Topo

Bolsonaro avisa que não aceitará "lições" sobre preservação da Amazônia

19/07/2019 15h01

Antonio Torres del Cerro.

Brasília, 19 jul (EFE).- O presidente Jair Bolsonaro criticou nesta sexta-feira o interesse oculto que vários governos estrangeiros têm em aumentar a área protegida da Amazônia e disse que não tolerará "lições" de nenhum país sobre como proteger a região.

Em um café da manhã com correspondentes estrangeiros, o primeiro que realiza nos seus seis meses de mandato, o presidente protagonizou momentos de tensão, principalmente quando foi questionado pelo tema do meio ambiente.

"Sabemos que o mundo tem interesse na Amazônia. Não tenho provas, mas o interesse de criar uma grande área de preservação na Amazônia é discutido multilateralmente nas reuniões sobre clima no exterior", afirmou o presidente.

Incomodado diante de tantas questões sobre a preservação do meio ambiente, Bolsonaro opinou que a imprensa internacional está "envenenada" de notícias falsas sobre o Brasil.

"Se destruíssemos tanta floresta como dizem nos últimos dez anos, não teríamos mais a Amazônia e isso não é verdade", lamentou Bolsonaro, acrescentando que desafiou a chanceler alemã, Angela Merkel, e o presidente francês, Emmanuel Macron, a fazer um voo entre as cidades de Manaus e Boa Vista.

"Nós preservamos mais do que ninguém no mundo. Nenhum país pode vir nos dar lições a respeito, porque vocês já destruíram seu ecossistema. Nós somos exemplo para vocês", disse Bolsonaro em um tom desafiador, ao mesmo tempo em que criticou as fontes contaminantes, como o carvão, usadas pela Alemanha.

"Os últimos presidentes (do Brasil) eram frágeis, antipatrióticos e corruptos, mas comigo isso mudou. Entendemos a importância da Amazônia no mundo, mas a Amazônia é nossa", frisou.

O presidente também questionou as estimativas oficiais do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) sobre o desmatamento na Amazônia brasileira, segundo as quais a área devastada de floresta cresceu 88,4% em junho de 2019 a respeito do mesmo mês do ano anterior.

"Quem é esse sujeito que está à frente do Inpe? Terá que vir a Brasília para se explicar, porque nós achamos que ele não diz a verdade. Parece que está a serviço de alguma ONG corrupta", argumentou o presidente.

Em um tom ainda elevado, Bolsonaro criticou a postura de alguns países ocidentais sobre os direitos dos índios.

"Vocês (estrangeiros) querem que o índio continue como o homem pré-histórico, que não tem acesso à tecnologia, à ciência, às mil maravilhas da modernidade. A maior parte da comunidade estrangeira não está preocupada com os direitos humanos dos índios. É um crime o que a imprensa mundial faz contra o Brasil e contra esses seres humanos", ressaltou.

Em seguida, Bolsonaro comentou que com seu governo acabou a "psicose" sobre o meio ambiente e disse que abrirá os braços a qualquer país que se disponha a "explorar a biodiversidade" na Amazônia, estimada em bilhões de dólares.

O presidente também lamentou que o Brasil seja associado ao uso extensivo de produtos fitossanitários e negou que esse aspecto possa ser um ponto que impeça que o acordo comercial entre Mercosul e União Europeia (UE) saia do papel.

"Estamos nos últimos lugares em relação ao uso de agrotóxicos entre os países com uma agricultura forte (...) Rotularam nossa ministra Tereza Cristina (de Agricultura) como a rainha dos agrotóxicos e é totalmente mentira. O que acontece é que há uma guerra comercial", criticou Bolsonaro.

"É uma nova desinformação contra nosso país, uma nova 'fake news', parafraseando nosso querido Donald Trump (presidente dos Estados Unidos)", completou.

Já ao ser questionado sobre um possível aumento nos índices da fome no Brasil, Bolsonaro declarou que é uma "grande mentira" que haja fome no Brasil e comentou que não se vê nas ruas pessoas "com físico esquelético" como em outros países.

"O Brasil é um país rico para praticamente qualquer plantio. Fora que passar fome no Brasil é uma grande mentira. Passa-se mal, não se come bem, aí eu concordo. Agora, passar fome, não. Você não vê gente, mesmo pobre, pelas ruas, com físico esquelético, como a gente vê em alguns outros países pelo mundo", disse.

À margem do encontro, o presidente também se pronunciou sobre as acusações de nepotismo por causa da indicação de um dos seus filhos, Eduardo Bolsonaro, ao posto de embaixador nos Estados Unidos.

"(Eduardo) está fazendo isso pelo Brasil, não por ele", garantiu Bolsonaro, acusando o embaixador indicado pelo PT como "o pior possível, porque o que fazia era comer caviar, beber champanhe e falar mal do Brasil, além de divulgar o socialismo".

"Não será um posto fácil, mas (Eduardo) tem os requisitos mais do que suficientes para nos representar no exterior. Eu não seria tão irresponsável de indicar um filho meu para passar vergonha", argumentou. EFE