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Brumadinho, entre a raiva, o desespero e a esperança após a tragédia

26/01/2019 12h25

Carlos Meneses Sánchez.

Brumadinho (Brasil), 26 jan (EFE).- Com raiva, desespero e esperança, dezenas de pessoas se amontoam neste sábado às portas do centro de operações de Brumadinho em busca de respostas após a ruptura de uma barragem que deixou mortos, centenas de desaparecidos e um mar de lama e lágrimas.

Nas primeiras horas após esta nova tragédia no estado de Minas Gerais, reinam o desconcerto e as informações desencontradas. Ninguém sabe muito bem a magnitude desta catástrofe que, por enquanto, tem nove mortos confirmados.

Os familiares das vítimas chegam às portas desta sala de comando - que na realidade é uma faculdade -, para saber se seu filho, seu pai ou seus amigos estão ou não na lista dos 345 desaparecidos elaborada até o momento pela Defesa Civil.

Fizeram uma vigília improvisada onde se abraçam, choram, guardam silêncio e, em algumas ocasiões, compartilham sua experiência com outros afetados, mas onde sobretudo pensam em muitas questões para as quais ainda não há respostas.

Do total de desaparecidos, 258 eram trabalhadores de Vale, mineradora dona da barragem que rompeu ontem e derramou um milhão de metros cúbicos de água e resíduos de minério de ferro, e os 87 restantes funcionários terceirizados, segundo informaram à Agência Efe fontes da Defesa Civil, embora esses números divirjam dos que foram apresentados pelos bombeiros e pela própria companhia.

Nessa lista aparece o filho de Paulo Anizeto, de 51 anos e que percorreu os principais hospitais da região em uma busca desesperada por notícias, mas, até hoje, "nada".

"Ele me mandou uma mensagem pelo WhatsApp por volta de meio-dia ontem e depois nunca mais tive contato", disse à Efe Anizeto, enquanto mostra as últimas palavras que o filho lhe enviou ("Te amo, fique com Deus").

Fazia um mês que o filho de Anizeto tinha começado a trabalhar na empresa PRO Engenharia e estava visitando o complexo de Brumadinho para realizar uma "inspeção técnica", comenta o entrevistado, que também se aproximou do local da tragédia para tentar procurá-lo.

"Estive lá, vi a destruição, vi onde estavam, a parte do refeitório, mas infelizmente nessa parte são 20 metros de altura de lama", afirma.

A onda de lama e resíduos minerais destruiu as instalações da Vale e várias casas em zonas rurais próximas ao complexo.

Nayara Cristina Dias, de 27 anos, conversa com uma voluntária para obter alguma informação sobre o paradeiro de seu marido, acompanhada de sua sogra e seu cunhado. Os três estão abraçados.

"Temos que esperar e ter esperança", diz à Efe Nayara, que acrescenta que "jamais poderia imaginar algo assim" depois do que ocorreu há três anos e dois meses em Mariana, também em Minas Gerais.

Lá, outra barragem da empresa Samarco, controlada por Vale e BHP Billiton, se rompeu causando a maior catástrofe ambiental do Brasil.

Na ocasião, uma onda de sete milhões de metros cúbicos de resíduos minerais, misturada com outros 55 milhões de metros cúbicos de água deixou 19 mortos e apagou do mapa algumas localidades da região.

Desde 5 de novembro de 2015, nenhum responsável pelo desastre de Mariana foi preso e muitas das vítimas ainda esperam ser ressarcidas.

Ana Paula Rodrigues se aproxima de um membro de Defesa Civil para saber se seu tio de 31 anos está ou não na lista de desaparecidos, ou de pessoas "não contatadas", como as autoridades preferem denominá-las. Nem rastro do seu nome.

Natural de Betim, a cerca de 30 quilômetros de Brumadinho, ele trabalhava na usina de reciclagem do complexo há apenas seis meses.

"Era uma tragédia prevista, tinha sido avisado que corria esse risco e ninguém tomava providências nem nada. Era uma tragédia anunciada, mas nunca imaginávamos que aconteceria conosco", contou Ana Paula, entre o som do voo de helicópteros de resgate e o dos veículos dos bombeiros entrando e saindo do centro de operações.

A poucos quilômetros dali, as equipes de resgate intensificaram os trabalhos em busca de sobreviventes no meio do lamaçal que inundou grande parte da região de Brumadinho. EFE