Dólar pode cair a R$4,75 nos próximos meses antes de se recuperar no fim do ano, dizem analistas
Por José de Castro
SÃO PAULO (Reuters) - O dólar fechou em alta nesta quarta-feira, puxado por uma correção global na moeda norte-americana e por realização de lucros depois de um mês inteiro de queda na cotação, que em junho teve a maior baixa mensal de 2021 e encerrou o trimestre com a mais forte desvalorização em 12 anos.
O mercado acompanhou de perto ainda o noticiário político, atento à CPI da Covid-19 no Senado e a informações sobre contratos de compra de vacinas pelo governo federal.
O dólar à vista subiu 0,67% nesta quarta, para 4,9764 reais. A moeda chegou a superar 5 reais ao avançar 1,66% na máxima da sessão, quando bateu 5,025 reais. Na mínima, atingida ainda no início do pregão, marcou 4,9537 reais, ganho de 0,21%.
Em junho, o dólar caiu 4,77%, maior perda mensal desde novembro passado (-6,82%). No trimestre, a cotação recuou 11,62%, baixa mais expressiva desde o segundo trimestre de 2009 (-15,80%).
No primeiro semestre de 2021, o dólar caiu 4,14%.
Nesta quarta, investidores acompanharam a intensificação de ruídos políticos domésticos, após notícias sobre corrupção na compra pelo governo federal da vacina da AstraZeneca. O servidor Roberto Ferreira Dias, acusado de pedir propina a um representante de uma empresa vendedora de vacinas, foi exonerado.
Por ora, contudo, analistas se dividem sobre um impacto mais visível do noticiário de Brasília no mercado.
"Acho que hoje houve, sim, um componente político (na reação do dólar)... No fim do dia, Bolsonaro não será implicado, mas obviamente isso aumenta incerteza e faz o mercado exigir mais prêmio. E isso pegou todos os mercados", disse Rodrigo Cruz, sócio e gestor de renda fixa e câmbio da Meraki Capital.
As taxas de longo prazo dos contratos futuros de juros negociados na B3 saltaram cerca de 10 pontos-base, e o principal índice das ações brasileiras caiu 0,4%, segundo dados preliminares.
"Acho que isso trouxe um pico de ruído para o mercado, mas o mercado não me parece ver potencial de um processo de impeachment do presidente ou de um abalo à popularidade do presidente dentro de seu núcleo de apoio", disse Luciano Rostagno, estrategista-chefe do banco Mizuho.
Ainda sobre o dia, Cruz, da Meraki Capital, citou maior volatilidade no câmbio decorrente de um vencimento de puts (opções de venda) de dólar a 5.000,00 reais (os contratos futuros de câmbio da B3 são negociados em reais por 1.000,00 dólares), com valor nocional de 3,5 bilhões de dólares.
A disputa ocorreu antes da definição da Ptax de fim de mês (por volta de 13h de Brasília). Posteriormente, a alta do dólar arrefeceu.
A força do dólar no exterior também respaldou o ganho de terreno da cotação por aqui. O índice da moeda subia 0,3% no fim da tarde, a 92,339, numa máxima em dois meses e meio e a caminho de registrar a maior alta mensal desde novembro de 2016.
Investidores aguardam com ansiedade dados do mercado de trabalho dos EUA a serem divulgados na sexta-feira e suas potenciais implicações sobre a política monetária do banco central norte-americano.
2º SEMESTRE
Com o fator político doméstico aparentemente ainda em segundo plano, o mercado se volta para catalisadores de movimento cambial no curto prazo.
Para Luciano Rostagno, do banco Mizuho, o real deve continuar se valorizando. "O BC pode acelerar o passo de alta da Selic no próximo encontro (de política monetária), a vacinação está avançando e a economia deve ganhar tração no segundo semestre, com a inflação começando a recuar no fim do ano", disse. "Então acho que o cenário tende a ser favorável para o real."
O estrategista prevê que o dólar poderá tocar 4,75 reais no terceiro trimestre, antes de fechar o ano em 4,85 reais, sob pressão em parte da continuidade da agenda de reformas locais.
Joaquim Kokudai, gestor na JPP Capital, também vê impacto menor do ambiente político no curto prazo, por enquanto, e avalia que a melhora da conta corrente é um elemento de suporte ao real.
"Tudo indica que o exportador ainda tem dinheiro para internalizar. E nossos termos de troca seguem favoráveis", afirmou, referindo-se a uma medida entre preços de exportação e importação, que, mais alta, sugere maior entrada de dólares ao país.
O Brasil registrou em maio o segundo superávit consecutivo em transações correntes, de 3,840 bilhões de dólares, reduzindo o déficit acumulado em 12 meses a 0,55% do PIB, ante 0,86% no mês anterior, mostraram números do Banco Central na sexta-feira passada. Para junho, o BC estima saldo positivo na conta corrente 6,5 bilhões de dólares e investimentos diretos de 2,5 bilhões de dólares.
O Bank of America também chama atenção para os bons números do balanço de pagamentos. Segundo o BofA, o real é destaque na América Latina pelo potencial de se beneficiar da combinação dessa variável com um tom mais duro do Banco Central e uma menor incerteza política --que estabilizaria as "fontes" de financiamento.
Rodrigo Cruz, da Meraki Capital, vê, contudo, maior pressão sobre o câmbio no fim do ano, conforme os mercados voltarão a ter de lidar com discussões de Orçamento enquanto ganham espaço nas manchetes notícias sobre as eleições presidenciais de 2022.
No curto prazo, diz, a moeda pode testar 4,80 reais, mas já em agosto há um importante evento de risco: o simpósio do Fed em Jackson Hole, dos dias 26 a 28.
"Tem toda uma questão de retirada de estímulos que pode ser anunciada no evento", disse Cruz, que prevê dólar entre 5,30 reais e 5,50 reais ao fim deste ano.
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