturas: o Partido Comunista, fiador da ortodoxia política da Revolução, e as Forças Armadas Revolucionárias, que controlam os setores-chave da economia cubana e suas principais empresas estatais.