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Coreia do Sul tenta virar página de prisão de ex-presidente por corrupção

14/12/2018 21h12

Andrés Sánchez Braun.

Seul, 14 dez (EFE).- Condenada a 32 anos de prisão por corrupção no "caso Rasputina", a ex-presidente da Coreia do Sul Park Geun-hye, deposta em janeiro de 2017, ainda dominou a política local ao longo de 2018, uma página que o país tenta virar no próximo ano.

Em abril, a Corte do Distrito Central de Seul condenou Park a 24 anos de prisão por considerá-la culpada pelos crimes de abuso de poder, suborno e coação. Em julho, o mesmo tribunal ampliou a pena da ex-presidente em oito anos ao também condená-la por abuso de fundos estatais e violação das leis eleitorais.

Park, que chegou ao poder em fevereiro de 2013, estava há um ano presa de maneira preventiva em uma prisão de Uiwang, no sul de Seul, por decisão do Tribunal Constitucional, que a destituiu a presidência do país em março de 2017.

Os problemas da ex-presidente começaram ainda em 2016, com a descoberta de um tablet que seria a primeira de uma longa lista de provas sobre a influência de Choi Soon-sil, amiga íntima de Park que ficou conhecida como "Rasputina", exercia sobre os rumos do país apesar de não possuir oficialmente nenhum cargo no governo.

As sucessivas descobertas geraram em muito pouco tempo uma onda de protestos que levou às ruas 2 milhões de sul-coreanos, indignados pelos abusos da classe política e empresarial do país.

O escândalo de extorsão, de interesses cruzados e de políticas com tons autocráticos foi o estopim para grande parte da sociedade do país, que questionou como nunca antes a forma como a Coreia do Sul realizou o milagre econômico da década de 1990.

Muitos descobriram que o sistema criado pelos governos militares e os grandes grupos empresariais seguiam ditando o destino do país, apesar da democracia estar em vigor há 30 anos.

Filha do ditador Park Chung-hee, que governou a Coreia do Sul entre 1961 a 1979, a ex-presidente representava como ninguém a elite do país, grupo do qual faziam parte a "Rasputina" e o presidente do grupo Samsung, Lee Jae-yong, também envolvido no caso.

Segundo a Corte do Distrito Central de Seul, Park e Choi construíram um grande esquema para, por um lado, coagir e silenciar opositores. Do outro, elas lucravam aproveitando-se do poder, extorquindo milhões de dólares de empresas como a própria Samsung, que, em troca, acabava sendo beneficiada pelo governo.

Resta saber se o novo presidente do país, Moon Jae-in, conseguirá apagar a mancha deixada pela opositora ou se concederá a ela um indulto no fim de seu mandato, em 2021, como fizeram outros ex-chefes de Estado que estiveram na mesma situação.

Apesar de a medida ser vista como uma tentativa de virar a página e evitar uma maior divisão da política nacional, alguns apontam que o indulto pode passar a ideia de que a lei não é igual para todos.

Muitos já acham que a Justiça foi branda com Lee Jae-yong, condenado a cinco anos de prisão pelo envolvimento no "caso Rasputina", já libertado após passar apenas um ano detido.

O órgão de concorrência da Coreia do Sul obrigou a Samsung a redesenhar sua estrutura acionária, mas a medida foi considerada como puramente cosmética já que o verdadeiro controle do grupo segue nas mãos da mesma família.

Lee, inclusive, liderou neste ano a delegação de empresários que Moon levou a Pyongyang para uma reunião com o presidente da Coreia do Norte, Kim Jong-un, dando a entender que as estruturas que possibilitaram o milagre econômico do país são muito mais perenes do que se parece.