Guinada global para direita pode desacelerar, mas não reverter ação climática

Por Simon Jessop e Susanna Twidale e Virginia Furness

LONDRES (Reuters) - Uma guinada política para a direita na Europa e uma possível Presidência de Donald Trump nos Estados Unidos não prejudicarão os esforços climáticos globais, uma vez que as empresas estão cada vez mais comprometidas com estratégias ecológicas, segundo os participantes da Semana de Ação Climática de Londres.

Em um ano de grandes eleições em todo o mundo, partidos populistas e de direita voltaram ao poder ou ganharam terreno na União Europeia, na Índia, na Indonésia na Argentina e, potencialmente, na França, que vai às urnas no fim de semana. A mudança é compensada, até certo ponto, pelos ganhos da esquerda no México e, como é esperado, no Reino Unido na próxima semana.

O maior abalo se aproxima com a eleição de novembro nos EUA, onde as pesquisas nacionais têm mostrado uma disputa empatada, mas com o presidente Joe Biden atrás do candidato republicano Donald Trump na maioria dos Estados decisivos.

Em seu primeiro mandato, Trump tirou a maior economia do mundo do Acordo de Paris, um plano internacional para combater o aquecimento global.

No entanto, para os 45.000 delegados que estiveram em Londres nesta semana para participar do maior evento climático anual da capital britânica, a mensagem foi clara: mesmo na ausência do apoio do governo dos EUA, a economia real continuará se movendo em direção à descarbonização.

"Será que uma mudança na Presidência poderia interromper o progresso atual que está sendo feito? A resposta é não. Poderia assediá-lo e torná-lo mais lento do que está sendo neste momento, a resposta é sim", disse o ex-enviado especial dos EUA para o clima John Kerry à Reuters.

"O ponto principal é que os presidentes-executivos de todo o planeta entendem que evitar a responsabilidade climática não é um bom plano de negócios... seus produtos, o custo de suas cadeias de suprimentos, tudo será afetado."

Uma reação contra os investimentos ambientais, sociais e de governança nos EUA e em outros países, à medida que a inflação e a crise do custo de vida voltaram a concentrar a atenção nos lucros de curto prazo, tem levado algumas empresas a mudar sua estratégia sobre energia renovável.

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As ambições da política climática da UE também foram enfraquecidas mesmo antes das eleições deste mês para o Parlamento Europeu, e as empresas que estão avançando com metas climáticas estão cada vez mais relutantes em torná-las públicas por medo de serem criticadas.

Trump tem conquistado apoio em algumas partes dos EUA por seus comentários que rejeitam os riscos das mudanças climáticas, mas o bilionário Bill Gates estava cautelosamente otimista de que Trump, se reeleito, não irá desfazer a principal política climática do presidente Joe Biden, a Lei de Redução da Inflação (IRA, na sigla em inglês).

Gates disse a jornalistas acreditar que "muitas das coisas da IRA permaneceriam intactas" devido à necessidade de consenso no Congresso para revogar os créditos fiscais e porque os Estados republicanos têm se beneficiado.

O sucessor de Kerry, John Podesta, disse aos delegados que os incentivos fiscais que têm estimulado os negócios verdes dos EUA foram estruturados para dar às empresas dez anos de certeza, ajudando a garantir mudanças duradouras.

Embora a política possa afetar o ritmo da mudança, "não veremos uma reversão", disse Selwin Hart, conselheiro climático do secretário-geral da ONU. "Quem investiria em carvão nas economias avançadas? Já não é competitivo em termos de custos."

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