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Dezenas de milhares de russos vão às ruas protestar contra a corrupção

26/03/2017 14h59

Moscou, 26 mar (EFE).- Milhares de russos participaram neste domingo do dia nacional de protesto contra a corrupção, convocado pelo líder da oposição e candidato à presidência, Alexei Nalvany, e que terminou com centenas de presos em várias cidades do país.

"Por volta das 17h locais (13h em Brasília) foram detidas mais de 500 pessoas em Moscou", disse uma fonte policial citada pela agência oficial "TASS".

Os protestos não tinham autorização para ocorrer em vários municípios, incluindo Moscou, onde próprio Nalvany acabou preso, e também em São Petersburgo, segunda maior cidade do país.

"Rapazes, estou bem. Nosso tema hoje é a luta contra a corrupção", escreveu Nalvany no Twitter quando um grupo de partidários tentava bloquear a viatura que o levou para a delegacia.

Segundo a polícia de Moscou, 8 mil pessoas participaram da manifestação não autorizada, que ocorreu a poucos quilômetros do Kremlin. Os organizadores, por sua vez, afirmam 20 mil pessoas estavam presentes no protesto contra a corrupção na capital.

"A Rússia será livre. Liberdade! Liberdade", cantavam os manifestantes reunidos na praça Pushkin, que estava cercada por um forte esquema de segurança, que utilizou, inclusive, helicópteros.

Ao longo do dia, o Fundo de Luta contra a Corrupção, uma organização comandada por Nalvany, transmitiu pela internet imagens ao vivo das manifestações nas diversas cidades do país.

O principal alvo dos protestos foi o primeiro-ministro da Rússia, Dmitri Medvedev, acusado por Nalvany de ser o homem mais corrupto do país. Em um vídeo publicado no Youtube, que já foi visto 10 milhões de vezes, o líder da oposição diz que Medvedev acumulou um império em ativos, tanto dentro como fora do país, usando fundações beneficientes que são comandadas por familiares ou por pessoas de sua mais absoluta confiança.

"Baseando-nos na documentação publicada, afirmamos que para as fundações de Medvedev foram transferidos pelo menos 70 bilhões de rublos (cerca de US$ 1,2 bilhão) em dinheiro e propriedades", afirma Nalvany no vídeo.

Protestos contra a corrupção também ocorreram em cidades como Vladivostok, Krasnoyarsk e Tomsk, onde também não havia permissão da autoridades. Segundo a imprensa local, cerca de 30 pessoas foram presas em Vladivostok.

Em São Petersburgo, milhares de manifestantes se reuniram em um dos principais pontos da cidade e fizeram uma passeata em direção à principal avenida local, cantando palavras de ordem contra o presidente da Rússia, Vladimir Putin.

"Hoje se consolidou a vitória sobre o medo", resumiu Leonid Volkov, chefe de campanha de Nalvany, ao destacar que, apesar das ameaças das autoridades de usar a força contra os manifestantes, os protestos de hoje foram os mais cheios dos últimos anos.

Volkov foi o responsável por transmitir as manifestações pela internet, mas policiais invadiram o estúdio onde o chefe de campanha estava para interromper a exibição dos protestos. Pouco depois, o sinal foi restabelecido por um estúdio reserva.

Nalvany, de 40 anos e advogado de profissão, começou a abrir comitês eleitorais em diferentes cidades depois de ter anunciado em fevereiro que será candidato à presidência da Rússia em 2018.

No entanto, o líder da oposição pode ser impedido de disputar o pleito se perder o recurso que apresentou contra uma sentença judicial que o condenou por apropriação indébita após um polêmico processo.

Segundo Nalvany, considerado o opositor com maior chance de conquistar votos na Rússia, a condenação é uma represália por suas denúncias de corrupção nas mais altas esferas do poder e um recurso para eliminá-lo da disputa eleitoral.