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'Bambas' do samba paulista relembram tradições antes do sambódromo

Lançamento da exposição ?Bambas na Barra Funda?. 26.02.2025 - Danylo Martins/Mangue Seco Lançamento da exposição ?Bambas na Barra Funda?. 26.02.2025 - Danylo Martins/Mangue Seco
Lançamento da exposição ?Bambas na Barra Funda?. 26.02.2025 Imagem: Danylo Martins/Mangue Seco

Hysa Conrado

Colaboração para Nós Negros, em São Paulo (SP)

09/03/2025 09h55

Antes do Sambódromo do Anhembi ser inaugurado, em 1991, muitos grupos desfilavam pelas principais ruas da cidade, como a avenida São João e Tiradentes, além do Vale do Anhangabaú.

Simone Tobias, compositora e ex-presidente da agremiação Camisa Verde e Branco, relembra deste período em que os desfiles não tinham tanto glamour ou apelo midiático.

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"Mesmo pertencendo a diferentes agremiações, éramos elos de uma mesma corrente: o samba. Brigávamos e discutíamos, mas a nossa briga maior era na avenida. Não brigávamos nos bastidores. Frequentávamos as casas uns dos outros, conhecíamos as famílias envolvidas nas escolas, convivíamos o ano inteiro", conta.

A ideia de que esse senso de comunidade possa se perder é o que a aflige quando reflete sobre as competições atualmente. "Gostaria que as futuras gerações entendessem como era antes e por que essa união era tão forte", diz.

"Temo pela memória do samba paulista, pois as pessoas parecem menos interessadas. Meu maior receio é que muitos acreditem que o samba começou no Sambódromo."
Simone Tobias, ex-presidente da agremiação Camisa Verde e Branco

Simone é categórica em outro ponto: o papel das mulheres no samba. Para ela, ainda é preciso superar o ideário machista e patriarcal. "Vejo claramente que as mulheres pretas ainda não alcançaram o protagonismo no samba paulistano."

A compositora é uma das homenageadas da exposição "Bambas na Barra Funda", coordenada pela Iniciativa Negra, que pretende resgatar a memória da tradição do samba no bairro da zona oeste, além de homenagear a comunidade negra que construiu essa história.

Entre os homenageados também estão "bambas" como Zelão, Seu Ideval e Tia Neide, bem como o músico Ailton Mesquita.

"Na minha adolescência, o reduto do samba era a Barra Funda. Muita gente vinha de longe para participar dos eventos. Era o baile do Chic Show, Rua do Samba, Botiquim do Camisa? Era 'top' para nós negros. Que saudade dessa época"
Ailton Mesquita, músico da Velha Guarda Musical do Camisa Verde e Branco

A exposição faz parte de um projeto maior, o Cartografias de Bambas, e, segundo Nathália Oliveira, cofundadora da Iniciativa Negra e coordenadora geral do projeto, é uma maneira de ir contra o avanço do mercado imobiliário na região.

"O que a gente tem visto é o bairro crescer rapidamente com imóveis caros e afastando a população que historicamente sempre esteve presente nesse território", afirma. "O principal desafio é a própria permanência dos sujeitos negros aqui."

A exposição "Bambas na Barra Funda" foi inaugurada na quarta (26) e ficará disponível para visitação até o dia 29 de março, na Rua Lavradio, 237, na Barra Funda. A mostra fica aberta ao público de terças às sextas-feiras, das 14h às 19h. Para o agendamento de visitas guiadas, basta enviar e-mail para: cartografiadebamba@iniciativanegra.org.br.

***

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