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15/08/1999: Falha em sistema é o temor em 2000

Marcelo Diego

Da Folha de S.Paulo

15/08/1999 01h00

O bug do milênio é o nome dado a uma falha de sistema que pode (não necessariamente vai) ocorrer na passagem de 1999 para 2000.

Na virada do ano, muitos computadores que usam sistema de reconhecimento de dados de apenas dois dígitos vão registrar a passagem de 99 para 00.

O que especialistas dizem é que as máquinas podem entender como uma passagem para 1900. Para evitar falhas, os sistemas devem ser trocados, passando a usar quatro dígitos.

Bug é uma palavra inglesa, que significa inseto. No ramo da informática, é um jargão para designar falhas de sistema.

A pane pode acontecer em qualquer equipamento que utilize um sistema de memória de datas. Pode afetar máquinas grandes, computadores, aparelhos eletrônicos e sistemas de rede.
Para o mercado financeiro, ela representa um perigo, principalmente em países despreparados.

Segundo especialistas, o bug pode provocar uma espécie de "efeito dominó": problemas em um país emergente podem impedir as transações realizadas em outros mercados.

Com um sistema extremamente volátil (o dinheiro viaja constantemente de um país para o outro, atrás da melhor remuneração), ficar com capital preso pode significar grande prejuízo.

Entre as falhas mais plausíveis de acontecer (para qualquer um) estão: sistemas que efetuem operações de cálculos a prazo não conseguirem ler as datas; dívidas podem ter juros multiplicados ou serem reajustadas com uma inadimplência de 99 anos; a anulação de cadastros de clientes, operações ou informações financeiras; não-divulgação de informações como saldos, extratos, transferências interbancárias; cofres de bancos se recusarem a abrir.

Além disso, há o risco de problemas sistêmicos, como não funcionar a rede de energia elétrica ou de serviço telefônico, impedindo a comunicação.

No Brasil, os bancos têm sido acompanhados pelo Banco Central e pela Febraban (Federação Brasileira das Associações de Bancos), com bons resultados.

Ainda assim, países como os EUA têm mostrado ceticismo quanto à capacidade dos países periféricos de conseguir contornar os problemas.

Entre outras razões porque é caro prevenir-se contra o bug. Estimativas apontam que empresas de grande porte, que tenham cerca de 10 mil programas, cada um com 1.000 linhas de código, vão ter um custo de R$ 1 a R$ 3 por linha para a adaptação.

Para o advogado Renato Blun, especialista no assunto e autor do livro "O Bug do Ano 2000 - Aspectos Jurídicos e Econômicos", as indenizações no Brasil, em decorrência de problemas causados pelo bug, devem atingir cerca de R$ 20 milhões.


Reportagem republicada para fazer parte do especial de 20 anos do UOL. Veja a publicação original aqui.