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Johnson, o novo premiê britânico que gera tanto veneração como rejeição

23/07/2019 10h52

Viviana García.

Londres, 23 jul (EFE).- Boris Johnson, eleito novo líder do Partido Conservador e próximo primeiro-ministro do Reino Unido, é um político carismático, com fama de bobo da corte, mas que gera tanto veneração como rejeição entre as fileiras "tories".

Forte crítico das estruturas da União Europeia (UE), Johnson chega ao poder com a promessa de cumprir com o Brexit até 31 de outubro, com ou sem acordo, depois de participar de uma campanha interna na qual começou e terminou como favorito.

Com seu despenteado cabelo loiro, o controverso dirigente arrasou na eleição interna entre os deputados "tories" para ser líder do partido, depois da ativação deste processo em junho pela renúncia de Theresa May como premiê devido à crise do Brexit.

Johnson pediu firmeza neste processo, que qualificou como uma aposta "de tudo ou nada", o que fez soar os alarmes de que o Reino Unido se encaminha para uma saída sem pacto do bloco europeu.

Com fama de histriônico e um senso do humor que faz rir até seus mais exacerbados inimigos, Johnson gera paixão e ódio na mesma medida, entre os que lhe veem como um político talentoso e capaz de reunir arrasadores apoios entre o eleitorado, e os que o consideram superficial e irresponsável.

A ala dura do Partido Conservador - eurocética - acolheu este político que foi ministro das Relações Exteriores sob o mandato de May e duas vezes prefeito de Londres.

No entanto, vários membros do governo de May já anteciparam a intenção de não servir sob seu mandato, entre eles o pró-europeu titular de Economia, Philip Hammond; o ministro da Justiça, David Gauke; e o responsável de Cooperação Internacional, Rory Stewart.

Johnson é o típico conservador partidário do Estado pequeno e da mínima intervenção estatal nos setores da sociedade.

Mas, sobretudo, é um "brexiteer", que enfrentou a política de compromisso de May nas negociações com o bloco europeu, o que lhe levou a renunciar à frente do Ministério das Relações Exteriores em julho do ano passado.

O novo premiê foi acusado inclusive de ter mentido na campanha do Brexit para o referendo de 2016 ao dizer que o seu país repassava ao bloco comunitário quase 400 milhões de euros por semana.

Alexander Boris de Pfeffel Johnson nasceu em 19 de junho de 1964 em Nova York, mas sua família retornou pouco depois ao Reino Unido.

Suas origens não são puramente britânicas, já que seu bisavô por parte de pai foi um jornalista chamado Ali Kemal que serviu no governo de Ahmed Pasha, grande vizir do Império Otomano.

Embora tenha estudado nos melhores colégios e tenha um sotaque inglês associado às classes privilegiadas, Johnson conseguiu romper um pouco com essa imagem classicista para receber o apoio dos londrinos, que o mantiveram como prefeito entre 2008 e 2016.

Boris, como é chamado por todo o mundo, foi aluno da escola de ensino médio de Eton e realizou Estudos Clássicos no Balliol College da Universidade de Oxford, antes de se formar jornalista.

Johnson se separou no ano passado da sua mulher, Marinha Wheeler, ao divulgar uma nova relação com Carrie Symonds, uma jovem de 31 anos que trabalha para o Partido Conservador.

É, antes de tudo, um político polêmico e já foi tachado de racista por fazer comentários inadequados, como quando comparou as mulheres que usam burca com caixas do correio ou como quando afirmou que Tony Blair - ex-primeiro-ministro trabalhista entre 1997 e 2007 - tinha sido recebido em uma viagem ao Congo por "guerreiros tribais" com sorrisos de "melancias".

Mais popular e carismático do que David Cameron - ex-primeiro-ministro conservador entre 2010 e 2016 -, Johnson foi jornalista de meios conservadores como os jornais "The Times" (foi demitido por inventar uma entrevista) e "The Daily Telegraph".

Em 2001, entrou na política ao ser eleito deputado por Henley-on-Thames, um idílico povoado nos arredores de Londres que é uma das circunscrições mais conservadoras da Inglaterra.

Dada sua popularidade, o Partido Conservador - que estava na oposição desde 1997 - viu em Johnson uma oportunidade e o apresentou como candidato "tory" à prefeitura de Londres em 2007, vencendo um ano mais tarde o trabalhista Ken Livingstone, e quatro anos depois voltou a repetir mandato como prefeito.

Agora, com as pesquisas sobre intenções de voto desfavoráveis para os conservadores e o avanço do Partido do Brexit de Nigel Farage, muitos "tories" veem Johnson como a única figura capaz de salvar a legenda da desintegração e ganhar as próximas eleições gerais, previstas para 2022.

Ambicioso como poucos, sua irmã Rachel lembrou que, desde pequeno, o maior objetivo de Boris Johnson era ser "o rei do mundo". EFE