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26/03/2002: Oscar é negro

Halle Berry é a primeira negra a ganhar o Oscar de melhor atriz - AP Photo/Kevork Djansezian
Halle Berry é a primeira negra a ganhar o Oscar de melhor atriz Imagem: AP Photo/Kevork Djansezian

Sérgio D'Ávila

Da Folha de S.Paulo

26/03/2002 01h00

O Oscar fez história e justiça histórica: pela primeira vez nos 74 anos de existência do principal prêmio da indústria do cinema, a estatueta acabou nas mãos de uma negra. Halle Berry foi escolhida anteontem em Hollywood a melhor atriz de 2001, por sua atuação em "A Última Ceia".

Pela primeira vez também ator e atriz vencedores são negros: Denzel Washington levou o Oscar por seu papel em "Dia de Treinamento", o segundo afro-americano a ganhar tal distinção, o primeiro desde 1964, quando Sidney Poitier foi premiado por "Uma Voz nas Sombras".

"Estou há 40 anos seguindo os passos de Poitier e, na noite em que finalmente ganho o Oscar, dão outro para ele", brincou Washington. É que o ativista de 75 anos também foi homenageado com um prêmio honorário, antecedido por um clipe com elogios de diversos atores, todos negros. Coroando o Oscar negro, a noite foi conduzida com humor e verve por Whoopi Goldberg.

"As mulheres negras agora têm uma chance, pois a porta foi aberta", discursou uma emocionadíssima Halle Berry, depois de agradecer citando pelo nome várias atrizes afro-americanas, como Dorothy Dandridge e Angela Bassett. "Tanta lama foi jogada neste ano que os principais indicados eram negros", brincou Goldberg. Ela se referia à guerra de acusações envolvendo o filme "Uma Mente Brilhante".

Sem grandes vencedores

Denzel Washington - Mike Nelson/AFP - Mike Nelson/AFP
Denzel Washington ganha Oscar de melhor ator por "Dia de Treinamento"
Imagem: Mike Nelson/AFP
Não há um grande vencedor no Oscar 2002, que pela primeira vez em anos pulverizou seus cinco prêmios principais em quatro filmes diferentes, mas, se um deles se destacou, foi justamente a cinebiografia do matemático esquizofrênico John Nash Jr., que ganhou os importantes melhor filme e diretor (Ron Howard), além de atriz coadjuvante (Jennifer Connelly) e roteiro adaptado.

Nash, interpretado no filme por Russell Crowe, estava na platéia acompanhado da mulher, Alicia, e sua doença foi alvo das piadas de Whoopi Goldberg em pelo menos duas ocasiões. Nada se falou sobre as acusações de anti-semitismo que o ganhador do Prêmio Nobel sofreu ultimamente.

"Mente" bateu assim o campeão de indicações, a cinessérie "O Senhor dos Anéis", que concorria em 13 categorias e levou apenas quatro, todas técnicas. O outro grande derrotado foi o veterano outsider Robert Altman: sua sarcástica comédia de época "Assassinato em Gosford Park" perdeu seis dos sete prêmios que disputava, inclusive diretor.

Se os prêmios atiraram para todos os lados, o mesmo não se pode dizer do clima patriótico e das homenagens às vítimas de 11 de setembro, que dominaram a cerimônia -de resto a mais longa da história, com 4h21, ainda que livre pela primeira vez dos insuportáveis números de dança.

Começou com a presença de Woddy Allen. Indicado a 20 Oscar e ganhador de dois, o diretor nova-iorquino nunca havia aparecido na premiação. "Não sou bom em competições", explicou. Ele apresentou um clipe com cenas de filmes que têm Nova York como cenário, selecionadas por Nora Ephron e abertas por seu clássico "Manhattan" (1979).

Terminou com a última das várias roupas usadas por Whoopi Goldberg, que trazia as siglas do Corpo de Bombeiros e da Polícia de Nova York em suas costas. No meio, Kevin Spacey pediu um minuto de silêncio pelas vítimas do ataque terrorista. E tudo foi transmitido ao vivo num telão da Times Square, em Manhattan.

Espalhadas por toda a noite, personalidades falavam de sua experiência com o cinema e da arte como forma de união, começando por Tom Cruise e passando por nomes tão diversos quanto os do ex-presidente soviético Mikhail Gorbatchov e o reverendo nova-iorquino Al Sharpton.

A entrega do 74º Oscar, a primeira em Hollywood em 42 anos e a que contou com o maior esquema de segurança da história, acabou sem incidentes. "É hora de começar a guerra de lama pelo Oscar 75", concluiu Whoopi.


Reportagem republicada para fazer parte do especial de 20 anos do UOL. Veja a publicação original aqui.