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Estudo descobre proteína do cérebro que atrasa progressão do Alzheimer

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Imagem: iStock

Em Barcelona

28/08/2019 17h31

Um grupo internacional de pesquisadores liderado pela Universidade de Munique, na Alemanha, descobriu que uma proteína relacionada à inflamação do cérebro ajuda a atrasar a progressão do Alzheimer, o que abre um novo caminho para desenvolver tratamentos que melhorem a vida dos pacientes.

Marc Suárez-Calvet, um dos autores do estudo e pesquisador do Barcelonabeta Brain Research Center da Fundação Pasqual Maragall, explicou à Agência Efe que trata-se da proteína TREM-2, que se manifesta nas células micróglia, as defensoras do cérebro.

Quando ocorre um dano neste órgão - como o causado pelo Alzheimer - é desencadeada uma reação inflamatória, na qual estas células estão envolvidas, para tentar contê-lo.

O estudo, publicado pela revista Science Traslational Medicine, esclarece que a inflamação mediada pela proteína TREM-2 tem um efeito benéfico para o curso da doença, de modo que potencializá-la pode ser uma maneira de desacelerar a progressão.

Suárez-Calvet admitiu que a cura do Alzheimer "ainda está longe", mas que "é factível modificar o curso da sua evolução", por isso o próximo passo será criar fármacos "que exerçam a função da proteína TREM-2".

E, embora isso possa levar alguns anos, esta descoberta permite "definir uma meta terapêutica muito valiosa", assim como corroborar que estes remédios deverão ser usados nas fases mais iniciais da doença, informou o pesquisador.

A descoberta põe fim a uma "controvérsia" que permeava a comunidade científica sobre os benefícios ou prejuízos "do papel da inflamação e as respostas imunológicas" e demonstra que os pacientes com níveis mais altos de TREM-2 apresentam uma melhor previsão.

Para chegarem a essa conclusão, os cientistas calcularam as proteínas de pessoas em fases muito iniciais da doença, as quais foram acompanhadas durante 11 anos e meio. Aquelas com maiores níveis de tal proteína "pioravam cognitivamente de forma mais lenta".

"Isto pode servir para mais pesquisas e tentar prever a evolução dos pacientes em estágios iniciais", destacou Suárez-Calvet, que acrescentou que já é possível prever quais pessoas têm mais probabilidades de desenvolver a doença.

Esse fato é notado com a análise do líquido cefalorraquidiano para detectar a proteína amiloide, que é depositada no cérebro das pessoas com Alzheimer e cujos primeiros sintomas podem demorar até 30 anos para se manifestarem.

Além disso, de acordo com o pesquisador, "as doenças neurodegenerativas são o grande desafio da medicina e um tema de estudo pendente", pois nos últimos anos não houve tantos avanços como em relação ao câncer ou ao HIV.

"O cérebro é extremamente complexo e as doenças neurodegenerativas não começam de forma repentina, mas têm um curso muito longo e lento, por isso são muito difíceis de estudar", detalhou.

Atualmente, o Alzheimer é a causa de demência mais habitual e afeta 46 milhões de pessoas no mundo todo, um número que pode se triplicar até 2050 caso não seja encontrada uma cura.

Segundo dados da Fundação Pasqual Maragall, um a cada dez idosos de 65 anos sofre Alzheimer e o seu impacto tem aumentado com o crescimento da expectativa de vida da população.