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Repórteres de Mianmar dizem temer por liberdade de imprensa após prisão de jornalistas da Reuters

22/12/2017 10h30

YANGON (Reuters) - Alguns defensores de direitos humanos dizem que a liberdade de imprensa está sob ataque em Mianmar, embora décadas de comando de uma junta militar que controlava duramente a mídia tenham dado lugar a um governo liderado por Aung San Suu Kyi, ganhadora do Prêmio Nobel da Paz.

Mianmar deteve ao menos 29 jornalistas nos 20 meses transcorridos desde que Suu Kyi assumiu o poder. Embora a maioria deles tenha sido libertado sob fiança desde então, a frequência das prisões –além da detenção de dois repórteres da Reuters na semana passada– ressuscitou o temor de alguns jornalistas que tentam cobrir os episódios de violência no Estado de Rakhine.

"Há riscos demais sendo acrescentados aos jornalistas", disse Sonny Swe, executivo-chefe e co-fundador da revista Frontier, sediada em Yangon. "Sinto que não estamos andando para frente, mas voltando no tempo quanto à liberdade de imprensa e de expressão."

Até dezembro havia cinco repórteres, incluindo da Reuters, na prisão.

Wa Lone e Kyaw Soe Oo –que faziam uma cobertura sobre a crise em Rakhine para a Reuters– foram presos em 12 de dezembro em Yangon. O Ministério da Informação disse que "obtiveram informações ilegalmente com a intenção de compartilhá-las com a mídia estrangeira". Eles podem ter que cumprir até 14 anos de prisão, segundo a Lei de Segredos Oficiais do país.

As autoridades de Mianmar afirmaram que o caso não tem relação com a liberdade de imprensa.

"Existem visões diferentes, baseadas no seu ponto de vista... existe liberdade de imprensa em Mianmar, contanto que você siga as regras e regulamentos", disse Kyaw Soe, diretor-geral do Ministério da Informação, à Reuters por telefone na quinta-feira, recusando-se a comentar mais.

Uma mídia do país surgiu desde que a transição do governo militar teve início em 2011 e a censura pré-publicação foi revogada em 2012.

Mas neste ano Mianmar ficou no 131o lugar entre 180 nações no relatório sobre liberdade de imprensa dos Repórteres Sem Fronteiras, portanto no terço final da lista, mas à frente de sete países da região: Camboja, Tailândia, Malásia, Singapura, Brunei, Laos e Vietnã.

"As autoridades continuam a exercer pressão sobre a mídia e até a intervir diretamente para mudar políticas editoriais", disseram os Repórteres Sem Fronteiras em um relatório neste ano.

Na semana passada Kyaw Zwa Moe, editor da edição em inglês do site Irrawaddy, disse em um comentário que Mianmar tem liberdade de imprensa, "mas com um limite invisível".