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Próteses "de luxo" customizadas ajudam pacientes com deficiência a viverem melhor

09/07/2018 23h00

Conheça o trabalho da start-up francesa Handy Bionic, precursora das proteses sob medidas "made in France". Os equipamentos pouco a pouco se transformam em acessórios e ajudam na integração social de deficientes.

Como viver normalmente sendo deficiente físico ou portador de uma doença crônica visível, como no caso do diabetes, que obriga os pacientes a tomar injeções de insulina em público? Para crianças e adultos que precisam usar equipamentos, próteses ou medicamentos que exigem a adoção de um dispositivo, o fato de ser diferente pode trazer problemas sociais, de aprendizado e de autoestima. Além disso, essas dificuldades podem comprometer o tratamento.

Visando esse público, o mercado do design voltado para a saúde aos poucos se desenvolve na França e em outros países. O consumidor, exigente, se assume cada vez mais. Nas últimas décadas, os óculos se transformaram em acessórios de moda. As bombas de insulina ganharam uma versão miniatura e os gessos brilham no escuro.

Agora, são as próteses que substituem braços e pernas são customizadas em função da personalidade e dos desejos do paciente. Isso graças à emergência da impressão 3D, que reproduz com precisão um membro amputado e que revolucionou o trabalho dos protesistas.

A start-up francesa Handy Bionic, fundada em 2012 e dirigida por Guillaume Bonifas, é uma das pioneiras do setor. No local, situado no 14° distrito de Paris, ele fabrica principalmente mãos biônicas sob medida. Elas podem ser discretas ou coloridas, ou fazer referências a personagens ou super-heróis, no caso de crianças, por exemplo. Segundo o ortesista francês, a internet teve um papel fundamental no desenvolvimento do mercado das próteses customizadas.

“Há fóruns onde os pacientes se encontram para discutir e há ideias que emergem. Paralelamente, surgiu a impressora 3D e muitos laboratórios de inovação digital, que passaram a ser frequentados por pacientes que não encontravam o que queriam consultando os profissionais existentes. Isso permitiu a emergência de uma atividade de fabricação de próteses diferentes.”

Apropriar-se da diferença e transformar o aparelho quase em um acessório, como no caso dos óculos, tornou-se então uma evidência, explica Bonifas.

“Trabalho na área desde os anos 2000, e rapidamente, em contato com os pacientes, percebi a diferença de personalidade entre eles. Alguns preferem a discrição e a sobriedade. Outros querem afirmar sua diferença através de sua vivência e deficiência, de maneira positiva, utilizado uma prótese que vai valorizá-las”, diz Guillaume Bonifas, que logo compreendeu que precisava oferecer as duas opções aos clientes.

Desta forma o equipamento, ressalta, deixa de ser um dispositivo médico para se transformar em um objeto do cotidiano. Essa relação com a prótese traz benefícios psicológicos, como no caso das crianças que usam membros biônicos. De acordo com o ortesista, a associação E-nable.fr, que fornece gratuitamente próteses robotizadas coloridas para crianças, investiu mais no bem-estar mental do que na sofisticação do equipamento, com sucesso.

“São próteses coloridas, que se mexem. Parecem com um brinquedo, aliás são até um pouco frágeis. Mas ajudam muito na integração social da criança. Quando ela vai para a escola com uma mão dessas, de super-herói, é muito valorizador”.

Especialista da mão

A empresa Handy Bionic, como o próprio nome diz, é especializada nas próteses que substituem as mãos total ou parcialmente. Elas são idênticas a uma mão de verdade, não só visualmente, mas também na textura. Os materiais utilizados são silicone e fibra de carbono e o aparelho é fabricado manualmente pela equipe do protesista, que o faz sob medida.

Ela deve ser customizada para o paciente, que a testa diversas vezes antes de adotá-la no dia a dia. Em alguns casos, essa fase de testes pode durar até um ano. A start-up francesa também fabrica, por exemplo, acessórios que possibilitam a uma pessoa que perdeu uma mão surfar utilizando um aparelho que lembra uma pequena nadadeira.

O empresário também lembra que os atletas paralímpicos contribuem para a popularização do uso das próteses. Guillaume Bonifas cita, por exemplo, Viktoria Modesta, uma cantora e modelo profissional da Letônia que teve a perna esquerda amputada do joelho esquerdo para baixo e utiliza “próteses extraordinárias”.

Ele lembra, entretanto, que tudo tem um custo, e que o equipamento customizado equivale "a uma peça de roupa de alta-costura". Para se ter uma ideia, na França, o preço de uma prótese comum feita sob medida chega a € 40 mil – reembolsado em sua totalidade pela Seguridade Social. Mas esse valor pode subir dependendo dos materiais e da customização.