Eleitores do Camboja boicotam legislativas para denunciar abuso de poder do governo
Com informações da correspondente da RFI em Phnom Penh, Juliette Buchez
A votação se encerrou e as apurações já começaram no Camboja. Os primeiros resultados devem ser anunciados na noite deste domingo. A previsão, no entanto, é que a abstenção seja a grande vencedora, já que a oposição convocou a população a boicotar a votação.
O motivo é que o pleito tem o principal objetivo de renovar o mandato do premiê Hun Sen, de 65 anos. O homem forte do Partido do Povo Cambojano (CPP) está há 33 anos no poder.
No total, 19 pequenos partidos - entre eles, novas formações acusadas de ajudar a legitimar a votação -, competiram contra o partido de Hun Sen. A principal força da oposição, o Partido para a Salvação Nacional do Camboja (CNRP) foi dissolvido no final de 2017 por decisão judicial e seu líder, Kem Sokha, está desde então na prisão.
Além de eliminar seu principal concorrente, Hun Sen também reprimiu a mídia independente e tentou convencer os eleitores que a oposição agia ilegalmente. "Tomamos ações legais para eliminar os traidores que tentaram derrubar o governo", disse recentemente o premiê à uma multidão de simpatizantes.
Tanto Washington como Bruxelas retiraram seu apoio à organização dessas eleições, ressaltando a falta de credibilidade do pleito. Já defensores dos direitos humanos e a oposição as descreveram como um sério revés para o processo democrático no Camboja.
Todas as atenções voltadas para a participação
Com um resultado já conhecido de antemão, o foco se concentra na taxa de participação. Na manhã deste domingo, as ruas da capital Phnom Penh estavam mais vazias do que o normal. Os eleitores que decidiram ir votar não demonstravam entusiasmo.
Contrariamente às últimas eleições, em 2013, tudo foi feito para incentivar os cambojanos a votarem. A maioria das empresas chegou a dispensar os funcionários para que eles participassem do pleito.
Do exílio, a oposição fez campanha para que a população boicotasse a eleição, recomendação seguida por muitos. Vários abstencionistas cambojanos temem, no entanto, ser vítimas de represálias e ter até mesmo problemas no futuro para renovar ou obter documentos, por exemplo.
Antes mesmo da apuração, o partido de Hun Sen previa uma grande vitória. Mas entre os eleitores decepcionados e o apelo pelo boicote, a taxa de participação deve atrair todos os holofotes.
Seis eleições
O Camboja já realizou seis eleições desde 1993, depois que o país emergiu de várias décadas de guerra civil.
Hun Sen se apresentou como o salvador da pátria após os estragos do regime do Khmer Vermelho, embora tenha sido membro deste grupo ultramaoísta (1975-1979), que matou um quarto da população do país.
Mas a indignação com a corrupção generalizada entre a população jovem, com aspirações de modernidade e pouca memória dos horrores praticados pelo Khmer, colocou em risco a longevidade do CPP nas eleições anteriores.
Os votos dos jovens ajudaram a oposição a obter mais de 44% dos votos nas eleições de 2013 e uma porcentagem similar nas eleições locais do ano passado. Diante deste novo cenário, a Suprema Corte do Camboja dissolveu o partido opositor em novembro de 2017 e abriu o caminho para a clara vitória de Hun Sen neste domingo.
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