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Maconha, armas e invasão chilena rompem mesmice eleitoral na Bolívia

23/07/2019 06h01

Gabriel Romano.

La Paz, 23 jul (EFE).- A liberação da maconha para fins medicinais, o uso de armas de fogo para autoproteção e a hipótese de uma invasão militar chilena ao território da Bolívia são alguns dos temas abordados pelos principais partidos que disputarão as eleições gerais do país em outubro.

As medidas constam nos planos de governo entregues pelos nove partidos do país ao Órgão Eleitoral da Bolívia, já à disposição dos eleitores que quiserem consultá-los na internet.

Os documentos surpreendem por trazerem propostas específicas - algumas delas polêmicas e exóticas -, deixando de lado soluções genéricas normalmente apresentadas pelos candidatos.

"Promoveremos o uso medicinal e industrial da folha de coca e da maconha", diz um trecho do plano da Unidade Cívica Solidariedade (UCS), que terá como candidato a enfrentar Evo Morales o ex-vice-presidente do país Víctor Hugo Cardenas.

A UCS decidiu adotar "valores democráticos, cristãos e indígenas" na campanha, mas também se inclina a facilitar o acesso de armas para a defesa pessoal, uma medida que o partido considera necessária para reduzir a violência contra mulheres.

A legenda também quer que os médicos de Cuba que trabalham na Bolívia sejam "libertados" e deixem de repassar parte de seus salários para o governo do país caribenho.

Outro ponto defendido pela UCS é o fim da política de cotas, como a paridade de gênero estabelecida para as candidaturas eleitorais no país.

Já o Partido Democrata Cristão (PDC) propõe uma política geoestratégia para povoar a fronteira do país com o Chile. A medida visa conter um suposto plano de "invasão militar" do governo vizinho contra a Bolívia.

Em um trecho intitulado como "Hipótese de Guerra", o partido faz um alerta que o Chile poderia invadir a Bolívia por três eixos - céu, mar e terra - e promover bombardeios nas principais cidades do país. O objetivo, segundo o documento, seria destruir todo o potencial estratégico boliviano.

Para impedir uma suposta invasão militar chilena, o PDC indica a necessidade de a Bolívia assinar acordos de defesa com Rússia, China, Irã, Coreia do Norte, Coreia do Sul e Japão.

O Movimento Nacionalista Revolucionário (MNR) propõe eliminar o discurso "pátria ou morte, venceremos" feito pelas Forças Armadas desde o início do governo de Evo Morales, que seria uma referência à Revolução Cubana.

O MNR também quer que a Bolívia estabeleça relações de amizade com Estados Unidos e Chile, países que retiraram seus embaixadores de La Paz por divergências com o governo de Morales.

As propostas mais tradicionais, claro, também constam nos planos de governo apresentados pelos principais partidos bolivianos. A federalização do modelo autônomo vigente na Bolívia desde a Constituição de 2009, por exemplo, é um dos focos da aliança Bolívia diz Não, do senador Óscar Ortiz.

Uma visão de orientação indigenista renovada é a proposta do Movimento Terceiro Sistema (MTS), do governador de La Paz, Félix Patzi. Já o Frente para a Vitória (FPV) e o Partido Ação Boliviana (PAN-BOL) incluíram nos seus planos uma série de propostas para reformas nos sistemas de saúde, educação e Justiça do país.

A Bolívia vai às urnas no próximo dia 20 de outubro para eleger o novo presidente, 130 deputados e 36 senadores, que terão mandato de cinco anos, entre 2020 e 2025. Um eventual segundo turno da eleição presidencial está marcado para ocorrer em 15 de dezembro. EFE