Enchentes "catastróficas" do Rio Amazonas estão aumentando, alertam cientistas
Por Sophie Hares
TEPIC, México (Thomson Reuters Foundation) - As enchentes intensas do Amazonas vêm aumentando em meio às alterações dos padrões climáticos e ameaçam a saúde e o sustento de pessoas que vivem às margens do maior rio do mundo, alertaram cientistas.
Analisando mais de 100 anos de registros de medições dos níveis do Rio Amazonas no porto de Manaus, eles descobriram que enchentes extremas que ocorriam cerca de uma vez a cada 20 anos na primeira metade do último século agora acontecem aproximadamente a cada quatro anos.
"Existem efeitos catastróficos nas vidas das pessoas, já que a água de beber é invadida e as casas ficam completamente destruídas", disse Jonathan Barichivich, cientista ambiental da Universidade Austral do Chile.
"Nossas descobertas expõem as causas fundamentais da intensificação recente – a estação úmida está ficando mais úmida, e a estação seca está ficando mais seca – do ciclo da água da maior bacia hidrográfica do planeta", disse ele à Thomson Reuters Foundation.
As secas também se tornaram mais frequentes nas últimas duas a três décadas, mas o aumento das enchentes se destacou, observou ele.
Em um estudo publicado nesta quarta-feira no periódico científico Science Advances, pesquisadores de instituições como a britânica Universidade de Leeds disseram que as enchentes intensas afetaram a bacia do Amazonas quase todos os anos entre 2009 e 2015.
Eles relacionaram o aumento das enchentes a uma combinação de temperaturas mais quentes no Oceano Atlântico e temperaturas mais frias no Pacífico.
Conhecido como Circulação de Walker, este efeito influencia padrões climáticos tropicais e pode ser atribuído em parte a mudanças em cinturões de vento causadas pelo aquecimento global, disse o estudo.
Como se acredita que as temperaturas no Atlântico subirão mais do que no Pacífico, os riscos de enchentes no Rio Amazonas persistirão, previram os cientistas.
"Achamos que isso continuará durante ao menos uma década", disse Barichivich, ex-bolsista de pesquisa da Universidade de Leeds.
O estudo também observou que o desmatamento e a construção de usinas hidrelétricas podem desempenhar um papel na alteração dos níveis das águas.
Além de prejudicarem a criação de gado e a agricultura nas planícies alagadas do rio, as enchentes extremas afetam a saúde de comunidades do Brasil, Peru e outras nações amazônicas porque contaminam a água e ajudam a disseminar doenças, segundo a pesquisa.
Monitorar mudanças nos níveis do rio é importante porque a bacia amazônica tem um papel crucial nos sistemas hidrográficos e de carbono do mundo, afirmou Barichivich.
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