Venezuelanos protestam contra vitória declarada por Maduro em eleição

Por Mariela Nava e Julia Symmes Cobb

CARACAS/MARACAIBO, Venezuela (Reuters) - Manifestantes se reuniram nas ruas de cidades venezuelanas nesta segunda-feira, depois que o presidente Nicolás Maduro afirmou ter garantido um terceiro mandato em uma eleição tensa no fim de semana, em meio a apelos da oposição e da comunidade internacional para que as contagens completas dos votos sejam divulgadas.

Multidões foram às ruas do país e, em várias áreas, as manifestações foram dispersadas pelas forças de segurança. Enquanto isso, os governos dos Estados Unidos e de outros países questionaram os resultados oficiais que mostraram a vitória de Maduro sobre o candidato da oposição, Edmundo González.

A autoridade eleitoral nacional disse, pouco depois da meia-noite, que Maduro conquistou um terceiro mandato com 51% dos votos -- um resultado que estenderia um quarto de século de governo socialista. 

Em seguida, proclamou Maduro presidente para o mandato entre 2025 e 2031, acrescentando que ele havia recebido “uma maioria dos votos válidos”. 

Mas pesquisas de boca de urna independentes apontaram para uma grande vitória da oposição depois de demonstrações entusiásticas de apoio para González e a líder da oposição, María Corina Machado, durante a campanha. 

González conquistou 70% dos votos, segundo Machado, que foi proibida de ocupar cargos públicos por uma decisão que ela considera injusta. 

“Estamos cansados disso, queremos liberdade, queremos ser livres para nossos filhos”, disse à Reuters o mototaxista Fernando Mejía, de 41 anos, enquanto marchava na cidade de Maracay com sua família.

Em El Valle, uma área no sul de Caracas, a polícia disparou gás lacrimogêneo na tentativa de dispersar os manifestantes.

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A cerca de quatro quarteirões do Palácio Miraflores, a sede do governo, em Caras, homens mascarados, vestidos à paisana e armados, bloquearam o caminho de um grupo de manifestantes, incluindo mulheres e homens, que, a cerca de 200 metros de distância, gritavam "liberdade , liberdade ", e "vai cair, vai cair, este governo vai cair", segundo testemunhas da Reuters.

Manifestações semelhantes foram realizadas no centro, leste e oeste de Caracas.

Em Coro, capital do Estado de Falcón, no noroeste, os manifestantes derrubaram uma estátua que representava o falecido presidente e mentor de Maduro, Hugo Chávez.

As regras foram violadas no dia da eleição, segundo a oposição, citando que seus fiscais foram impedidos de acompanhar as contagens, entre outros problemas. 

A organização sem fins lucrativos norte-americana, Carter Center, que enviou observadores à Venezuela para a eleição, solicitou que a autoridade eleitoral publique imediatamente os resultados por seção eleitoral. 

A autoridade eleitoral deveria ser um órgão independente, mas a oposição afirma que age como um braço do governo Maduro. 

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González não convocou seus apoiadores para irem às ruas e alertou contra violência, apesar de relatos de prisões e intimidação de seus apoiadores. 

Uma cacofonia de barulhos veio das regiões de Petare e 23 de Enero, em Caracas -- tradicionalmente bastiões de classe trabalhadora do Partido Socialista -- durante a manhã desta segunda-feira, com os moradores participando de um “panelaço”, tradicional protesto latino-americano em que as pessoas batem panelas e frigideiras. 

Mas muitos eleitores venezuelanos que falaram com a Reuters pareceram resignados. 

“Ontem (domingo), Maduro despedaçou meu maior sonho, de ver minha única filha novamente, que foi à Argentina três anos atrás”, disse a aposentada Dalia Romero, 59, em Maracaibo. “Eu fiquei aqui sozinha com câncer de mama para que ela pudesse trabalhar lá e me enviar dinheiro para o tratamento.” 

“Agora, eu sei que morrerei sozinha sem vê-la novamente”, disse, entre lágrimas.

Maduro tem governado durante um colapso econômico, a migração de cerca de um terço da população e uma profunda deterioração de relações diplomáticas, coroada por sanções impostas por Estados Unidos, União Europeia e outros países que prejudicaram um setor petrolífero que já estava com problemas. 

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“Acordamos tristes”, disse o motorista de Maracaibo Ender Núñez, de 42 anos, esperando para pegar passageiros. “Vamos ficar neste pesadelo por mais seis anos e o que mais dói é que eles nos roubaram.” 

Incidentes isolados de violência aconteceram ao redor do país antes e depois do anúncio dos resultados, incluindo a morte de um homem no Estado de Táchira e brigas em seções eleitorais em Caracas e outros lugares. 

A polícia dispersou um protesto em Catia, tradicionalmente uma base do partido governista no oeste de Caracas, nas primeiras horas da manhã. 

O secretário de Estado dos EUA, Antony Blinken, afirmou que Washington tem preocupações sérias de que os resultados oficiais não refletem os votos da população. 

Autoridades do governo Biden, falando com repórteres sobre a votação sob condição de anonimato, acusaram o governo de “manipulação eleitoral”. Eles não anunciaram novas medidas punitivas, mas deixaram as portas abertas para mais sanções. 

O Brasil também afirmou que está observando de perto a contagem de votos e esperando dados das seções eleitorais. O presidente do México, Andrés Manuel López Obrador, disse que esperará até que 100% dos resultados sejam divulgados antes de reconhecer um vencedor. 

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Rússia, Cuba, Honduras e Bolívia comemoraram a suposta vitória de Maduro. 

(Reportagem de Mariela Nava em Maracaibo e Julia Symmes Cobb, em Caracas)

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