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Viúva de dissidente chinês morto em 2017 chega a Berlim

10/07/2018 16h23

Foram oito anos de prisão domiciliar.

A poetisa de 57 anos desembarcou ao meio dia, pelo horário de Brasília, e saiu por um acesso privado para evitar a multidão de jornalistas e ativistas que a esperavam na Europa. A partida da China acontece após meses de protestos de organizações de direitos humanos sobre o governo chinês para que ela pudesse deixar o país.

Liu Xia, que nunca foi condenada, desembarca na Alemanha a poucos dias do primeiro aniversário da morte de seu marido, que aconteceu em 13 de julho de 2017.

Escritor, professor universitário e fervoroso defensor dos direitos humanos na China, Liu Xiaobo morreu de câncer no fígado enquanto cumpria sentença de 11 anos de prisão por subversão. O dissidente Liu Xiaobo participou dos protestos da Praça Tiananmen (Paz Celestial) em 1989 e fora condenado, em 2009 por ter assinado um pedido de eleições livres na China.

As autoridades chinesas asseguram que Liu Xia é livre e goza de todos os seus direitos. Porém, de acordo com amigos da viúva, ela sofre de uma grave depressão e estava impedida de viajar desde 2010, quando seu marido venceu o Prêmio Nobel.

Vida nova na Europa

Liu Xia embarcou em um voo da Finnair e deixou Pequim rumo a Helsinque, capital da Finlândia, antes de seguir para a Alemanha. De acordo com seu irmão mais novo, Liu Hui, a poetisa quer começar uma vida nova na Europa. Foi o que ele escreveu em seu dispositivo de mensagens eletrônicas, conforme mostra uma imagem apresentada por um parente deles à agência de notícias Reuters. Liu Hui foi condenado pelos tribunais chineses por fraude, em 2013.

A viúva de Liu Xiaobo era vigiada pela polícia política da China e continuou sob esse regime após a morte do marido, apesar das declarações das autoridades chinesas de que ela estava em liberdade. Em maio, cinco diplomatas ocidentais tentaram visitá-la, mas foram impedidos pela polícia sem qualquer explicação. Estados Unidos, União Europeia e o Alto Comissariado da ONU para os Direitos Humanos pediam sua libertação à Pequim.

Em uma recente ligação telefônica bastante emotiva a um amigo, o escritor chinês Liao Yiwu, ela disse: "Terão que acrescentar uma frase na Constituição que diga, 'Amar Liu Xiaobo é um crime grave, é uma sentença para a vida'".

A saída de Liu Xia acontece dois meses após a visita da chanceler alemã Ângela Merkel a Pequim. Também em maio, vários escritores e artistas reconhecidos, entre eles Michael Chabon, Paul Auster e Khaled Hosseini, pediram que Liu Xia fosse autorizada a passar por um tratamento médico no exterior.

"É realmente maravilhoso que Liu Xia seja finalmente autorizada a abandonar a China depois de tudo que sofreu nos últimos anos", afirmou Patrick Poon, da ONG Anistia Internacional. Poon, no entanto, expressou preocupação com o destino do irmão de Liu Xia, Liu Hui, que permanece na China.