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Portugal se esforça para trazer de volta jovens que emigraram após a crise

24/09/2017 06h00

Cynthia de Benito.

Lisboa, 24 set (EFE).- A crise obrigou dezenas de milhares de jovens a fazer as malas e Portugal agora os quer de volta. Para conseguir isso, governo e empresários se uniram em um ambicioso plano destinado a ajudá-los a encontrar trabalho ou abrir seu próprio negócio na sua terra natal.

A iniciativa chega em uma época de contrastes. Já se passaram seis anos desde que Portugal pediu o resgate financeiro, quatro desde que atingiu o pico na taxa de desemprego - de 18% -, e agora o país apresenta um índice de apenas um dígito e um crescimento sustentado da sua economia.

Mas, no meio das boas notícias, os especialistas começaram a avisar sobre o outro lado da moeda: a população do país, de pouco mais de 10 milhões, está cada vez mais envelhecida com uma idade média que, segundo dados oficiais, já ronda os 44 anos.

Procurando por jovens, se descobre uma enorme emigração a partir de 2010, ano a partir do qual se estima que tenham ido embora várias dezenas de milhares com diplomas de ensino superior.

Este segmento é o alvo do plano "Empreender2020", lançado no ano passado pela Fundação da Associação de Empresários de Portugal (AEP) e ao qual agora se uniu ogoverno do socialista António Costa, oferecendo apoio consular para localizar os possíveis interessados.

O presidente da fundação, Paulo Nunes de Almeida, explicou à Agencia Efe que, após fazer uma enorme pesquisa com mais de 1.100 jovens, pode-se esboçar alguns dados sobre o perfil desses trabalhadores, que causaram surpresa no país.

Por exemplo, "85% deles têm bacharelado, licenciatura, mestrado ou doutorado, e são especializados sobretudo em engenharia, biologia, bioquímica, economia e informática, além de viverem atualmente de forma maioritária em países europeus".

Outro dos dados causou certa urgência na tomada de medidas: cerca de um terço "não pensa em retornar", disse Almeida, porque já constituiu sua vida no país para o qual emigrou.

"Mas dois terços encaram a possibilidade de retornar a Portugal em um horizonte de cinco anos, e deles mais da metade está disponível para desenvolver uma atividade empreendedora", destacou o presidente da fundação.

Este segmento em especial é o alvo do "Empreender2020", consciente de que estes jovens são "importantes para a economia portuguesa não só do ponto de vista demográfico, mas também porque é uma nova geração de emigrantes qualificados e que, portanto, fazem falta".

Almeida considerou que "existe uma vocação dos jovens para criar novas empresas nos setores de tecnologia e de comunicação", e que, se as expectativas do programa forem atingidas e vários milhares de emigrantes retornarem, isso repercutiria no crescimento da economia, não apenas em Lisboa ou Porto.

"Uma percentagem muito grande destes emigrantes qualificados saiu de todas as regiões. A tendência é que muitos deles retornem para sua cidade e sua região, acredito que isto vai ajudar a ter um crescimento mais equilibrado", destacou Almeida.

O "Empreender2020" propõe, em primeiro lugar, um ponto de encontro entre jovens e empresas que queiram contratá-los, que será estabelecido através de um portal na internet, e em segundo lugar, assistência para quem quer abrir sua própria empresa, seja como ajuda financeira ou no âmbito de uma assessoria.

A ideia atraiu a atenção do governo português, que tem se somado e oferecido apoio para localizar os possíveis interessados, com o intuito de fornecer a eles a informação que precisarem.

Os mais de 1.100 jovens que responderam à pesquisa já são um promissor ponto de partida para o programa, disse Almeida, acreditando que, apesar da tendência da mobilidade trabalhista de jovens no exterior, se deve dar uma oportunidade para que os que desejarem voltem para casa.