Human Rights Watch liga milícias pró-junta militar a massacre em Burkina Faso

(Reuters) - Milícias aliadas à junta militar de Burkina Faso foram associadas a um massacre "horrível" no oeste de Burkina Faso, que deixou dezenas de mortos nesta semana, disse a Human Rights Watch (HRW)na noite de sexta-feira.

Vídeos do incidente postados nas redes sociais mostram homens armados vestindo uniformes de milícias que se formaram para ajudar o governo na luta contra grupos islâmicos, disse em comunicado a ONG de defesa dos direitos humanos, sediada em Nova York.

Os vídeos mostram 58 pessoas, incluindo mulheres e crianças, "que parecem estar mortas ou morrendo", disse a organização, acrescentando que o número real pode ser maior, pois os corpos estavam empilhados uns sobre os outros.

O porta-voz do governo, Pingdwende Gilbert Ouedraogo, disse neste sábado que as imagens nas redes sociais constituíam uma "campanha de desinformação" de "informações falsas destinadas a minar a coesão social".

Em um comunicado, ele afirmou que as milícias, juntamente com o exército, estavam lutando contra "terroristas" quando descobriram mulheres, crianças e idosos que estavam sendo usados como escudos humanos.

O comunicado afirma que as milícias e o exército "neutralizaram" cerca de 100 "criminosos".

A HRW disse que as vítimas parecem ser da etnia Fulani, um grupo que as autoridades acusam de apoiar grupos ligados à Al Qaeda e ao Estado Islâmico.

"Os vídeos horríveis de um aparente massacre por milícias pró-governo em Burkina Faso ressaltam a falta generalizada de responsabilização dessas forças", disse Ilaria Allegrozzi, pesquisadora sênior do Sahel na HRW, no comunicado.

O incidente ocorreu na cidade de Solenzo e arredores nos dias 10 e 11 de março, disse o grupo de direitos humanos.

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Os homens nos vídeos estão vestindo uniformes identificáveis dos Voluntários de Defesa da Pátria, acrescentou.

"À medida que o conflito armado em Burkina Faso entra em seu nono ano, as forças de segurança e suas milícias aliadas e grupos armados islâmicos estão cometendo crimes graves contra uma população exausta, sem medo de consequências", disse Allegrozzi.

O país do Sahel e seus vizinhos Mali e Níger estão lutando contra uma insurgência jihadista que se espalhou pela região desde que se enraizou no Mali, há 13 anos.

O governo militar de Burkina, que tomou o poder em um golpe em 2022, enfrentou críticas de grupos de direitos humanos por medidas que tomou em nome da segurança nacional.

Grupos de direitos humanos e as Nações Unidas têm repetidamente acusado tropas do Mali e de Burkina de abusos graves cometidos contra civis suspeitos de colaborar com os jihadistas. Ambos os exércitos negam irregularidades.

(Reportagem da redação de Dakar; texto de Robbie Corey-Boulet e Portia Crowe)

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