Vitória de Trump testará instituições democráticas e relações exteriores dos EUA

Donald Trump garantiu a Presidência dos Estados Unidos nesta quarta-feira quatro anos depois de deixar a Casa Branca ao perder sua tentativa de reeleição, com dezenas de milhões de eleitores abraçando uma visão de liderança que provavelmente testará as instituições democráticas e as relações exteriores do país.

Trump, de 78 anos, reconquistou a Casa Branca confortavelmente após uma campanha marcada por uma retórica sombria que aprofundou a polarização no país, prevalecendo após dois atentados contra sua vida e uma decisão tardia dos democratas de lançar Kamala Harris após o presidente norte-americano, Joe Biden, se retirar da disputa em julho.

Kamala, vice-presidente dos EUA, concederá a eleição a Trump por volta das 16h (18h00, em Brasília), disse uma fonte à Reuters. Fontes haviam dito anteriormente que seu discurso aconteceria por volta das 18h.

A vitória de Trump no Estado decisivo do Wisconsin o levou a ultrapassar os 270 votos do Colégio Eleitoral necessários para conquistar a Presidência. Até as 11h da costa leste (13h, no horário de Brasília), ele havia conquistado 279 votos eleitorais contra 223 de Kamala, com vários Estados ainda a serem contabilizados, segundo projeção da Edison Research.

Ele também tinha mais de cinco milhões de votos de vantagem na contagem popular.

"A América nos deu um mandato poderoso e sem precedentes", disse Trump nesta quarta-feira, diante de uma multidão que vibrava no Centro de Convenções do Condado de Palm Beach, na Flórida.

Trump foi eleito apesar de índices de aprovação persistentemente baixos. Sofreu dois impeachments, foi indiciado criminalmente quatro vezes e considerado civilmente responsável por abuso sexual e difamação. Em maio, Trump se tornou o primeiro presidente dos EUA a ser condenado por um crime, quando um júri de Nova York o considerou culpado de 34 acusações de falsificação de registros comerciais para encobrir um pagamento a uma estrela pornô.

A carreira política de Trump parecia ter chegado ao fim após suas falsas alegações de fraude eleitoral levarem uma multidão de apoiadores a invadir o Capitólio dos EUA em 6 de janeiro de 2021, em uma tentativa sem sucesso de reverter sua derrota em 2020.

Mas ele varreu os adversários dentro de seu Partido Republicano e, em seguida, derrotou Kamala, aproveitando as preocupações dos eleitores com os preços altos e o que Trump alegou, sem provas, ser um aumento da criminalidade devido à imigração ilegal.

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Kamala não falou com apoiadores reunidos em sua alma mater, a Universidade Howard, na noite de terça-feira. Sua campanha convidou os apoiadores a voltarem à Howard nesta quarta.

Os republicanos conquistaram a maioria no Senado dos EUA, mas nenhum dos partidos parecia ter vantagem na Câmara, onde os republicanos atualmente detêm uma maioria estreita.

Os principais mercados de ações de todo o mundo se subiam após a vitória de Trump, e o dólar teve seu maior salto em um dia desde 2020.

A vitória de Trump terá implicações importantes para as políticas de comércio e mudanças climáticas dos EUA, a guerra na Ucrânia, os impostos dos norte-americanos e a imigração.

O primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, falou com Trump para parabenizá-lo e eles discutiram "a ameaça iraniana" e a necessidade de trabalharem juntos pela segurança de Israel, disse o gabinete de Netanyahu. "A conversa foi calorosa e cordial", afirmou.

O grupo militante palestino Hamas pediu o fim do "apoio cego" dos Estados Unidos a Israel.

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O presidente ucraniano Volodymyr Zelenskiy saudou o que chamou de compromisso de Trump com a "paz por meio da força", e o Kremlin disse que esperaria para ver se sua vitória poderia ajudar a acabar com a guerra na Ucrânia mais rapidamente.

Durante sua campanha, Trump disse que poderia terminar a guerra em 24 horas.

Empregos e economia

Antes da eleição, os eleitores identificaram empregos e a economia como o problema mais urgente do país, de acordo com as pesquisas de opinião Reuters/Ipsos. Muitos norte-americanos continuaram frustrados com os preços mais altos, mesmo em meio a mercados de ações com altas recordes, salários em rápido crescimento e baixo desemprego.

Com o governo Biden levando grande parte da culpa, a maioria dos eleitores disse que confiava mais em Trump do que em Kamala para resolver o problema.

Em condados ao redor dos Estados Unidos — mesmo em muitos fortemente democratas — os resultados até agora mostraram que Trump teve um desempenho melhor do que em 2020.

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Os hispânicos, eleitores tradicionalmente democratas, e famílias de baixa renda mais atingidas pela inflação ajudaram a impulsionar a vitória. O apoio de Trump entre as mulheres, com cujo apoio os democratas contavam, melhorou em relação a quatro anos atrás. E sua base fiel de eleitores rurais, brancos e sem formação universitária novamente apareceu em peso, de acordo com as pesquisas de boca de urna da Edison Research.

Se Trump ganhar o voto popular, ele será o primeiro candidato republicano à Presidência a fazer isso desde George W. Bush em 2004.

As propostas tarifárias de Trump poderiam desencadear uma guerra comercial mais acirrada com a China e aliados dos EUA, e suas promessas de reduzir impostos corporativos e implementar uma série de novos cortes poderiam aumentar a dívida dos EUA, segundo os economistas.

Trump prometeu lançar uma campanha de deportação em massa visando os imigrantes que estão no país ilegalmente.

Ele disse que quer ter autoridade para demitir funcionários públicos que considere desleais. Seus oponentes temem que ele transforme o Departamento de Justiça e outras agências federais de aplicação da lei em armas políticas para investigar quem percebe como inimigo.

Um segundo mandato de Trump poderia criar um abismo maior entre democratas e republicanos em questões como raça, gênero, o que e como as crianças são ensinadas e direitos reprodutivos.

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Kamala fica aquém do esperado

Kamala ficou aquém do esperado em sua campanha de 15 semanas como candidata, não conseguindo galvanizar apoio suficiente para derrotar Trump, que ocupou a Casa Branca entre 2017 a 2021, ou para dissipar as preocupações dos eleitores sobre economia e imigração.

Kamala alertou que Trump queria ter um poder presidencial sem controle e representava um perigo para a democracia.

Quase três quartos dos eleitores afirmam que a democracia norte-americana está ameaçada, de acordo com as pesquisas de boca de urna, ressaltando a polarização em um país onde as divisões só aumentaram durante uma disputa acirrada.

Trump fez uma campanha caracterizada por uma linguagem apocalíptica. Ele chamou os Estados Unidos de "lata de lixo" para imigrantes, prometeu salvar a economia da "obliteração" e classificou alguns rivais como o "inimigo interno".

Suas diatribes eram frequentemente dirigidas aos imigrantes, que ele dizia estarem "envenenando o sangue do país", ou a Kamala, que ele frequentemente ridicularizava como pouco inteligente.

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(Reportagem de Joseph Ax, Nandita Bose, Doina Chiacu e Brad Heath em Washington; Andrea Shalal em Dearborn, Michigan; Gram Slattery em Pittsburgh; Jarrett Renshaw na Filadélfia; Gabriella Borter e Alexandra Ulmer em Phoenix; Helen Coster em Raleigh, Carolina do Norte; Stephanie Kelly em Asheville, Carolina do Norte; Steve Holland em Palm Beach, Flórida; Tim Reid, Bianca Flowers e Rich McKay em Atlanta; Brad Brooks em Las Vegas; Nathan Layne em Detroit; e Timothy Aeppel em Milwaukee)

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