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Nghia Binh, a aldeia vietnamita da suposta assassina do irmão de Kim Jong-un

26/02/2019 15h35

Eric San Juan.

Nghia Binh (Vietnã), 26 fev (EFE).- Os vizinhos da vietnamita Doan Thi Huong, acusada na Malásia pelo assassinato de Kim Jong-nam, irmão do líder da Coreia do Norte, Kim Jong-un, defendem sua inocência e observam com ceticismo a iminente visita ao Vietnã do chefe de Estado norte-coreano.

"Ninguém acredita que ela pode ter feito fazer algo assim, nós a conhecemos desde pequena, sabemos que não fez de propósito, mas respeitamos o que ditam as leis da Malásia", disse à Agência Efe Manh, um morador de 63 anos amigo de Doan Van Thanh, o pai de Doan.

A tradicional hospitalidade dos povos rurais vietnamitas com os forasteiros se transformou em receio na aldeia de Nghia Binh, a 130 quilômetros de Hanói, onde os moradores parecem cansados da presença de jornalistas de todo o mundo e se unem para proteger a família da acusada.

"Thanh não quer falar, hoje está em um casamento e está cansado de responder às perguntas dos jornalistas sobre sua filha. Viu que não serve para nada. Quer ter uma vida mais tranquila", afirmou Manh com ar severo.

"Teve uma vida difícil, perdeu uma perna na guerra e está há anos trabalhando no mercado, monitorando o estacionamento. Sua mulher esteve doente durante anos até a sua morte e ele sempre esteve ao seu lado. Ele e sua família são muito queridos", explicou Nguyen Van Huyen, outro amigo do pai.

A tranquilidade desta aldeia rural sofreu uma reviravolta em fevereiro de 2017, quando circulou ao redor do mundo o vídeo de Dian Thi Huong cobrindo o rosto de Kim Jong-nam com um lenço que continha um letal veneno no aeroporto de Kuala Lumpur.

Quando mencionam Huong, que deixou a cidade antes de completar os 20 anos (hoje tem 31), todos falam de sua pureza, da incredulidade de que ela poderia fazer algo assim com pleno conhecimento, mas também que têm que aceitar o destino se o tribunal malaio que a julga acabar impondo a pena de morte.

Ninguém quer mencionar seu suposto trabalho como garota de programa na Malásia, seu sonho de ser cantora, nem o desejo de ser famosa, como foi descrita em vários meios de comunicação locais e internacionais.

Ngoc, um primo que passou a infância com a suspeita, também a descreve como "uma menina muito ingênua que não sabe muito sobre a vida".

"É muito provável que tenha sido enganada. Ela perdeu a mãe há alguns anos e a situação econômica do pai nunca foi boa. É uma das razões pelas quais foi à Malásia para trabalhar", comentou.

Segundo o jovem, as pessoas se mobilizaram para proteger o pai da pressão exterior e da constante chegada de jornalistas desde que o caso explodiu há agora dois anos.

"Ele e seus filhos são muito queridos no povoado. Nós todos tentamos protege-lo, cada um de nós colabora para evitar que ele se altere ao falar com a imprensa", relatou Ngoc.

A visita de Estado do líder norte-coreano, Kim Jong-un, ao Vietnã antes de sua cúpula com o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, nesta semana também não parece inspirar confiança nos moradores, que vivem alheios à política e não querem comentar nada sobre sua recepção no país com todas as honras.

"Nós não sabemos nada disso, somos gente do campo. Não acreditamos que ajude em nada, depende da justiça da Malásia e não acho que vão tratar esse assunto (a situação de Doan Thi Huong) durante a visita de Kim", afirmou Nguyen Van Huyen.

O assassinato de Kim Jong-nam foi um revés para as relações diplomáticas entre o Vietnã e a Coreia do Norte, que viviam anos de aproximações desde a chegada de Kim Jong-un ao poder em 2011, mas que agora parece superado.

"Agora decidiram virar a página, depois que, segundo a imprensa, a Coreia do Norte pediu desculpas ao Vietnã, mas na ocasião causou um esfriamento pelo suposto envolvimento de Pyongyang no assassinato e o Vietnã protestou", explicou à Efe Trung Nguyen, diretor do centro de Estudos Internacionais da Universidade de Ho Chi Minh.

Segundo a imprensa sul-coreana, as autoridades norte-coreanas pediram perdão de forma informal ao governo do Vietnã por envolver uma cidadã vietnamita no assassinato de Kim Jong-nam, uma informação que não pôde ser confirmada.

Enquanto Doan aguarda em uma prisão malaia que a justiça desse país se pronuncie sobre seu destino, seu pai planeja viajar à Malásia graças ao dinheiro arrecadado pelos vizinhos, mas ainda não sabe se conseguirá devido aos seus problemas de mobilidade e pelo medo de presenciar sua filha sendo condenada à morte. EFE