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António Costa chega à metade do mandato em Portugal entre luzes e sombras

26/11/2017 15h53

Cynthia de Benito

Lisboa, 26 nov (EFE).- A inédita aliança de esquerda que há dois anos permitiu ao socialista António Costa formar o Governo da "geringonça" em Portugal, celebra neste domingo o equador de um mandato marcado por luzes, como os bons dados econômicos, e sombras, como a tragédia dos incêndios.

Vinte e quatro meses depois de chegar ao cargo, o Executivo lembra a data com algumas metas alcançadas e vários desafios.

Nestes dois anos conseguiu superar expectativas exibindo estabilidade com os seus parceiros da esquerda radical, o marxista Bloco de Esquerda e o Partido Comunista Português (PCP).

Com eles desenvolveu orçamentos e foi aliviando parte da austeridade que foi imposta no país durante o resgate da troika, ao mesmo tempo que conseguiu convencer em Bruxelas sobre a solidez das suas contas.

Alguns dos marcos deste segundo ano de Governo são, por exemplo, a saída em junho do procedimento de déficit excessivo, sob o qual encontrava-se desde 2009.

Também houve a melhoria que a agência de qualificação Standard and Poor's (S & P) realizou em setembro da nota da dívida soberana de Portugal, à qual tirou do nível de "bônus lixo", onde estava desde janeiro de 2012.

No entanto, o cenário tornou-se mais turbulento a partir deste verão.

A onda de incêndios, que deixou neste ano mais de cem mortos, e as reivindicações dos trabalhadores, que exigem a atualização dos seus salários, são as principais sombras da segunda metade do ano, na qual, além disso, parece ter ocorrido um distanciamento com o presidente de Portugal, Marcelo Rebelo de Sousa.

O conservador Rebelo de Sousa, que ocupou o cargo quatro meses depois de Costa formar Governo, foi no seu papel de porta-bandeira da estabilidade política um aliado para o Executivo, com o qual no entanto mostrou sua aspereza por causa dos incêndios.

O presidente, que conta com uma enorme popularidade em Portugal - é o único político que não deixa de subir nas pesquisas - lançou em outubro uma dura mensagem sobre a resposta aos incêndios que precipitou em menos de 24 horas a renúncia da ministra de Administração Interna, Constança Urbano de Sousa.

Muitos comentaristas e editoriais viram nesse movimento o primeiro confronto visível entre a chefia de Estado e o Governo, que contou também com uma maior estabilidade pelo desgaste da oposição, algo que pode mudar em apenas dois meses.

Os conservadores do PSD (centro-direita), liderados pelo ex-primeiro-ministro Pedro Passos Coelho (2011-2015), terão em janeiro suas primárias para escolher um novo representante após o baque sofrido nas eleições municipais de 1 de outubro, nas quais tiveram um grande retrocesso.

Seja quem for o substituto de Passos Coelho, o homem que dirigiu Portugal durante os anos do resgate, é esperado um discurso mais duro, similar ao que já exercem os ainda mais conservadores do CDS-PP, que colocaram uma moção de censura ao Governo de Costa pela gestão dos incêndios.

A outra turbulência que é espera para os dois próximos anos está nas ruas. Os trabalhadores, conscientes das boas notícias econômicas, exigem uma atualização de seus salários, prerrogativa na qual obtêm o apoio dos comunistas e dos marxistas do Bloco de Esquerda.

O problema é a margem de orçamentos, já que é estimado um crescimento da economia para 2018 de 2,2% e uma redução do déficit de até 1%.

O ministro de Finanças, Mário Centeno, homem forte do Governo - e cujo nome soa para presidir o Eurogrupo - argumentou que trata-se de um "orçamento de esquerda" porque as contas incluem uma redução dos impostos sobre a renda dos trabalhadores e um aumento das pensões.

Mas pode ser que essas ações não bastem para atualizar os salários congelados de professores e médicos, e aumentar o salário mínimo de 557 euro atuais para os 600 euros como querem os sindicatos, que já deixaram claro que não vão esperar mais tempo. EFE

cdb/ff