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Médico brasileiro garante que transplante de útero de doadora morta é viável

05/12/2018 22h27

Nayara Batschke.

São Paulo, 5 dez (EFE).- Autor da pesquisa que resultou no nascimento do primeiro bebê a partir de um útero transplantado de uma doadora morta, o médico brasileiro Wellington Andraus considerou o sucesso da cirurgia como um exemplo para o mundo, o que prova que o procedimento é viável para ser repetido no futuro.

"O nascimento de uma menina saudável e sem nenhum problema ao longo da gravidez mostrou ao mundo que o doador falecido é factível e que o órgão segue viável para uma gravidez posterior", comemorou o médico em entrevista concedida à Agência Efe.

Andraus e Dani Ejzenberg transplantaram em 2016 um útero de uma doadora falecida a uma paciente de 32 anos. Quinze meses depois, ela deu à luz a uma menina saudável, que está prestes a completar um ano, no Hospital das Clínicas da Universidade de São Paulo.

"Foram mais de três anos de preparação. Nos preparamos, estudamos tudo o que foi publicado e realizado anteriormente. Treinamos com pesquisa e cirurgias experimentais", revelou Andraus.

Esses três anos de preparação incluíram uma visita ao médico Mats Brännström, responsável pelo desenvolvimento da técnica na Suécia, país onde ocorreu o primeiro parto a partir de transplante uterino de uma doadora viva, em 2013.

No total, 39 procedimentos deste tipo foram realizados. E, após as cirurgias, 11 bebês nasceram.

O especialista, porém, admitiu ter temido que acontecesse algo de ruim com sua paciente, como, por exemplo, uma isquemia.

No entanto, Andraus acredita que, após os bons resultados atingidos, o procedimento servirá como exemplo de que o transplante de útero de doadora morta é uma alternativa viável para mulheres com problemas de fertilidade.

"Apresentamos agora uma nova modalidade que funcionou sem problemas para a paciente, que agora está muito contente", disse.

Para realização do transplante, Andraus explicou que a paciente passou por uma série de testes clínicos e psicológicos. Uma equipe multidisciplinar também acompanhou todo o procedimento.

"É uma paciente muito bem preparada, com família constituída e com um marido. Ela sempre mostrou muita vontade de fazer o procedimento e ter seu filho", disse o médico.

Andraus destacou, além disso, que o sucesso da cirurgia é um feito não só para o Hospital das Clínicas de São Paulo, mas para o Brasil como um todo. O médico também aproveitou a oportunidade de elogiar o trabalho de toda a equipe pela conquista.

Anteriormente, dez transplantes de útero de doadores falecidos ocorreram no mundo. Eles foram realizados nos Estados Unidos, República Tcheca e na Turquia, mas o caso brasileiro foi o primeiro em que a paciente concebeu um bebê vivo.

Andraus reconheceu o procedimento gerou "polêmica", sobretudo com relação à "necessidade" de realizar uma cirurgia de alta complexidade em pacientes que não correm risco de morrer.

"Sem dúvida a polêmica existe, pelo fato de se tratar de um transplante de um órgão não vital. É uma discussão que existe, mas o transplante de útero não é o único órgão não vital que não é transplantado", ponderou o médico brasileiro.

Para Andraus, o procedimento melhorou bastante a qualidade de vida de um casal que quer ter um filho biológico. Além disso, o médico ressaltou que muitas pessoas fazem cirurgias por questões alheias a doenças ou problemas de saúde, como as estéticas.

"Talvez seja muito mais nobre fazer um transplante de útero para ter um bebê do que se submeter a uma cirurgia estética", afirmou.

Andraus acredita que a discussão ética sobre o transplante de útero de uma doadora falecida já está superada porque também há cirurgias similares com outros órgãos, como rins, fígado e pulmões.

"Acredito que esse tipo de transplante vai se desenvolver em todo o mundo e será uma opção a mais para mulheres e casais que têm problemas de fertilidade possam ter um bebê saudável", avaliou.

O médico ressaltou que o procedimento oferece menos riscos para as doadoras vivas e tem um "grande potencial" de utilização de úteros que normalmente são descartados.

"É uma alternativa boa, porque usamos o útero de um doador falecido que já era doador de órgãos, tem um custo mais baixo e oferece menos riscos às pacientes saudáveis que se submetem a uma cirurgia", concluiu Andraus.