Lua de mel entre presidente argentino e Congresso parece terminada após um ano
Por Nicolás Misculin
BUENOS AIRES (Reuters) - O Congresso da Argentina, dominado pela oposição, ajudou o presidente de centro-direita Mauricio Macri a aprovar reformas em prol do mercado no seu primeiro ano no posto, mas parlamentares estão ficando cada vez mais hostis à medida que se preparam para as eleições de meio de mandato de 2017.
No que pode ser uma mostra do que pode ocorrer no próximo ano, a Câmara neste mês deu ao governo um forte alerta quando aprovou uma versão alternativa à proposta do governo de imposto de renda e forçou a equipe de Macri a voltar para a mesa de negociações.
"Os parlamentares permitiram a governabilidade antes, mas agora as eleições estão chegando”, disse Mariel Fornoni, analista da consultoria Management & Fit. “Cada parlamentar vai começar a ter que se diferenciar.”
Empresários celebraram a eleição de Macri após 12 anos de um regime de esquerda, mas a maioria quer garantias de que a mudança que o presidente representa é sustentável e de que reformas possam ser aprovadas antes de eles se comprometerem a fazer os investimentos necessários para a retomada do crescimento econômico.
O movimento político argentino mais famoso, o hoje dividido peronismo, e a Frente Renovadora, do ex-candidato a presidente Sergio Massa, são os principais campos políticos buscando mais assentos no Congresso em outubro próximo. Os dois estão à esquerda de Macri na maioria das políticas econômicas.
Um porta-voz da coalizão de Macri no Congresso, a “Cambiemos”, admitiu que o cenário é preocupante.
"Vai ser muito diferente em relação a este ano. É bem possível que Massa tente conduzir a pauta no ano que vem”, disse ele, que pediu para não ser identificado.
Analistas não esperam que Macri ganhe maioria em alguma das duas Casas do Congresso em 2017. Investidores gostariam de ver o governo mantendo as suas promessas de uma reforma nos mercados de capitais, uma reforma trabalhista e uma reformulação no sistema tributário.
Neste ano, o Congresso aprovou um orçamento para 2017 com um déficit fiscal menor e um acordo histórico com credores que permitiu que a Argentina voltasse ao mercado de títulos.
Contudo, no que foi considerado a primeira grande derrota de Macri no Parlamento, o Senado em novembro rejeitou a reforma eleitoral que, segundo analistas, prejudicaria os peronistas.
A Câmara dos Deputados aprovou a reforma do imposto de renda defendida por Massa, que reduziria a arrecadação estatal.
O governo então apresentou uma nova proposta que reduz o imposto tomado em cerca de 440 milhões de dólares em relação ao projeto inicial. A expectativa é que o novo projeto passe pelo Senado na quarta e pela Câmara na quinta.
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